Dedo na ferida Livros discutem os problemas do movimento evangélico brasileiro.

Desde Evangélicos em crise, de Paulo Romeiro, lançado em 1995 pela editora Mundo Cristão, vários livros foram publicados sobre os problemas do movimento evangélico brasileiro. Logo, a discussão não é nova – mas quantidade de lançamentos confirma a urgência do tema, já que nunca antes, na história deste país, igrejas, lideranças evangélicas e o comportamento dos crentes sofreram tantos questionamentos éticos, doutrinários e comportamentais. 

Ao mesmo tempo, nunca se discutiu tanto, inclusive dentro do segmento, sobre o que fazer para sair dessa situação. Nos últimos anos, diversos livros têm sido lançados na linha dedo-na-própria-ferida. O mais recente é Os sem-igreja: Buscando caminhos de esperança na experiência comunitária, do pastor e escritor Nelson Bomilcar, que chega às livrarias pela Mundo Cristão.

Um dos méritos de Bomilcar é que ele não é simplesmente um estudioso do assunto, apenas um teórico. Seu livro é fruto de 40 anos de experiência em igrejas e comunidades locais – boa parte dessa estrada percorrida como músico e cantor, já que Bomilcar é parte da geração que criou ministérios como Vencedores por Cristo. As observações e histórias que conta foram colhidas em seu ministério itinerante. "Tenho sido depositário de muitas confissões, dores e pedidos de ajuda, que tornaram mais clara a situação aos meus olhos", explica o autor, que também é colunista de CRISTIANISMO HOJE. "A situação é dramática e precisa ser enfrentada, pois os sem-igreja crescem de forma vertiginosa."

URGÊNCIA
Em tempos de crise, nem sempre bons exemplos e a busca por outras vivências espirituais é suficiente. O acúmulo de escândalos e de desvarios doutrinários tem levado muitos crentes a nem se declararem mais evangélicos – e o número de desigrejados, gente que diz manter a fé em Cristo, mas não quer mais saber de congregar, cresce a cada dia. 

Decepcionados com a Graça, outro livro de Romeiro, retrata essa situação. É que quase tão complicado quanto entender essa complexa realidade é tentar encontrar soluções. O que a maioria dos autores concorda é que é necessário repensar a Igreja e suas práticas e, urgentemente, voltar a uma espiritualidade mais bíblica. 

Essa tem sido a temática de obras como Feridos em nome de Deus (Mundo Cristão), no qual ao jornalista Marília de Camargo César denuncia abusos cometidos por lideranças evangélicas, ou Igreja? Tô fora (Socep), em que o pastor presbiteriano Ricardo Agreste (outro do time de colunistas de CRISTIANISMO HOJE) discute os problemas das grandes instituições religiosas de hoje.

Na mesma linha, o professor e pastor Augustus Nicodemus Lopes discute desvios teológicos em O que estão fazendo com a Igreja? (Mundo Cristão) e Uma igreja complicada (Cultura Cristã). Outra contribuição importante veio da chamada Igreja emergente, nome genérico dado aos grupos que se reúnem sem tanta formalidade e regras. Dan Kimball e D.A. Carson, expoentes do movimento, têm títulos nesta linha, assim como Mark Driscoll, autor de Reformissão (Tempo de Colheita). 

Já há até obras de referência em que a crítica ganha legitimidade porque vem de dentro, como as escritas por estrangeiros como Philip Yancey, autor de O Jesus que eu Nunca Conheci (Vida) e Decepcionados com Deus (Mundo Cristão); Charles Swindoll, de A Igreja Desviada (Mundo Cristão); e James Dobson, de Quando Deus não faz Sentido (Bompastor). Como se vê, o assunto é mesmo vasto e desafiador – mas o simples fato de ser enfrentado com seriedade já é um enorme passo.

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