Você sabe avaliar o quilate de seus amigos?
Guarde esta palavra: solidão. Ela finca estacas onde você nem percebe, pouco nota... Esteja mais atento! Como sempre nos disseram: "Pimenta só arde no olho do outro". Enquanto não é você quem está sem programa, sem amigos, sem boa companhia, a ardência atinge os olhos de quem sofre com ela.
Também li, certa vez, que você conhece melhor quem são seus amigos quando faz festas e comemorações. Mas só descobre quem, de fato, são os verdadeiros quando fica "na pior", seja sem saúde, sem grana, sem alegria, sem status, sem ter o que oferecer.
A boa notícia é que no meio de uma fase turbulenta, você passa a ter maior oportunidade e competência para avaliar o quilate de cada relacionamento de amizade. Torna-se, não seletivo, mas sensível para saber quem é quem. Consequentemente, transforma-se em um ser perdoador, tolerante, aquele que compreende que cada um dá o que tem e o que pode. Relaxa e adquire consciência sobre em quem investir e como. Isso é uma baita lição! Mas que não chega de graça. Tem um preço. E eu sou grata por ter pago cada moeda do desassossego.
Por mais que você esteja sofrendo com seus dissabores e insatisfações, escreva no seu espelho que ninguém é obrigado a ser muleta de ninguém. O mundo não vai parar para consertar seu coração. Dura, mas verdadeira afirmação! E alguém ainda disse que pessoas não precisam carregar os outros nos ombros. Melhor é carregá-los no coração. Pura ilusão! Gente em tribulação precisa mesmo ser carregada nos braços, ora! Corações que apenas sustentam servem para dar sorrisos, orações, opiniões, mas não salvam vidas. Salva vida quem faz respiração boca-a-boca, insiste na massagem cardíaca, ajoelha diante do corpo inerte, oferece os ombros...
Fomos ensinados a sermos bons profissionais, mas a maioria de nós não sabe quase nada sobre primeiros-socorros do corpo e da alma. Somos ineficientes para detectar sintomas, colapsos, fraquezas e anomalias diversas. Preferimos apenas orar... ou dizer aquele conhecido "vai passar".
Outra boa notícia neste desafiador roteiro é que é possível apaixonar-se por si mesmo, sentir prazer na própria companhia. Por vezes, já senti regozijo quando chegava um final de semana em que poderia estar a sós com a Virgínia. Adorava poder me curtir, ouvir minhas músicas, meus discos, ler meus livros, cozinhar o que queria, enfeitar-me de bem-querer...
Claro que, algumas vezes, precisei fazer as pazes comigo mesma, mas este período de encantamento foi reconstrutor. Enfim, passei a ser minha melhor amiga. Isso é vital. E se você não vivenciar este privilégio, perderá o melhor de si mesmo. Depois deste enlace existencial, cantei para mim mesma: "Amigas para sempre!", como entoavam os grandes tenores.
Amigos são a família que nos permitiram escolher, eis uma agradável constatação. E por mais que nossa família sanguínea de origem represente um porto seguro, nem sempre ela consegue suprir nossas demandas, principalmente quando somos sozinhos, seja por intimidade demais ou de menos, seja por desatenção, seja por achar que vai sempre existir um outro que cumpra o papel que poderia ser também dela.
É aí que entram os amigos, seres superiores à previsibilidade do caos humano nas horas mais nefastas do dia e... da noite. Pegam você rachado, maltratado, imperfeito e "comem um quilo de sal junto". Amigos e família de verdade sabem cuidar e escolhem caminhar mais uma milha.
Nesta vida, o que importa é quem você tem, não o que você tem, eis outra constatação boa de ler por aqui. Porque o "homem que tem muitos amigos pode congratular-se, mas há amigo mais chegado que um irmão (Provérbios 18.24). Adquirir este privilégio requer luta acima da banalidade, da normalidade do cotidiano. E, decepções à parte, a vida é um mistério de idas e vindas, capaz de refazer parâmetros que não nos servem mais. O mundo nos aguarda, novos amigos nos aguardam, a eternidade nos aguarda!
Sempre agradeço pelos meus amigos de estiagem, de entre-safra, de seca, de verão, de insuportável sol, de incessante chuva. Cada um esteve comigo no tempo certo. Até porque "em todo o tempo ama o amigo e na angústia nasce o irmão" (Provérbios 17.17). Além do grande consolador, é com estes seres diferenciados que podemos falar e aliviar nossas dores. Encontramos sensibilidade, afetividade, palavras de advertência, flexibilidade, receptividade, interesse... Portanto, guarde seus amigos como pérolas formadas dentro da concha, mesmo que para isto precise acontecer uma visceral transformação.
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