Especial Reforma Protestante - Jônatas Mendes Barbosa A IGREJA ATUAL PRECISA DE UMA NOVA REFORMA PROTESTANTE?
Pintura de Anton Von Werner - para desmentir suas teses Lutero foi convocado para a Dieta de Worms |
A Reforma Protestante
do século XVI foi o movimento que trouxe a Igreja Cristã do Ocidente de volta à
centralidade do genuíno Evangelho de Cristo. A Igreja Cristã daqueles dias
havia atingido um grau de desvio doutrinário e a única alternativa foi uma
profunda e ampla reforma religiosa e eclesiástica para trazer a igreja de Cristo
de volta ao seu verdadeiro caminho.
Quase quinhentos anos depois, a igreja protestante brasileira, herdeira
da reforma, encontra-se cambaleando distante dos princípios defendidos pelos reformadores,
tal quadro tem levado muitos a clamarem por uma reforma já. Eu, porém, não creio que a igreja hoje
precise de uma nova reforma, mas sim de um grande Despertamento espiritual.
O
professor de História do Instituto Presbiteriano Mackenzie, Alderi Souza de
Matos, em seu artigo sobre a reforma ontem e hoje[1],
lembra que os reformadores foram norteados por pelo menos três convicções
através das Escrituras. A primeira foi à visão de que Deus deve ser o centro de
tudo e de todas as coisas e nada pode obscurecer Sua Majestade, pois Ele é
Senhor do universo e da vida do homem, portanto somente a Ele toda a glória. Na
atualidade esta visão tem sido substituída pela visão de um evangelho
antropocêntrico em que “aquele que era servo agora acha-se senhor dizendo para
Deus o que fazer”.
Segundo,
os reformadores acreditavam que a verdadeira igreja de Cristo não era uma
estrutura, uma instituição, mas uma comunidade de fiéis, salvos pela graça de
Cristo, que se reunia para adorar a Deus, estudar a Sua Palavra e celebrar seus
sacramentos; e logo depois saíam para dar testemunho da sua fé através de suas
vidas transformadas. Hoje, a igreja tornou-se um centro de comercialização da
fé, um camelódromo religioso onde de tudo se vende desde “bênção” para
prosperar nos negócios até simpatia para arranjar casamento.
Por
fim, fazia parte também da visão dos reformadores a convicção de que o senhorio
de Cristo abrange todas as áreas da vida humana e que o cristão deve, através
do seu exemplo, implantar os valores do Reino de Deus em todas as áreas da
sociedade, promovendo assim uma mudança cultural e social a partir dos
princípios do Evangelho. Hoje,
percebe-se que a igreja buscou acomodar-se com o mundo a sua volta. Tentando assemelhar-se à sociedade hodierna
ela não mais serve de agente de transformação, antes é transformada pela
filosofia pós-moderna e perde o seu poder de “luz e sal da terra”.
Mesmo
que todas essas convicções não estejam mais presentes na igreja de hoje, vejo
que não é de uma nova reforma que ela precisa e sim de um grande Despertamento
espiritual, pois somente quando a igreja for despertada do seu estado moribundo,
ela poderá caminhar para uma reforma. Embora se pense que Reforma e Avivamento
sejam sinônimos, apesar de estarem ligados, como bem esclarece o teólogo
norte-americano Sproul, reforma e avivamento são diferentes, pois avivamento trata de uma renovação da vida
espiritual, por outro lado a reforma descreve uma mudança de formas e
estruturas nos aspectos social e cultural. Deste modo, “[...] Não é possível ter uma
verdadeira reforma sem primeiro ter um verdadeiro avivamento. A renovação da
vida espiritual sob o poder do Espírito Santo é uma condição necessária para a
reforma, [...]”[2],
afirma o teólogo.
Acredito, portanto, que a igreja de Cristo
precisa urgentemente de um grande e verdadeiro Despertamento espiritual para
entrar em contrição e se arrepender do seu egocentrismo e novamente ter a visão
do Deus que é criador e não criatura, que é causa e não efeito e, assim sendo,
deve ser o centro de tudo e de todos; digno de toda honra e toda glória.
Somente um quebrantar do coração, através do agir do Espírito Santo, far-nos-á
perceber quem realmente nós somos, pecadores indignos diante de um Deus
gracioso e glorioso.
Penso
que a igreja hoje precisa ser despertada por Deus para enxergar sua verdadeira
missão. Ela precisa ser despertada para ver que Deus não está aceitando o seu
culto “entretenimento” e por isso precisa se arrepender. Enquanto o nosso coração materialista e
egoísta não for tocado por Deus através da Sua Palavra no poder do Espírito, não
veremos que o culto é para Deus e não para homens, e que adoração é entrega e
não conquista, que culto só é culto quando esse é oferecido em Cristo, por
Cristo e a Cristo.
Creio
sim, que muita coisa precisa mudar na igreja hoje, mas antes de mudar, Deus
precisa despertar o seu povo para que esse se arrependa do seu mundanismo, das
suas vestes contaminadas pelo sistema deste mundo caído que jaz no maligno. É
preciso arrependimento profundo e sincero e uma volta a Deus para que este
restaure o seu candeeiro e pela sua graça não apague a sua luz.
A
reforma trouxe a igreja de volta para o centro da vontade de Deus, esse foi,
sem dúvidas, um dos maiores movimentos de Deus na história do seu povo depois
do Pentecostes. A igreja dos nossos dias tem se distanciado dos princípios da
Reforma e clamado por uma nova reforma, mas antes que esta venha, é preciso
Deus despertar o seu povo para que se arrependa dos seus maus caminhos e se
volte para Deus, então, “aviva a tua obra, ó Senhor”
*O autor é pastor
efetivo da Igreja Evangélica Congregacional Vale da Bênção em Belo Jardim - PE
e professor de História da Igreja no Seminário Teológico Evangélico
Congregacional.
[1] Matos,
Alderi Souza de, Reforma Protestante, http://www.mackenzie.br/6972.html,
acessado em 23/10/12
[2] Sproul,
R.C. O Espírito do Avivamento. http://luisvegan.wordpress.com/2010/06/03/o-espirito-do-avivamento-r-c-sproul-16/,
acessado em 23/10/12
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