Organização cristã completa dez anos ajudando pessoas em situação de rua, em São Paulo



De Santo André, na Grande São Paulo, uma entidade de orientação cristã evangélica mostra que a reabilitação de marginalizados não passa, necessariamente, por internações, tratamentos de desintoxicação ou outras modalidades tradicionalmente empregadas a este público. Ali, o que faz a diferença é a experiência comunitária, a delegação de responsabilidades e, sobretudo, o cuidado de um pelo outro. Atuando há dez anos de maneira ininterrupta, a Missão Sal atende moradores de rua ou prostitutas que, geralmente, são identificados como desajustados, mas que, ali, são conhecidos pelo nome, têm a dignidade respeitada e a oportunidade de dar uma guinada na vida. E o maior motivo de transformação não é outro senão o evangelho de Jesus Cristo. 

O nome da missão faz menção ao trinômio “salvação, amor e libertação”, e é exatamente isso que centenas de pessoas já encontraram ali. Tantas, que o pastor de confissão batista, Paulo Cappelletti, fundador e dirigente do trabalho, perdeu a conta. “Minha esposa Silvia e eu decidimos não contar a quantidade de pessoas que foram atendidas nesses dez anos, nem mesmo fazer fichas”, simplifica o missionário. Cappelletti, um engenheiro mecânico que estudou Teologia e tem mestrado em Missões Urbanas, é um veterano em empreendedorismo social e lidera uma pequena equipe de voluntários que se dividem entre a Comunidade Nova Chance, na sede, e outras três unidades no Estado de São Paulo. 

O método de trabalho, se é que se pode chamar assim, é bem pouco convencional. Na Missão Sal, não há um regime rígido de horários e disciplina. O pastor explica que a ênfase é nos relacionamentos: “Procuramos oferecer-lhes uma experiência de família, que muitos não têm, através do convívio e do amor que há em Cristo Jesus”. Por isso, o pessoal atendido não é chamado de “assistidos” ou “abrigados”, e sim, de família. Uma companhia que, segundo Cappelletti, tem sido uma experiência maravilhosa para si mesmo e sua própria família – o pastor é casado e tem dois filhos. “Nossa proposta é de uma missão relacional que se inicia nas ruas dos centros urbanos, até que alguns cheguem a morar juntamente conosco para que percebam o quanto é bom viver com Cristo.”

Amor que impulsiona

O processo não é simples. O ambiente social em que a Missão Sal trabalha é complexo e problemático. Há gente que chega com vícios em drogas ou álcool e um histórico de desajustes. Perseverança, rotina e constância na evangelização são essenciais. “Para que as pessoas comecem a ter confiança no missionário, muitas vezes, são muitos anos de amizade e cuidado até que alguém queira sair dessa vida para experimentar a verdadeira vida com Cristo.” 

Na Missão Sal, atenção especial é dada às crianças. Cerca de 150 meninos e meninas contam com oficinas de música, informática e capoeira, e reforço escolar em matemática e português. Os obreiros também atuam em zonas de prostituição e nas diversas “cracolândias” espalhadas pela Região Metropolitana de São Paulo.

Para uma instituição que começou se sustentando com lixo reciclado, a atual crise econômica não chega a assustar tanto. Mesmo assim, como os recursos vêm de ofertas de igrejas, instituições e pessoas físicas, os tempos estão, realmente, bicudos. “Vivemos, dia após dia, contando moedas”, brinca o pastor Cappelletti. Os missionários não têm remuneração e todas as entradas são direcionadas para o custeio e ampliação das atividades. 

Um dos novos projetos da Sal entrou em funcionamento em outubro. Trata-se de uma carreta de saúde, com profissionais voluntários, para atender cidades que não têm acesso a serviços públicos de qualidade nesta área. Também há previsão de construção de novas acomodações, a fim de melhorar e aumentar a capacidade de atendimento. Conforme o projeto vai avançando, Paulo Cappelletti diz que “O amor ao Senhor tem sido, e sempre será, o que nos impulsiona a continuar”.

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