ENTREVISTA: Pastor Flávio Marcus

Ele vai assumir o pastorado Primeira Igreja Presbiteriana de Caruaru (Central) no próximo domingo, dia 02/02. Flávio Marcus da Silva Souza, caruaruense casado com Elba Marinho Souza e pai de Vitor e Flávia.

Flávio iniciou ainda bem jovem na 3ª Igreja Presbiteriana de Caruaru Av. Rio de Janeiro, o pastor na época era o Rev. Carlos Alberto Gomes de Melo.
Foi obreiro da Mocidade Para Cristo do Brasil (MPC); Formado em Teologia pelo Seminário Presbiteriano do Norte, em Recife e Formado em Licenciatura em filosofia pela FAFICA. Foi ordenado ao ministério pastoral em dezembro de 1997, pelo Presbitério de Caruaru, do qual ainda faz parte. Leciona em alguns seminários teológicos de nossa Cidade.
Seu primeiro campo pastoral foi a Igreja Presbiteriana de Barra de Guabiraba de 97 a 2005.

O pastor Flávio respondeu à Presentia ainda de férias, e traz reflexões sobre a atividade ministerial dos últimos anos e analisa questões da igreja atual.

Vamos a entrevista:

Apesar de jovem você já tem uma boa experiência pastoral com igrejas, quantas e quais foram?

A IP Central será a segunda igreja que pastorearei de forma integral. 
A primeira foi a Igreja presbiteriana do Caiucá (2ª IP de Caruaru), na qual, passei 8 anos (2006 – 2013). Mesmo sendo pastor da IP do Caiucá, por dois períodos, fui também, pastor da IP da Boa Vista (5ª de Caruaru), que fica no Salgado, mas não era de tempo integral, é o que a Igreja Presbiteriana chama de atos pastorais – reunir o Conselho da igreja, celebrar a santa ceia, e realizar batismos e profissões que fé quando houver. Nesse caso, acumulamos as responsabilidades sobre duas Igrejas.

Na 2ª Ig. Presbiteriana, nos últimos anos, quais foram suas principais conquistas, mudanças e decepções, como pastor?

Quanto às conquistas, poderíamos destacar várias. De âmbito estrutural, tal como reformas no prédio, que deram uma aparência interna melhor, mais moderna. No âmbito das relações humanas, vivenciadas pela Igreja, poderemos dizer que foi recuperada a boa convivência. Destacamos também, poder ter convivido 8 anos com os irmãos, principalmente com o Conselho da Igreja (presbíteros) e ter recebido deles apoio no pastorado, de maneira que chegamos ao fim desta etapa, com uma relação de amigos e não apenas de oficiais de igreja. 
Pessoalmente, que não deixa de ser mais uma ferramenta para o ministério pastoral, conseguimos cursar licenciatura em filosofia, pela FAFICA. Isso graças ao apoio que a liderança da Igreja deu para esta formação.

"Precisamos de maior qualidade nas letras e 
nas mensagens que os nossos cantores estão 
interpretando. 

Precisamos também, de maior percepção crítica, 

para não sair cantando qualquer coisa 

sobre Deus, inclusive mentiras."
Quanto às mudanças, destaco a forma como a 2 Ig. era vista e como ela é vista hoje. Infelizmente, no passado, aquilo que no meio presbiteriano era dito sobre a Igreja, não engrandecia o Evangelho do Senhor Jesus. Uma igreja que enfrentou muitos problemas e ganhou fama de ser uma igreja de confusões. Hoje, no entanto, ela ocupa um espaço diferenciado no meio presbiteriano, uma Igreja acolhedora, que sabe receber bem e que tem sido solicitada para sediar alguns eventos, justamente porque acolhe bem.

Quanto às decepções, nada que não faça parte da vida pastoral, ou seja, nada de extraordinário. Uma atitude que se esperava de alguém e ela não veio; um projeto sonhado, anunciado e não abraçado, coisas do gênero. Mas, nada que provocasse instabilidade emocional ou ministerial. Apenas coisas que nós, como seres humanos, nos entristeceram. No entanto, apesar de dificuldades mínimas, foram anos de muitas alegrias e vitórias. Anos abençoados.

Qual sua maior alegria?

Destaco duas, uma mais geral e a outra mais específica. A geral: ao iniciar em 2006, projetei como um dos alvos ministeriais, entre outras coisas, trabalhar para que a Igreja se visse de forma diferente. Minha leitura, naquela ocasião, era de uma Igreja que se via meio que pequena, sem vibração, sem se considerar uma igreja importante aos olhos de Deus e aos olhos dos homens. Uma igreja com baixa auto estima, se puder dizer assim. Chegamos ao final deste período de 8 anos, com uma postura diferente da Igreja em relação a ela mesma. 
Alegro-me por poder ter feito parte na história desta conquista.
A alegria específica, foi a de ter podido celebrar 50 anos do início deste trabalho, que foi iniciado pela Igreja Presbiteriana Central de Caruaru, com a colaboração destacada da família Sá. Esta celebração se deu no ano de 2011, e contamos com a presença do presidente do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil, o Rev. Roberto Brasileiro. Creio que foi significativo para a história da Igreja Presbiteriana do Caiucá.


Sua vocação é para ministração da Palavra (ensino). Porém você teve formação específica para juventude, como analisa os jovens evangélicos na atualidade?

"Certamente, nossos jovens precisam se 
preparar para o futuro,
mas mantendo uma vida equilibrada, 
e quem pode dar este equilíbrio
é o próprio Deus, através de um relacionamento 
com Ele, marcado pela dependência Dele.
É desafiador generalizar, principalmente, quando temos tantos ramos evangélicos. Mas, em linhas gerais, a juventude evangélica, segue as tendências do mundo, no que diz respeito às preocupações profissionais, levando muitos deles a gastarem mais de seu tempo e energia, com a preparação educacional, que visa apenas, no final, um emprego e ganhar muito dinheiro. 

Isso, certamente não é o projeto de Deus para os jovens. 

A Escritura já diz: “Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais dirás: Não tenho neles prazer;” (Ec 12.1). Não se pode focar a vida apenas em conquistas pessoais e financeiras. Precisamos entender que, aquele que se encontrou com Deus, por meio de Jesus, não vive para si mesmo, mas para o Senhor (Rm 14.7-8). Certamente, nossos jovens precisam se preparar para o futuro, mas mantendo uma vida equilibrada, e quem pode dar este equilíbrio é o próprio Deus, através de um relacionamento com Ele, marcado pela dependência Dele. 

Como analisa a atual fase da música cristã no Brasil? 

Há uma exposição na mídia muito grande, melhorou a qualidade, temos mais rádios tocando ou com programação, artistas famosos, etc... isso tudo é bom? ...
Assunto delicadíssimo. 
Precisamos entender que, pelo fato dos cantores cristãos estarem mais na mídia, isso não quer dizer que a mídia está se rendendo aos pés do nosso Senhor Jesus. Inicialmente, o interesse dos meios de comunicação é de lucrar com o movimento musical cristão. Pelo fato de uma emissora de TV promover um festival com cantores cristãos ou gospel, não significa que ela está interessada em se comprometer com a mensagem que estas músicas passam, quando passam alguma mensagem realmente bíblica, diga-se de passagem. A emissora e a gravadora, que têm vínculos comerciais, descobriram que o povo evangélico, cristão, gospel ou, seja lá qual for o nome que se dê, consome e muito. 
Se tiver o nome de Jesus estampado, impresso, adesivado, este povo compra, muitas vezes, sem  se preocupar com o preço. E “muitos” dos cantores evangélicos se aproveitam para lucrar também com o movimento. Os defensores dirão que eles precisam de dinheiro para sobreviver e perguntarão se os pastores também não recebem para pregar o evangelho, e por aí vai o debate.

Vamos provocar mais o assunto. Há um vídeo na internet, uma pregação de um líder católico, que fala sobre os cantores e grupos católicos, criticando a postura por eles assumida, que não deixa de ser interessante assistir e pensar um pouco, em  aos cantores e bandas evangélicas (http://www.youtube.com/watch?v=8GyGJktQj1A). Há muita verdade na fala dele, que pode ser aplicada aos nossos também.

Quando falamos de qualidade na música cristã, precisamos analisar de que qualidade estamos falando: musical? No sentido da técnica dos instrumentistas? Dos arranjos? Da gravação? Da produção? Dos cantores? Ou estamos falando da qualidade das letras, das composições, da mensagem? 

Precisamos de maior qualidade nas letras e nas mensagens que os nossos cantores estão interpretando. Precisamos também, de maior percepção crítica, para não sair cantando qualquer coisa sobre Deus, inclusive mentiras.

Quando um pastor tenta corrigir isso, é um Deus nos acuda, pois muitos cantores e músicos de nossas igrejas se acham ultra, super, mega, plus, hiper, ungidos e poderosos, como se eles não precisassem ser corrigidos também.

Como é possível para o pastor conciliar tempo para Igreja, Família (incluindo lazer e diversão) e amigos sem ser visto como herege? 

Flávio e sua esposa Elba
A pergunta não é fácil de ser respondida, pois não há uma receita pronta, de como conciliar aquilo que foi exemplificado. Conciliar trabalho de igreja, família e vida pessoal é mais um dos desafios do ministério pastoral. Uma coisa é certa, isso, de fato, tem sido uma das principais causas do esgotamento pastoral. 

Não é fácil equilibrar tudo isso, porque há uma cobrança comercial sobre muitos pastores, pois há muitas igrejas vivendo em ritmo de empresa. O pastor tem que dar produção, até porque, em alguns meios, ele é considerado como empregado.

A vida de pastor é, em certo ponto, solitária. Faltam-lhe amigos. Faltam-lhe pessoas que possam conviver e conversar de forma simples, sem o peso do cargo sobre os ombros. 

Com quem desabafar? 

E pastor precisa desabafar? 

Honestamente, falta quem possa ouvir os dramas do pastor, sem que ele se veja ameaçado de ser colocado para fora da igreja. Mas, precisamos entender que pastor é gente, igual a qualquer outro pecador regenerado. Tem momentos bons e ruins, felizes e tristes. Para muitos, pastor não pode nem ter férias anuais, se divertir, ter momentos de lazer, descontração.  Porque, para muitos, o pastor não tem problemas.

Na doutrina da Igreja, há uma onda puxando para o puritanismo e outra para o liberalismo, hora inclinamos para a prosperidade irresponsável ou para conservadorismo que engessa. É possível a igreja viver o equilíbrio? Como?

De fato, a igreja vive de momentos, porque não dizer de modas teológicas. No entanto, parece que nada é novidade. Em algum momento da história da igreja, já se viveu determinada situação que nos aparece como nova. 

Precisamos analisar na história da igreja, quais as conseqüências que determinados movimentos trouxeram. Que lições aquelas experiências deixaram, para não repetirmos os mesmos erros. 
Pastor Flávio Marcus substituio o pastor Calvino na Presbiteriana Central

É possível viver equilibradamente vigiando sem cessar, à luz das Escrituras Sagradas, os ventos de doutrina que querem soprar sobre nossas igrejas. 

No campo social as igrejas de um modo geral estão amadurecendo? Dá para sair da fase de ajuda, cestas básicas e auxílios para algo mais integral, profissionalizante e de maior impacto na sociedade?

Precisamos sair desse assistencialismo barato. O caminho é o que muitas igrejas estão fazendo, seguindo um velho ditado popular: “não dê o peixe, ensine a pescar”. 
Poderemos acrescentar uma palavra que poderá fazer diferença e norteará as ações: “não dê sempre o peixe, ensine a pescar”. Para quem não tem, inicialmente, precisaremos dar, mas não poderemos continuar dando. 

Precisamos ensinar a sair daquele estado de necessidade. Até porque, existem muitas pessoas espertas, que ganham a vida, ganhando sempre dos outros, porque não estão dispostos a pescar. Se o trabalho social da igreja seguir o caminho da capacitação, estas pessoas que gostam de viver pedindo, se afastarão. Uma alternativa é o cooperativismo, ou seja, formar cooperativas com os interessados, nas quais a igreja é uma parceira do empreendimento.

Na questão política, qual sua análise dos fatos atuais? 
Como a igreja pode escolher melhor seus governantes (irmão vota em irmão ou em quem está melhor capacitado)?

Deveria votar em quem está mais capacitado. 
Infelizmente, existem igrejas, ou melhor, lideranças de igrejas que seguem a velha forma política do comprometimento do voto dos seus membros, através de ajuda dos políticos. 

Pior é quando estes líderes obrigam seus membros a votarem em quem eles querem, alegando que eles poderão ajudar a igreja, quando a ajuda que a igreja precisa é a que vem do alto, do  Pai das luzes, como dia Tiago.

O momento político atual desmascara a forma de fazer política. Os destaques políticos, muitas vezes não são porque os políticos fizeram benefício à população. Os destaques políticos estão nas páginas e nos programas policiais, por causa dos crimes por eles cometidos, no exercício do mandato. Lamentável.

Comentários

  1. Muuuito oportuna e inteligente as perguntas formuladas ao Pr. Flávio. Você continua surpreendente Paulo Nailson.
    Quanto a matéria, de uma forma geral eu poderia dizer que as respostas de Flávio Marcos e suas idéias, caminham lado a lado com o que almejamos em nossa igreja. Sempre acreditei nele como profissional e como homem de Deus pois como ser humano íntegro eu já o conhecia a bastante tempo. Como eu falei para ele, o desafio é muito grande. Ele encontrará uma igreja com alguns "vícios", com algumas "manias", uma igreja onde alguns membros são verdadeiramente apaixonados pelo pastor anterior (que diga-se de passagem, também é um grande homem de Deus), mas, ele também encontrará ali pessoas que o amam, o respeitam e que acreditam em seu potencial para fazer as mudanças que forem necessárias e preservar as que estiverem boas. Digo ao Flávio; seja bem vindo meu amigo e conte comigo onde eu puder ser útil no seu ministério. Deus o abençoe ricamente sempre. (Carlos Eduardo - Testinha)

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