O que Chesterton, Lewis e Rubem Alves tinham em comum?


“Ao final de nossas longas andanças, chegamos finalmente ao lugar. E o vemos então pela primeira vez. Para isso caminhamos a vida inteira: para chegar ao lugar de onde partimos. E, quando chegamos, é surpresa. É como se nunca o tivéssemos visto. Agora, ao final de nossas andanças, nossos olhos são outros, olhos de velhice, de saudade”.
(Rubem Alves)

A frase acima poderia ter vindo direto do livro de G. K. Chesterton, “Ortodoxia”, em que o autor começa com a história de um peregrino que sai a nado da Inglaterra e quando chega aonde acha que queria chegar, descobre que simplesmente deu a volta à ilha e chegou ao ponto de onde partiu.

Assim somos nós, educadores. Não que andemos em círculos, mas que estejamos sempre em movimento e sempre nos movendo em direção a uma familiaridade maior com o que sempre foi assim e muitas vezes não percebemos. 

Poderíamos resumir o pensamento de Rubem Alves aqui com o versículo eclesiástico que diz que “não há nada de novo debaixo do sol”. Mas isso poderia dar uma ideia errada do que o filósofo-teólogo parece querer dizer. Ser educador é uma das profissões em que mais somos confrontados com novidades: principalmente no que diz respeito às tecnologias da educação.

Mas quero crer que as grandes verdades em torno da educação sejam permanentes e universais. Chesterton dizia ainda mais que deixou de lado os contos de fada que ouvia de sua ama na infância em certa idade, mas que voltou a eles depois de certa altura, quando descobriu que as verdades que aprendeu na universidade e com a experiência estavam todas lá, nesse tipo de história.

Além de andarilho, em busca de verdades que já conhecia, mas de que havia se esquecido, Rubem Alves foi um educador contador de histórias. Ele era mestre em usar a metáfora e o exemplo como meio educacional.

Ele não teorizou muito sobre as histórias e sobre a educação, mas combinou ambas, contando histórias sobre a educação, de uma maneira única. E nessa combinação cabiam todos os assuntos: vida, alegria, esperança, liberdade, amor, pois todas têm a ver com a educação, no seu sentido mais amplo.

Lendo nas entrelinhas de qualquer uma de suas histórias (o que ele urgia que o leitor fizesse muito mais de que se ater ao sentido literal dos textos que lia), é possível encontrar sua concepção de educação que mais se aproxima da ideia antiga greco-judaica de “Paidéia”, que envolve o ser humano na sua integralidade e de uma utopia holística e dialética, do que de qualquer conceito moderno. 

Ele também se aproxima da arte e das artes liberais, com seu currículo do “trivium”, que são as ferramentas da educação (retórica, dialética, gramática) e seu “quadrivium”, que são as disciplinas propriamente ditas. Usando uma imagem popular: ele não dava o peixe, mas a vara para pescar.

Mas o que é mais importante para nós, cristãos, é que ele aproximava educação não apenas com psicologia e filosofia, mas também com teologia, em frases memoráveis como:

“Deus existe para tranquilizar a saudade”.

Isso por sua vez lembra muito C.S. Lewis, que falava com frequência da saudade e do desejo que temos no fundo do coração, por Deus e pela alegria que Ele proporciona e que o buraco que temos no coração tem os contornos precisos de Cristo.

Chesterton, Lewis e Rubem Alves, esses contadores de histórias (e educadores) itinerantes dizem coisas das quais a gente exclama: “Bem que eu já sabia disso, mas será que poderia ter sido mais bem formulado e expresso?” E para isso, apelam para o uso da imaginação, que é uma das mais poderosas dimensões da formação humana, disponível ao educador.

Podemos dizer que eles completaram a jornada, deixando saudades, mas chegando precisamente onde queriam chegar: na origem e consumação de tudo.



É mestre e doutora em educação (USP) e doutoranda em estudos da tradução (UFSC). É autora de O Senhor dos Anéis: da fantasia à ética e tradutora de Um Ano com C.S. Lewis e Deus em Questão. Costuma se identificar como missionária no mundo acadêmico. É criadora e editora do site www.cslewis.com.br
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