Bispo Robinson Cavalcanti discorria ideias polêmicas sobre religião em blog
Publicado originalmente no Diário de Pernambuco
Além de bispo diocesano da Igreja Anglicana, cientista político e professor aposentado da Universidade Federal e Federal Rural de Pernambuco, Dom Edward Robinson Cavalcanti também destilava seus saberes e ideologias semanalmente na internet. Como colaborador do blog Pavablog, expressou suas polêmicas ideias sobre religião e eternizou seus pensamentos sobre a democracia (ou não) do protestantismo e sobre a liberdade de expressão no endereço virtual.
“O pensar não é necessário; é perigoso e dói. Poupemos o pobre povo, especialmente os jovens, de pensar. Um pouco de pão (talvez) para os de fora, circo (sempre) para os de dentro”, dizia em uma de suas mensagens.
Ainda ontem (26), poucas horas antes do assassinato, Robinson Cavalcanti postou um texto intitulado Um caso de milenarismo negro “protestante” no Brasil Império, onde analisou as revoltas étnicas e de caráter liberal e republicano no Nordeste durante a Insurreição Pernambucana (1817), a Confederação do Equador (1824) e a Revolução Praieira (1848). Também citou a criação da capelania anglicana do Recife pelo reverendo John Penny.
“Vale lembrar que um pastor norte-americano havia distribuído 50 Bíblias em 1823 e um colportor havia deixado um caixote de Bíblias em 1833. Em 1822, com um batismo realizado pelo Rev. John Penny, foi criada a capelania anglicana do Recife, que inauguraria o seu templo da Rua da Aurora em 1839. Antônio, ao estudá-la, havia sublinhado todas as passagens que falavam da intervenção libertadora de Deus em favor dos oprimidos, e as relacionava com a situação da raça negra, que considerava, no contexto do Brasil, moralmente superior a dos brancos, maculada pela prática da escravidão”, contou. Concluiu a menção no blog com a seguinte frase: “Uma grande lição: deixar pobres e negros lendo a Bíblia por conta própria e sublinhando textos libertadores… é sempre um perigo.”
Em outro texto, de nome Tentados pelos demônios, servidos pelos anjos!, o bispo discorre sobre o início da quaresma. “A vida peregrina das pessoas é alternada de oásis e de desertos. Jesus não foi para o deserto por conta própria, nem foi algo ao sabor das circunstâncias, mas para ali foi levado pelo próprio Espírito Santo. Necessitamos de oásis para não perecer. Necessitamos de desertos para amadurecer. Em ambos podemos receber recados de Deus”, disse.
Em meio aspalavras religiosas, o cientista político ainda ressaltou a culpa dos homens pelos males da humanidade e questionou sobre o papel da igreja nesse contexto. “Sabemos que os demônios tentam, induzem, possuem, assessoram as instituições e as atitudes de iniquidade, sem eliminar a responsabilidade e a culpa de decisões morais humanas. Sabemos que anjos são mensageiros, guardiões e ministradores da parte de Deus para o seu povo. Sua realidade, muito clara no Judaísmo, no Cristianismo e no Islã, também pode ser encontrada em outras tradições religiosas não-abraâmicas… A Igreja tem se dividido entre os liberais que adotaram o cetismo – negação do pensamento secular, pentecostais e neo(pseudo)pentecostais que, em alguns casos, têm ido da supervalorização do poder satânico e a redução do poder da cruz, com seus “encostos” e “sessões de descarrego”, vendo demônios por toda a parte, fugindo da culpa pessoal quanto ao mal, aos assentos de templos reservados para os anjos bons, em uma espécie de “rotinização angélica”. Mas, e as Igrejas históricas?”, indagou.
A resposta vem em uma severa crítica na mesma análise. “No geral, confessam nos seus livros a existência de anjos e demônios, mas vivem a prática do cotidiano como se ambos não existissem, ou fossem aposentados. Ou seja, a prática e a pastoral são a negação do que se afirma ensinar como verdade… Como anglicano, integro um ramo histórico da Igreja. Entre nós é escassa a presença de exageros afirmativos quanto a anjos e demônios, mas, em algumas Províncias e Dioceses, não é escassa a presença dos céticos-racionalistas. Tenho preocupação, quanto à nossa Diocese e as coirmãs históricas ao nosso redor pela quase total ausência de referência aos ministérios angélicos e satânicos em sermões ou reflexões teológicas.”
Dom Edward Robinson atuou no Departamento de Ciências Sociais e foi diretor do Centro de Filosodia e Ciências Humanas (CFCH) da Universidade Federal de Pernambuco, onde ingressou como docente em março de 1972. O professor era formado em Direito também pela UFPE, em Ciências Sociais, pela Universidade Católica de Pernambuco e tinha mestrado em Ciências Políticas pelo Instituto Universitário de Pesquisar do Rio de Janeiro. Foi membro dos Conselhos de Administração e Universitário e também integrou os colegiados. Publicou os livros As origens do coronelismo e Cristianismo e Política – Teoria Bíblica, prática e histórica.
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