150 anos de Igreja Batista no Brasil: influência além da fé Jénerson Alves
O ano 2021 marca o sesquicentenário da Igreja Batista no Brasil. Em 10 de setembro de 1871 foi fundada a Igreja Batista de Santa Bárbara d’Oeste, em São Paulo, a primeira da denominação em solo brasileiro. Coordenada pelo pastor Richard Ratcliff, a membresia eclesiástica era formada por colonos norte-americanos sulistas, derrotados na Guerra de Secessão, e a liturgia ocorria em inglês. Assim, a primeira via de inserção batista no Brasil se deu através da imigração; o movimento missionário da denominação religiosa só chegou ao país em 1882.
Ao longo desses 150 anos, a denominação se espalhou pelo Brasil, trazendo impactos para toda a sociedade. De acordo com o site da Convenção Batista Brasileira (CBB), órgão máximo da denominação no país, há 8.753 igrejas, 4.944 congregações e 1.706.003 de fiéis. Cada igreja local é autônoma, cooperando voluntariamente entre si. No entanto, princípios e cosmovisões batistas estão ‘impregnados’ em várias dimensões sociais da atualidade. A separação entre Igreja e Estado; a educação e a liberdade de consciência são alguns dos princípios considerados como inalienáveis pela doutrina batista.
Tanto os colonos norte-americanos quanto os missionários trouxeram em seu ‘DNA’ a cosmovisão batista de separação entre Igreja e Estado. Esse é um posicionamento das raízes do movimento, datado no século XVII e advindo dos puritanos e separatistas ingleses. Naquela época, o grupo sofreu perseguição por defender ideais como esse, e teve de refugiar-se em países como a Holanda e nas colônias norte-americanas.
Todavia, observando a expansão dos batistas no Brasil, é evidente o zelo do grupo com relação à educação de qualidade, tanto secular quanto teológica. Para os batistas, fé e razão aliam-se no conhecimento verdadeiro. Colégios e seminários foram abertos, com o intuito de equilibrar o crescimento numérico e a solidez intelectual. Na educação religiosa, podemos citar o Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil, organizado em Recife-PE por Salomão Ginsburg em 1902, e o Seminário Teológico Batista do Sul, fundado em 1908 no Rio de Janeiro. Na educação secular, entre outros, destacam-se o Colégio Taylor-Egídio, fundado em 1898 na Bahia, e o Colégio Americano Batista do Recife, em funcionamento desde 1906.
Outro princípio caro aos batistas e infundido no conjunto social é a liberdade de consciência. O documento ‘Princípios Batistas’, da CBB, afirma: “Os batistas consideram como inalienável a liberdade de consciência, a plena liberdade de religião de todas as pessoas. O homem é livre para aceitar ou rejeitar a religião; escolher ou mudar sua crença; propagar e ensinar a verdade como a entenda, sempre respeitando direitos e convicções alheios; cultuar a Deus tanto a sós quanto publicamente; convidar outras pessoas a participarem nos cultos e outras atividades de sua religião; possuir propriedade e quaisquer outros bens necessários à propagação de sua fé. Tal liberdade não é privilégio para ser concedido, rejeitado ou meramente tolerado – nem pelo Estado, nem por qualquer outro grupo religioso – é um direito outorgado por Deus”. Essa ótica, inclusive, permeia a compreensão do batismo voluntário, tópico explícito no nome do grupo religioso.
Ademais, a denominação está presente na sociedade através de trabalhos como a Operação Jesus Transforma, realizando impactos sociais em regiões carentes; construindo e mantendo asilos e orfanatos; e desenvolvendo projetos como a Cristolândia, que ajuda na recuperação de dependentes de crack, com presença nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Pernambuco, Alagoas, Bahia, Paraná, Distrito Federal e Goiás.
Neste ano, através da Junta de Missões Nacionais, a Igreja Batista está lançando a campanha ‘Jesus Cristo é a única esperança’, como uma resposta cristã ao atual momento de incerteza e medo. Em meio a tantas vozes opostas e dissonantes, desejamos que a mensagem batista sinalize para a Fonte Eterna de Amor apaziguadora das inquietações da alma humana.
Jénerson Alves é jornalista e professor na Igreja Batista Emanuel em Caruaru
Comentários
Postar um comentário