Jénerson Alves - Os “cristos” de hoje


A promessa de Jesus Cristo registrada no Evangelho de Mateus não poderia ser mais certa. Quando o Rei dos reis disse “estou convosco todos os dias” (capítulo 28, versículo 20), ele não estava se referindo somente à sua presença espiritual. A sociedade está repleta de “cristos” que – semelhantemente ao Messias – sofrem as sequelas da desigualdade social e do (des)governo dos “poderosos”. A falta de alimentos, de moradia, de saúde, de esperança torna-se um grito silencioso do Salvador, inaudível aos ouvidos insensíveis dos “senhores” que não sabem que a paz é filha da Justiça.

O ponto mais depreciativo para o qual a pobreza pode levar o ser humano, sem dúvida, é a fome. Segundo um estudo realizado pelo Banco Mundial (Bird), sistematizado no Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial 2006, o Brasil é o campeão em desigualdade social na América Latina e o quinto no mundo (abaixo somente de quatro países africanos: Suazilândia, República Centro-Africana, Botsuana e Namíbia). As estimativas apontam que 27,26% da população brasileira vivem abaixo da linha de pobreza. Esse percentual corresponde a um número de mais de 50 milhões de habitantes que não obtém renda suficiente para consumir 2 288 calorias diárias, nível recomendado pela Organização Mundial de Saúde. Tais pessoas enquadram-se no conceito de “cristos” contemporâneos, pois falam semelhante ao Mestre, no livro de Mateus: “Tive fome” (25:42). A Organização das Nações Unidas (ONU) registra que há, no mundo, um número de 854 milhões de famélicos.

A falta de moradia também é outro problema estrutural que macula o País. De acordo com um relatório do Programa Habitat, órgão ligado à ONU, 52,3 milhões de brasileiros podem afirmar da forma de Jesus: “Não tenho onde reclinar a cabeça” (Mateus 8:20). Essas pessoas vivem nas 16 433 favelas cadastradas no país. A palavra “favela”, conforme a definição do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), é “o conjunto constituído por no mínimo 51 unidades habitacionais (barracos, casas etc.) ocupando ou tendo ocupado, até período recente, terreno de propriedade alheia (pública ou particular), dispostas, em geral, de forma desordenada e densa, em sua maioria carentes de serviços públicos essenciais”. Caruaru não está nada distante desse patamar. Para se ter uma ideia, contabiliza-se, atualmente, 14 favelas no município.

O descaso com a saúde pública é mais uma mazela social que enodoa a vida dos brasileiros. O Sindicato dos Médicos de Pernambuco divulgou um relatório que relaciona a falta de estrutura dos hospitais como um dos problemas principais para a saúde. Falta de tudo: de macas, ambulâncias a medicamentos básicos de tratamento. Como os “cristos” de hoje não foram agraciados com a unção do Primogênito, capaz de curar as pessoas por meio da fé, a eles resta rogar ao Pai que não adoeçam, pois o atendimento médico pode não acontecer.
E a igreja?

As palavras “Cidadania” e “Igreja” necessitam encontrar um ponto de convergência. A primeira é compreendida como a maneira de viver em sociedades civilizadas. A noção fundamentalista de igreja resulta em um agrupamento de indivíduos que comungam de uma verdade conceitual e interagem com pessoas da mesma crença. 

Segundo o sociólogo cristão Eliasaf de Assis“a característica de uma igreja cheia da mesma unção que Jesus tinha, além de prodígios e sinais, é sua dedicação à pregação das boas novas aos pobres. Um avivamento é autenticado quando os membros do corpo de Cristo pisam o chão da favela ou do sertão, como os belos pés do mensageiro que anuncia boas novas. Estes pés são belos porque são sujos, empoeirados e calejados por amor ao evangelho. Merecem ser lavados com amor e honra”.

A Igreja tem por obrigação engajar-se na sociedade, objetivando assinalar o Reino de Deus no mundo, levando todo o Evangelho a todos os homens, abençoando o homem todo. Isso só será possível por meio do prazer ao serviço e da proclamação profética da promessa de um novo céu e uma nova terra.

Jénerson Alves

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