“Enquanto cidadão, o cristão pode votar e ser votado”
Erick Lessa |
Aos 38 anos de idade, o delegado Erick Lessa se destaca
por ter liderado operações que impactaram
o Agreste de Pernambuco. Casado há 10 anos e pai de uma menina de 6
anos, Lessa é alagoano, mas reside em Caruaru desde 2008. Cristão evangélico, é
batizado nas águas há cinco anos. Além da formação secular celebrada na
sociedade, Erick Lessa é bacharel em Teologia. Nesta entrevista exclusiva a
'Presentia', ele aborda questões como a relação entre o cristão e a política e
apresenta um discurso a favor da excelência no serviço público. Confira:
A teologia cristã traz a ideia de 'salvação pessoal'. O
senhor acha que esse conceito reverbera em um certo 'egocentrismo', de modo que
o cristão fica muito voltado para si mesmo? Qual seria, então, o papel do
cristão com relação à política?
Teologicamente, eu também entendo a salvação como pessoal,
quando o ser humano confessa Jesus Cristo como único e suficiente Senhor e
Salvador. Porém, a Bíblia nos mostra que é necessário iluminar todas as áreas
onde estamos inseridos. É necessário iluminar não só com palavras, mas também
com atitudes, com posições firmes, mesmo respeitando as outras opções. Não
podemos esquecer que a cruz é a nossa bandeira principal. Acredito que o
Evangelho também tem a questão do movimento social, das causas sociais. Enquanto cidadão, o cristão pode votar e ser
votado. Ele pode escolher se vai representar apenas um movimento social ou
se vai representar toda a sociedade. A Palavra de Deus diz que quando um justo
governa, o povo se alegra. Todavia, acredito que o cristão deva se posicionar
no campo político, mas também na educação, na saúde, na segurança, nos
ambientes onde ele estiver inserido. Além de viver a salvação pessoal,
precisamos contagiar as outras pessoas, empenhados em trazer o reino de Deus –
justiça, amor e paz – para a terra, conforme está na oração do Pai Nosso.
Muitos cristãos dizem que não se envolvem com política, pois
é um ambiente muito corrupto. O que o senhor pensa sobre isso?
Se existe corrupção na política, é porque existe corrupção
em outras esferas da sociedade, inclusive nas igrejas. Precisamos ser muito
honestos. É necessário sair das quatro paredes da igreja, mostrando que somos
honestos, sérios e contrários à corrupção. A igreja precisa influenciar, não
ser influenciada, para assim refletir a luz de Cristo na sociedade.
Homens como Martinho Lutero e João Calvino escreveram sobre
a política. Além disso, temos na Bíblia exemplos de homens como José do Egito,
Daniel e Mardoqueu, que foram servos de Deus que assumiram espaços como
lideranças políticas.
"Além de viver a salvação pessoal, precisamos contagiar as outras pessoas, empenhados em trazer o reino de Deus – justiça, amor e paz – para a terra, conforme está na oração do Pai Nosso." Eric Lessa |
É importante salientar que Deus está na Constituição da
República do Brasil, ao final do preâmbulo, onde cita “a proteção de Deus”. No
entanto, a Carta Magna demonstra que o Brasil é laico, ou seja, não professa
nenhuma religião. Entendo que nosso país é teísta, mas não confessional. Assim
sendo, o governante deve administrar para todos, respeitando a liberdade
religiosa, sem fundamentalismo nem radicalismo. É necessário respeitar a religião,
a etnia e a fé das outras pessoas.
Por exemplo, recentemente, foi divulgada uma notícia que um
adolescente de 14 anos foi agredido por cristãos fundamentalistas porque ele é
adotado por um casal gay. Mesmo entendendo que a família é composta por homem,
mulher e filhos, não posso entrar com violência e agressão contra tem uma
opinião diferente.
De que forma o cristão percebe sua vocação política?
Acredito que, em primeiro lugar, é necessário desmistificar
a palavra 'política'. Costumo dizer que política começa em casa. Porém, a
política tem a ver com a 'res-pública', ou seja, a coisa do povo. O cidadão
também é dono da Prefeitura de Caruaru, ou seja, de toda a coletividade da
cidade. É mais ou menos como um condômino de um prédio. Quanto à vocação, é
necessário que as pessoas ao redor reconheçam-no como uma liderança. Assim
sendo, as pessoas decidem se votarão nele ou não. Muitas vezes, se o cristão se
abstém de ser votado, termina sendo governado por pessoas com pensamentos
completamente contrários aos nossos princípios de promover uma sociedade mais
justa.
O senhor concorda que, nos últimos anos, os cristãos no
Brasil têm se manifestado politicamente apenas em pautas morais, como o
casamento homoafetivo e o aborto, deixando de lado outros temas?
Muito boa a pergunta. Sem dúvida, o cristão muitas vezes
esquece que também é cidadão e precisa ter posições firmes não só a questões
teológicas, mas quanto ao exercício da cidadania. Será que o cristão se lembra
de quem votou nas últimas eleições? Será que ele acompanhou o mandato do seu
candidato? Quais são as posições cristãs quanto à sustentabilidade, à economia,
à saúde, à segurança ou à educação? Ora, se não tivermos uma educação de
qualidade, como formaremos as próximas gerações, que respeite as diferentes e a
qualidade no serviço público?
O senhor é delegado da Polícia Civil, que também é um
ambiente um tanto difícil. Como o senhor se situa na relação cristão e polícia?
Eu vou lhe dar um exemplo. Quando vim ser delegado de
polícia em Pernambuco, muitos disseram que eu viria para um local de corrupção.
Lembro-me que meu pai, em uma conversa, me disse que esperava que eu fizesse a
diferença na polícia. É isso o que busco fazer: combater a corrupção e
respeitando as instituições e os cidadãos. Entendo que o público deve ser
atendido com eficiência e qualidade. Enquanto cristão, busco fazer meu trabalho
com dedicação, respeitando os princípios e valores que aprendi na igreja.
Nos últimos dias, seu nome tem despontado no ambiente
político como pré-candidato a prefeito de Caruaru...
Em muitas oportunidades, tenho sido indagado porque eu tenho
me posicionado como uma opção no campo político. Minha resposta é que, antes de
tudo, sou cidadão e devo honrar os impostos pagos pelo povo. Quero, enquanto
cristão, ser uma opção que respeita a lei – a Constituição – e a Lei de Deus,
que é o amor ao próximo. Enquanto cristãos, devemos influenciar positivamente
os espaços onde estamos, na condição que estivermos – seja como profissional,
estudante, cidadão, enfim, em qualquer situação.
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