MEU DESENCANTO COM A FÉ CRISTÃ. Eliel Batista

Tenho uma vocação que brotou com força na minha adolescência.
Ela não me deixa sossegar. Há uma força dentro de mim que não me deixa dizer não.
Não almejei, em primeiro lugar, ser pastor. Desejava, apenas, fazer com que as pessoas pudessem ser melhores pessoas.
Que aqueles que sofrem pudessem encontrar no mínimo o consolo e crendo que isso ocorre por meio do Evangelho de Jesus.
Confesso que tenho um desencanto com a fé cristã, no entanto, o problema não está na vocação e certamente não está no Evangelho.
Descobri que está no fato de ter me iludido, acreditando naqueles que engolidos pelo sistema religioso demoníaco, me passaram a ideia de que todo o paramento eclesiástico existente é a base para se ter um cristão.
Inocente entrei na lida.
Crédulo, acreditei que os mais “experientes líderes eclesiásticos” estariam certos, por isso, por um tempo acabei ajudando a perpetuar as estruturas nefastas do poder eclesiástico me submetendo a elas. Foi quando me descobri, mais abusado do que amado, mais útil do que importante.
Aclamado como “santo homem de Deus” quando subserviente aos requintes de manipulação. Demonizado quando desejoso em ver os filhos de Deus vivendo a liberdade com a qual Cristo libertou.
Encontrei pastores vendendo ovelhas para políticos.
Vendendo templo como se fosse ponto comercial.
Ganhando salários polpudos enquanto os fiéis gratuitamente faziam o trabalho que era deles.
Pastores cercados por leões de chácara, arrogantes, inacessíveis, insensíveis pela dor alheia. Envolvidos com prostituição, espancadores de esposa.
Transformadores da “casa de oração para todos os povos” em “esconderijo de ladrões”. Por serem mercenários sentem-se protegidos dentro dos templos construídos em sua própria honra, sob o falso manto da unção divina.
Escondem-se também atrás de um cansaço, cuja prova está apenas no passado, na época em que fizeram alguma coisa até alcançarem o que sua cobiça tanto almejava. Hoje apenas sentam-se em suas cadeiras imperiais acumulando gordura, pois não gastam nenhuma energia com o pastoreio.
Conheci mulheres de tais pastores reprimidas e oprimidas canalizando o ódio reprimido contra os fiéis, principalmente contra as mulheres as quais deveria se identificar, mas acabavam por se tornarem abusadoras das fiéis colocando-as sob subserviência. Parecem vingarem para que nenhuma delas desfrute da Paz de Cristo.
Presenciei famílias donas de igreja, mandando e desmandando em nome de uma teocracia, completamente insana.
Me deparei um povo sofrido, batalhador, crendo na pureza e beleza do Evangelho sendo usado como massa de manobra para projetos megalomaníacos, para projetos pessoais financeiros.
Verdadeiros cambistas da fé que me enojam, causam revolta. Não promovem cultos como um encontro de família: o Pai Celestial e seus filhos.
Promovem eventos que visam mobilizar uma massa para satisfazerem seus próprios instintos animalescos.
Entre esses, há aqueles pastores que desistiram.
Não deixaram de ser pastores, mas de pastorear.
Hoje eles culpam as ovelhas por todos os seus infortúnios, tristezas e dissabores e sua única relação com as ovelhas é para tosquia, pois são indiferentes à vida do povo.
Morrerão se lamentando às escondidas, pois certamente, bem lá no fundo da alma, sabem que não são os “heróis de Deus”, pelo menos não para Deus, apesar de toda a aclamação popular mediante a massificação midiática. Trabalharam para terem “um nome sobre toda a terra e uma torre que tocasse os céus”, porém perderam-se na profundidade do inferno existencial.
Depois de tudo isso, e mais, repensei minha fé, minha vocação e minha religião.
Sou cristão, tenho uma vocação não dada por homem algum, creio no Evangelho e por ele me dedicarei mais.
Não permitirei que os lobos vestidos de cordeiros, os mercenários, os demônios travestidos de anjos de luz determinem a minha fé, meus valores, como traçarei meu caminho vocacional e como viverei.
Esforço-me vigilante para que somente Cristo e o seu Evangelho tenha em minha vida esse poder, força e direito. Porque tudo aquilo que tenho de Cristo, aquilo que com ele vivi e vivo, deixou evidente que esse mundo religioso demoníaco não tem absolutamente nada a ver com o Reino de Deus.
Por isso sou e serei contra toda e qualquer estrutura, em nome de Deus ou de si mesma, que se coloque acima do humano, que não reconheça a dignidade humana em todos. Que não dê voz aos calados, que não coloque em movimento os imobilizados, que não acolha os excluídos, que não respeite as pessoas em suas realidades, que não as ajudem a transformarem sua existência para melhor. Não posso admitir qualquer estrutura, muito menos uma que se diga cristã, que coloque o humano como um escravo que tem que sublimar seu intelecto, tolher sua liberdade, desrespeitar seus limites e sonhos em nome de alimentar a estrutura eclesiástica.
É importantíssimo que igreja não seja prateleira de serviços divinos, despachante político, agência de entretenimento para juntar multidão ou um supermercado da fé que vende ilusão.
Me oponho a que pastor, enquanto pastor, seja coach ou confundido com um empresário.
À pregação ser palestra de empreendedorismo ou propaganda promocional de produtos celestiais, tais como, livramentos, proteção e solução rápida de todos os problemas.
A culto ser show para arrecadar dinheiro e mais ainda ao uso milagres para saquear os inocentes e encher contas bancárias.
Eu tenho um sonho. Simples, nada fácil, mas imprescindível, que a igreja seja profética, a pregação seja o Evangelho e o pastor seja pastor.
Será que é muito?
elielbatista.com

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