Luther King, Billy Graham e a lição que precisamos aprender por Jénerson Alves*

O século 20 ficou marcado pela influência de dois líderes cristãos norte-americanos: o evangelista Billy Graham e o reverendo Martin Luther King Jr. Como é de amplo conhecimento, o primeiro proclamou o Evangelho da Graça para milhões de pessoas, com uma mensagem envolvente; o segundo, através do conhecimento bíblico, foi um ativista em prol dos direitos humanos e contra a segregação racial na terra do Tio Sam. Ambos inspiraram o mundo.

Apesar das semelhanças, os dois também são marcados por distinções. De modo geral, entende-se que o posicionamento de Billy Graham era unicamente espiritual, enquanto o de Luther King gerava uma transformação social. Há quem diga que o dr. Billy pregaria para os escravos, converteria suas almas e os mandaria voltar aos campos, enquanto Luther King também pregaria, mas os conduziria à Terra Prometida. O contraste é válido, porém a realidade pode ser mais complexa, e refletir sobre isso pode promover uma ampliação de nosso entendimento para o atual cenário da igreja e da sociedade brasileira.

Afinal, Graham e King mantinham boa relação. Historiadores lembram que King foi convidado por Graham para uma cruzada em Nova Iorque, no ano de 1957. O ato tornou-se um emblema da aproximação entre as igrejas frequentadas por brancos em um posicionamento contrário ao segregacionismo. Três anos depois, o reverendo negro foi preso durante um protesto, e a fiança foi custeada por Billy Graham. 

Vale lembrar que naquele mesmo ano (1960), o revdo. Martin Luther King Jr. e o dr. Billy Graham estiveram juntos no X Congresso da Aliança Batista Mundial, que foi realizada no Rio de Janeiro. Em matéria publicada à época pelo jornal Correio da Manhã, ficou registrada a preocupação de Graham com questões sociais, como guerras, misérias, crimes e sofrimento, apontadas em seu sermão, traduzido simultaneamente pelo pastor João Soren. Segundo a matéria, o preletor “(…) desenvolveu o seu sermão, para concluir que o homem só poderá encontrar paz, segurança e a solução dos seus problemas quando aceitar a Cristo como Salvador”.

Certamente, esse era o mesmo tipo de mensagem proferida nos púlpitos pelo pastor Martin Luther King! Exemplo claro está em um de seus belos sermões, intitulado ‘As Três Dimensões de Uma Vida Completa’, King enfatizou: “Estou aqui hoje para dizer a vocês que nós precisamos de Deus. O homem moderno talvez saiba muita coisa, mas seu conhecimento não prescinde de Deus. Digo a vocês esta manhã que Deus está aqui para ficar”. 

Ora, é claro que havia distinções entre o ‘modus operandi’ dos dois líderes. Entretanto, tenho certeza de que a Fonte era a mesma. O amor a Deus fazia Graham abrir os olhos para a eternidade; e esse mesmo amor fazia King preocupar-se com a dignidade aqui na terra. Pelo que podemos perceber, eles entendiam que as duas óticas não eram excludentes, mas complementares. Acredito que esta é uma lição que precisamos aprender: abraçar o outro, mesmo quando sua postura não é cem por cento igual à nossa. Para tanto, devemos enxergar a presença divina em nosso próximo. Minha oração é que neste século surjam no Brasil vozes proféticas semelhantes às de King e Graham, com ações práticas que nos sirvam de exemplo para que possamos, de fato, viver como irmãos.

*Jénerson Alves é jornalista e membro da Igreja Batista Emanuel em Caruaru-PE

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