Carta Aberta dos Pastores da Betesda por Ricardo Gondim

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O Brasil atravessa um período particularmente difícil. Testemunhamos a deterioração do quadro político, com graves denúncias de corrupção. 

Nitidamente observamos a falência da segurança pública e a do Estado em prover os direitos dos cidadãos com educação, moradia, saúde e mobilidade.

Diante do momento frágil em que nos encontramos, nós, pastores e líderes da Betesda, sentimos o dever de nos posicionar:


1. Entendemos que é vocação da igreja tomar o lado do que é justo e direito. Sempre, diante de qualquer opressão, devemos ouvir o clamor do povo. (Êxodo 3.7). 
Sempre que o salário for reduzido a níveis de miséria Deus convoca o seu povo a clamar em 
seu nome para que o direito volte a valer (Tiago 5). 
Sempre que acontece desprezo pelos mais vulneráveis em nome do lucro, existe pecado (Judas 11).
Se a igreja não dispor de resposta nenhuma sobre a sorte de milhões, ela não deve estranhar se a sua geração tratá-la como alienada, omissa ou conformada. 
Uma comunidade cristã tem como imperativo cuidar dos órfãos e das viúvas em suas carências- metáfora do empobrecido (Tiago 1.27).

2. Entendemos que o atual governo atropela direitos trabalhistas constitucionais por interesses questionáveis. 

Estamos solidários com movimentos sociais, associações, Igrejas Católica, Presbiteriana, Episcopal Anglicana, Luterana, Metodista, escolas, tribunais de justiça e outros setores da sociedade a favor de greve e de todas as outras formas legais que objetivam pressionar os políticos a não incorrerem no pecado que Amós denunciou: “Vocês oprimem o justo, recebem suborno e impedem que se faça justiça ao pobre”. 
Os salários pagos no Brasil já eram aviltantes, agora fragilizam ainda mais as relações de trabalho. 
Isso significa destruir a capacidade de negociação entre patrões e empregados. Miqueias pergunta: “Poderia alguém ser 
justo com balanças desonestas e pesos falsos”?

3. Entendemos que a igreja não pode contentar-se em anunciar somente temas sobre o sobrenatural. Ela se encontra historicamente inserida como corpo vivo em um contexto político, social e econômico. 

Sua ação extrapola, portanto, a denúncia de pecados individuais. 
Ao Corpo de Cristo compete responder às demandas da justiça, da solidariedade e da compaixão sociais. Caso a Igreja se omita, ela pode incorrer no grave pecado do indiferentismo. 
Em época de extrema gravidade, omissão e apatia negam compromisso com o reino de Deus.


Precisamos esclarecer que:
1. Não militamos por nenhum partido político. A igreja, por ser comunidade com inúmeros membros, NÃO tem filiação partidária. NÃO subscreve a agendas político-partidárias. NÃO coliga com candidatos. NÃO defende bandeira ideológica de esquerda ou de direita. 

Militamos a partir da nossa identidade com a mensagem dos Evangelhos quando inclui o proscrito, traz esperança para o discriminado, verdade para o iludido e salvação para o perdido.

2. Não enquadramos nossa fé em nenhuma teologia específica. Embora encontremos pontos de contato, NÃO repetimos acriticamente os postulados da Teologia da Libertação, Teologia da Missão Integral, Teologia Liberal, Teísmo Aberto, Teologia 

Evangélica ou qualquer outro sistema doutrinário. 
Procuramos, no diálogo, uma espiritualidade que transcende a rigidez de qualquer dogmatismo. 
Só nos interessamos em crescer na verdade e essa determinação rejeita espaço para sectarismo, partidarismo e fundamentalismo.

3. Os pastores da Betesda têm liberdade, como indivíduos e cidadãos, de expressarem pontos de vista e convicções através de redes sociais, sites, jornais, revistas ou quaisquer meios que acharem conveniente. Independente do meio, nos comprometemos a respeitar quem pensa e acredita diferente de nós. 

Seremos gentis, cordiais e tolerantes com todos. Jamais admitiremos discussão e bate-boca em clima de deboche e descaso.


Ricardo Gondim
27/04/2017

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