Adeus a um gênio
Chico Anysio não era singular; era plural. Impossível distinguir criação de criatura nas centenas de personagens que brilhantemente criou ao longo de sua carreira. Era plural também no sentido de ter muitos talentos; humorista, dublador, ator, diretor, escritor, pintor, produtor, compositor, cantor, omentarista esportivo.
Plural também no sentido de sua abrangência cultural; nascido no Ceará, criado no Rio de Janeiro, viveu em São Paulo, rodou o mundo, representava como ninguém a multiplicidade da brasilidade de todos nós. Plural também na influência clara que deixou em varias gerações de humoristas que vieram depois dele. Chico Anysio era o Charles Chaplin brasileiro.
Acusado de nepotismo por muitos, Chico na verdade era generoso com todos os amigos e colegas e gerou, enquanto viveu, emprego para uma multidão de colegas. Alguns tirou do ostracismo e fez brilhar novamente, de forma altruísta e desinteressada. O nepotismo de Chico que empregava filhos, parentes e até ex-mulheres, na verdade era mais uma faceta de sua pluralidade; Chico era com sua enorme família uma entidade simbiótica, inseparável. Amava a família como poucos.
Muito antes dessa onde de “stand-up comedy” que inunda o Brasil, Chico Anysio já enveredava pelo gênero com maestria; suas participações no Fantástico ainda nos anos 70 e seus monólogos em teatros do Brasil inteiro, se tornaram clássicos e pavimentaram o caminho para os comediantes atuais. E mesmo em seus “causos” e monólogos, Chico era plural; desfilava dezenas de personagens numa mesma estória, incorporando cada um deles com perfeição, mesmo de cara limpa e sem figurino.
Os personagens de Chico, cada um deles tinha sua pluralidade; faziam rir, mas muitas vezes carregam fortes criticas também. Chico criticou a ditadura militar em plena época da censura, criticou a violência contra a mulher, os políticos corruptos. Para nós evangélicos, o personagem mais marcante foi o tele-evangelista Tim Tones, calcado nos pastores americanos da época, mas que antecipou em algumas décadas o fenômeno das igrejas neopentecostais e a teologia da prosperidade no Brasil. Pois, é; deveríamos ter ouvido as criticas de Chico com mais cuidado.
Chico era filho de um país que também é plural; todos nós somos fruto de diversas raças , diversas culturas, somos todos como ele era, plurais. É uma pena que um país tão rico tenha tão pouco apego à sua história, suas tradições. Espero que a obra de Chico Anysio não morra nunca, assim como a dos grandes gênios da literatura, das artes plásticas, dos cineastas. Espero que seja eternizada no respeito e na apreciação que gerações futuras devem ter pelos seus gênios, principalmente seus conterrâneos. Que nosso tributo e nossa gratidão pela arte de Chico Anysio seja também plural; que venham filmes, documentários, livros, peças, canções, exposições, homenagens, até mesmo placas. Que a genialidade de Chico seja eternizada toda vez que rindo, lembrarmos dos personagens que diziam : “É mentira, Terta?”, “Calaaada!!!!”, “Sou, mas quem não é?”, “Minha vingança sera maligrina…”, “Podem passar a sacolinha!”, “Trabalho na Globo…”, “Não garavo!”, “Tô contigo e não abro!”, “Quero que pobre se exploda!”, “E o salário, ó…” .
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