Braulia de Tocqueville: Os irmãos Tsarnaev


Tamerlan e Dzhokhar tem me assombrado nos últimos dias. Primeiro a bomba de Boston, o terror na linha de chegada. As morte inúteis de uma criança inocente, uma estudante estrangeira e uma moça nublam o horizonte americano. Depois monta-se o circo de guerra, uma demonstração de competência que surpreende minha mente brasileira acostumada às empulhações do poder público e a ineficiência corrupta da polícia.  No meio de entulhos, sangue, e pedaços de gente, encontra-se pistas para se definir  os principais suspeitos do crime.
Sabe-se seus rostos mas não sua história, seu possível paradeiro mas não seu destino. Mas o cerco se fecha. Um bairro inteiro obedece as ordens policiais de não sair de casa. Uma cidade inteira se une à caça do mal que lhes feriu a manhã do dia 15 de Abril. Finalmente se encontra os suspeitos, armados até os dentes, mas não passam de garotos. Fazem mais estragos, matam mais. O irmão mais velho sucumbe no tiroteio que provocou ao matar um policial do MIT. O mais novo foge, passa por cima do corpo ferido do irmão com o carro e escapa por algumas horas ainda da polícia. É encontrado mais tarde escondido num barco estacionado no quintal de alguém, no bairro sob cerco policial.
Muita coisa neste quadro me ensinam lições sobre a vida  americana. Uma delas é a lição de que  o bem comum é um valor essencial. Não importa a história triste dos rapazes, sua carinha simpática, os amigos surpresos  que os descrevem como “gente boa”.  Na cabeça de todos eles não são “gente boa”.  Gente boa não constrói bombas em panelas de pressão. É simples assim.
- “Ah…  coitado.  Tamerlan tocava piano, era simpático, se formou em engenharia, era luva de ouro em box.”
Não importa. Tamerlan era um criminoso.  Planejou friamente a morte de inocentes. Tramou e trabalhou para matar por acaso o garoto Martin Richard de 8 anos de idade, e matar e ferir mais outros tantos. Ninguém aqui jamais vai se compadecer de Tamerlan e Dzhokhar. Americano não se sente na obrigação de agradar a todo mundo. O homo-americanus não é cordial. Agradam a quem merece.
O bem comum é mais importante do que os possíveis problemas e infortúnios que os dois garotos exilados da Chechenia possam ter enfrentado em sua vida  curta.
Minha mente brasileira quer isentá-los, vitimizá-los, culpar o sistema. Na minha cosmovisão o indivíduo não é um ser completo. Ele é pessoa se. Este se, é a porta para a isenção moral. Se os traficantes não tivessem nascido na favela, se Paiakã não fosse índio, se os Tsarnaev não tivessem tido que viver como imigrantes, se tivessem tido mais amigos…
Aqui este “se” não cola. Aprendo que nada isenta os Tsarnaev de responsabilidade. Perplexos mas não surpresos os americanos tentam reconstruir os passos que levaram os irmãos, que tiveram toda oportunidade de terem uma vida normal integrada ao “sonho americano”,  a se tornarem jihadistas radicais sacrificando sua própria vida no processo de propagar ódio.
Porque não se surpreendem os americanos? Porque a convicção ontológica geral aqui é a de que ser humanos são livres. Não importa as circunstâncias em que tenham vivido, a decisão sobre seu destino é sempre deles. Como seres livres portanto, podem também decidir o mal. Mas se o fizerem sofrerão consequências. O mal está sempre diante de todos. Mas desculpas que os isentam não.
Diz a mídia que Dzhokhar provavelmente será condenado à morte.Primeiro será bem tratado num hospital como qualquer ser humano de bem. Vai se recuperar para poder enfrentar o julgamento civil. 
A América inteira vai acompanhar o julgamento, ouvindo os sobrevivente muitos deles com membros amputados como consequência dos ferimentos da bomba. Virá a condenação inevitável do menino talvez com 21 anos na época. Finalmente  os pais e parentes das inúmeras vítimas de seus atos terroristas se sentarão para assistir a execução. 
Morre o último filho da família Tsarnaev da Chechenia. Ganha o cidadão comum. 
Ganham os corredores e espectadores das maratonas de Boston do futuro.
É simples assim.
Bráulia Ribeiro

Comentários

  1. Maravilhosa Graça!
    Soberania de Deus e Livre Arbítrio do ser humano.
    Onde encontra-se a linha divisória destas
    duas verdades?
    Será que são duas verdades?
    O artigo conclui com a afirmação:
    "É SIMPLES ASSIM".
    >>> Leia e tente entender <<<

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