Susana, a Gentil
“Senhor – disse Tirian, após saudar a todos – , a não ser que eu tenha entendido mal as crônicas, deve haver mais alguém. Vossa Majestade não tem duas irmãs? Onde está a rainha Susana?
- Minha irmã Susana – respondeu Pedro, breve e gravemente – já não é mais amiga de Nárnia.
- É verdade – completou Eustáquio. – E cada vez que se tenta conversar com ela sobre Nárnia ou fazer qualquer coisa que se refira a Nárnia, ela diz: “Mas que memória extraordinária vocês têm! Continuam no mundo da fantasia, pensando nessas brincadeiras tolas que a gente fazia quando era criança!”
- Essa Susana! – disse Jill. – Agora só pensa em lingeries, maquilagens e compromissos sociais. Aliás, ela sempre foi louquinha para ser gente grande.
- Gente grande, pois sim! – disse Lady Polly. – Gostaria que ela crescesse de verdade. Quando estava na escola, passava o tempo todo desejando ter a idade que tem agora, e agora vai passar o resto da vida tentando ficar nessa idade. Tudo em que ela pensa é correr para atingir a idade mais boba da vida o mais depressa possível e depois parar aí o máximo que puder.”
Trecho de A Última Batalha, pág 708/709 – Volume Único
Neste trecho encontrado em A Última Batalha, podemos ver que Susana já é não é reconhecida como uma “amiga de Nárnia”, nem mesmo, está lá. Temos sua figura como sendo uma mulher fútil, adulta e que vê os outros irmãos, e até mesmo Pedro, como “crianças que continuam no mundo da fantasia”.
Voltemos um pouco na linha do tempo de sua vida para que analisemos profundamente cada momento de sua jornada tanto em Nárnia, como em nosso mundo.
Susana Pevensie é a segunda mais velha entre seus outros três irmãos. Tem sua primeira aparição no livro O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa.
Neste primeiro momento que temos contato com a personagem, podemos perceber que ela é, ou pelo menos tenta passar a imagem de ser, “gente grande”. Ela se julga adulta, madura e “grande” o suficiente para enfrentar as coisas que a abordam.
Leia este trecho:
“ – Bem, em casos comuns, penso igual ao Pedro, mas aquela história do bosque e do fauno não pode ser verdade”.
- É o que a gente nunca sabe – disse o professor. – Não se deve acusar de mentirosa uma pessoa que sempre falou a verdade, é mesmo uma coisa séria, muito séria.
- Mas o nosso medo não é que ela esteja mentindo – replicou Susana. – Chegamos a pensar se ela não está doente da cabeça …
- Acham que ela está louca? – perguntou calmamente o professor. – Podem ficar descansados: basta olhar para ela, ouvi-la um instante para ver que não está louca.
- Mas então… – disse Susana, e calou-se. Nunca tinha pensado que uma pessoa grande falasse como o professor, e não sabia bem o que havia de pensar de tudo aquilo. (…)
Susana olhou para ele muito séria: o professor não estava brincando.
- Mas como é que pode ser verdade, professor?
- E por que você duvida?”
O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa – pág. 123 – Volume Único.
Como eu disse anteriormente, Susana quer ser parecer “gente grande”. Ela duvida da floresta nevada que há dentro no Guarda-Roupa e é a última a acreditar em Lúcia.
Um fato que acho interessante e que gostaria de mencionar aqui é o seguinte: no filme LFGR, a incredulidade de Susana ganhou muita ênfase, tornando-a (depois de Edmundo) a mais “chata” dos Pevensie. Eu me recordo, que na época em que eu assisti ao filme, minha mãe dizia: “Ah, mas que menina chata e insuportável!”.
Realmente era essa a impressão que ela passava.
Neste primeiro momento, Susana se mostra muito incrédula; duvida da existência de Nárnia e de Tumnus até o último momento antes de entrar no Guarda-Roupa. Ela só crê quando vai a Nárnia.
Ainda em relação ao filme, ela continua sendo uma “chata” e quer voltar a todo custo para casa; não acredita em momento algum na Profecia. Até Edmundo desaparecer. Bom, aí ela começa a se preocupar.
Porém, a partir de então, Susana “muda”. Nárnia muda as pessoas, e mudou Susana, pelo menos, no período em que permaneceu lá.
Junto com Lúcia, viu Aslam morrer e ressuscitar; foi com Ele no castelo da Feiticeira para descongelar as estátuas…
Susana foi uma grande mulher dentro de Nárnia. Sua importância é inquestionável.
Como presente de Natal, ganha a aljava com flechas e a trompa mágica.
“Susana, Filha de Eva! Isto é para você. – E Papai Noel entregou-lhe um arco, um aljava cheia de setas e uma trompazinha de marfim. – Só deve usar o arco em grande risco, pois não quero que você tome parte ativa na luta. Raras vezes falha o alvo. Quanto à trompa, é só levá-la aos lábios e tocar: auxílio lhe virá de alguma parte.”
O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa, pág 150 – Volume Único
Torna-se a melhor arqueira de Nárnia. Nunca ouvi falar de uma vez em que errou o alvo; Papai Noel tinha razão.
Depois disso, junto com Pedro, Edmundo e Lúcia, é coroada Rainha de Nárnia e reina por muitos anos, conhecidos como a Idade de Ouro de Nárnia, no castelo de Cair Paravel.
Com o passar dos anos, a personagem cresce, muda e se torna uma bela rainha.
Sussana virou uma mulher alta e esbelta, de cabelos negros que chegavam quase aos pés. Foi chamada Susana, a Gentil.”
O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa, pág 184 – Volume Único.
Ainda antes de voltar à Nárnia, em Príncipe Caspian, temos outro registro que diz respeito à Susana e sua beleza, em O Cavalo e seu Menino:
“(…) Mal teve tempo de pensar nelas, pois a mais linda moça do mundo levantou-se e correu a abraçá-lo e beijá-lo, (…)”
O Cavalo e seu Menino, pág 218 – Volume Único
Neste trecho, comprovamos a beleza de Susana, durante a Idade de Ouro, narrada em O Cavalo e seu Menino.
Outro trecho interessante, encontrado no mesmo livro, que mostra que Susana era uma mulher atraente ao olhar masculino, é o seguinte:
“ O rei falava para a rainha ( a moça que beijara Shasta):
- Que me diz, Susana? Já faz três semanas que estamos nesta cidade. Está decidida a casar-se com o príncipe Rabadash ou não?
A rainha sacudiu a cabeça:
- Não, meu irmão, nem por todas as jóias de Tashbaan.”
O príncipe Rabadash era louco de amores pela rainha Susana. Porém, não conseguiu casar-se com ela.
Depois disto, a próxima aparição de Susana se dá em Príncipe Caspian, quando ela retorna à Nárnia junto com os outros três irmãos e ajuda o Príncipe Caspian X, último herdeiro legítimo telmarino, a reaver seu trono e seu reino em Nárnia.
Durante toda a história, percebe-se que Susana ainda continua um pouco “chata”, porém, diferente da primeira vez em que esteve em Nárnia. Age dignamente como uma rainha, o que a torna muito mais “simpática e legal”.
Outra coisa encontrada também no filme, desta vez em Príncipe Caspian, que eu achei muito digno: Susana participa da Batalha do Beruna! Achei isso fantástico, pois no livro, ela não participa da guerra, assim como Lúcia.
Já no filme, Susana participa da invasão ao castelo de Miraz (que também não consta no livro) como da Segunda Batalha do Beruna. Ela é forte, guerreira e luta por Nárnia.
Outra cena maravilhosa de Susana: quando Lúcia e ela estão à procura de Aslam, na parte mais escura da floresta, Lúcia percebe que estão sendo seguidas por soldados telmarinos. Nisso, Susana desce do cavalo para que Lúcia consiga prosseguir na busca, enquanto ela, sozinha com seu arco e flechas tenta matar todos os telmarinos.
Eu me emocionei muito nessa parte! Os produtores do filme também capricharam nessa cena, colocando uma câmera lenta enquanto Susana posiciona a flecha no arco e uma linda canção, que toda vez que a ouço, penso: “Apesar de tudo, ela foi uma grande guerreira! Lutou por Nárnia, amou Nárnia, reinou e foi digna! A Grande Rainha Susana, a melhor arqueira. A rainha corajosa.”
Ela tenta matar os soldados, quando um deles a derruba e então aparece o “corajoso Príncipe Caspian” que mata o último telmarino e salva a rainha. ( Tipo assim: ela vai e mata lá uns 10, aí chega o Caspian e mata um soldado e é ELE que fica de “herói”, mas tudo bem. Cada uma…)
Depois que ELA ( e não Caspian…) conseguiu que Lúcia passasse pela floresta, ela volta pro campo de batalha; e quando a luta começa, Susana toma parte ativa na guerra, o que eu acho muitíssimo digno, admirável e real da parte dela. Lidera os arqueiros, e depois vai pro campo de batalha,e mata muitos telmarinos!
Isto não consta no livro, porém colocaram Susana como uma grande guerreira, e eu achei lindo.
Antes de acabar o filme, temos a cena mais crítica: o beijo de Susana e Caspian.
Apesar de ter odiado a cena, achei interessante esta “paquera” pois mostra novamente, que Susana era atraente para um homem, e que Caspian se interessou por ela.
Este fato não consta no livro, mesmo porque no próximo, A Viagem do Peregrino da Alvorada, Caspian se casa com a filha de Ramandu. Mas vai saber se Caspian realmente não ficou olhando Susana de um jeito diferente, não é?
Outro fato interessante, é que Susana sentiu o mesmo por Caspian, quer dizer, ela também se apaixonou, o que evidencia o seu “crescimento”. Diferentemente de Lúcia, que fala “Quando eu crescer, tenho certeza de que vou entender”. Interessante Andrew Adamson ter mostrado isso no filme. Susana já era “mocinha”.
O tempo em que ficou em Nárnia, narrado em Príncipe Caspian, digamos que foi a “segunda fase bonita de Susana”, precedida pelo período que reinou durante a Idade do Ouro.
Por fim, a despedida de Susana de Nárnia:
“Vocês hão de voltar – explicou Pedro. – Pelo menos, pelo que ele disse, fiquei convencido de que ele deseja a volta de vocês um dia. Su e eu é que não. Aslam diz que já estamos muito grandes.”
Príncipe Caspian, pág. 396 – Volume Único
Finalmente, Aslam declara que Pedro e Susana não voltarão mais a Nárnia por já estarem muito crescidos. Então, eles se despedem e não voltam mais.
Agora o momento em que Susana cresce de verdade, porém, em nosso mundo.
Acredito que o período que sucedeu a sua partida de Nárnia, ela “se descobriu”. Explico: Susana já estava grande, e com o passar do tempo, ela cresceu mais, mudou, descobriu sua beleza, e seu feminismo. Passou a se preocupar mais com maquiagens, lingeries, compromissos sociais, festas…
O grande problema.
Já li várias críticas de vários autores, inclusive J.K.Rowling (autora da série Harry Potter), dizendo que Lewis foi preconceituoso com a personagem Susana, ao “tira-la” de Nárnia; chamando-o também de “machista”.
Não concordo com isso; se Lewis fosse machista, não teria dado tanta importância às personagens Polly, Lúcia, Aravis, Jill, e a própria Susana.
Personagens estas, que tiveram fundamental importância dentro e fora de Nárnia.
Fico a pensar na grande mensagem que Lewis queria transmitir com a vida de Susana.
Ele não era machista, queria mostrar como as coisas deste mundo, podem subir à cabeça, fazendo com que a gente se esqueça do que realmente importa.
Susana era a segunda mais velha dos Pevensie; já tinha toda uma bagagem com ela, já era crescida. Não era como Lúcia: caçula, inocente e que não sabia nada da vida.
Já tinha seus próprios desejos no nosso mundo, e realmente não queria nem mesmo encontrar Nárnia. Na cabeça dela, a existência de uma floresta dentro de um guarda-roupa, ou era coisa de criança, ou doença mental. Não poderia ser verdade. “Isso é logicamente impossível”
No entanto, foi rainha, e durante todo o período que reinou, foi uma excelente dama e marcou sua época.
Aslam se preocupava com ela; ela era “um dos quatro” e ajudou a derrotar a Feiticeira Branca.
Entrou para todos os livros da História de Nárnia e nunca será esquecida. Sua trompa teve fundamental importância na vida de Caspian.
No próximo livro da série, A Viagem do Peregrino da Alvorada, temos mais um registro a respeito de Susana:
“Como ficaria muito caro levar os filhos todos para os Estados Unidos, somente Susana tinha partido com os pais. A gente grande achava Susana a mais bonita da família. Como era bem desenvolvida para a sua idade e não tinha grande queda para os estudos, a mãe dissera que “ela aproveitaria mais a viagem do que os outros mais novos”. Edmundo e Lúcia fizeram o impossível para não sentir inveja de Susana.”
A Viagem do Peregrino da Alvorada, pág.404 – Volume Único
Mais uma vez, a beleza de Susana.
No filme VPA, ela aparece escrevendo uma carta e diz “sentir falta das aventuras em Nárnia”. Achei interessante, pois ela já estava crescendo, porém sentia falta de Nárnia.
Mais um romance também. Susana é convidada por um oficial da Marinha Britânica para ir ao Cônsul Britânico dos EUA. Realmente, ela devia ser muito bonita e interessante.
Volto agora, ao trecho de A Última Batalha com o qual iniciei este texto.
Lady Polly afirma que Susana “passava o tempo que estava na escola, sonhando com a idade que tem agora, e agora, vai fazer de tudo pra permanecer nessa idade o máximo que puder”. A“idade mais boba da vida”.
Susana não foi levada ao País de Aslam junto com seus irmãos; já não era mais Amiga de Nárnia.
Antes de criticá-la, quero que entendam-na: Susana não foi mais a Nárnia, teve de aprender a viver em seu mundo, sem Nárnia nem Aslam.
Isso não justifica seu afastamento, mas coloque-se no lugar dela! Ela tinha sido rainha durante muitos anos, e depois tinha voltado pra Nárnia, e novamente voltou para a Inglaterra, desta vez, sabendo que nunca mais iria a Nárnia. O que você faria? Teria de aprender a viver em seu próprio mundo, certo?
Susana errou no fato de não acreditar mais. Como afirmei em um post anterior que você pode conferir aqui no canal (Reflexão de hoje: A missão de Jill Pole), o que acaba com o mundo e assola vidas ultimamente, é a falta de fé! Ela não a teve. Esqueceu-se de tudo que viveu em Nárnia. Esqueceu-se de quem foi e a importância que teve.
Cresceu, descobriu que era uma mulher bonita, e apenas queria viver em seu mundo.
Fico pensando que Susana fez de tudo para conseguir viver feliz na Inglaterra. É evidente que sentia falta de Nárnia, porém não queria mais sofrer. Já tinha sido levada outra vez a Nárnia, e trazida pra seu mundo, desta vez sabendo que não voltaria.
No filme PC, ela diz para Lúcia: “ Eu já tinha me acostumado com a vida na Inglaterra”. Acho que tinha mesmo.
Então, quando volta pela segunda vez, faz de tudo para se acostumar de vez com a vida na Inglaterra.
Fico a pensar que Susana mentiu muito para si mesma dizendo para ela mesma: “Nárnia não existe, meu mundo é este”. Deve ter dito tanto essa mentira para si mesma, que um dia, acabou acreditando e se convencendo de que era verdade.
Susana poderia ter vivido em seu mundo, realizado seus sonhos, desfrutado de festas, “compromissos sociais” e outras coisas, mas podia ter vivido sem perder a fé. Como Lúcia, Edmundo e Pedro.
Para concluir, não deixe que as coisas deste mundo afastem você do que realmente importa.
- E o que realmente importa?
Ah, isso descubra você mesmo!
Não perca a fé, não perca a esperança, não deixe que a vaidade, a beleza, a soberba e o status social tirem seu foco do que importa de verdade.
Viva em seu mundo, mas não esqueça a importância que você têm para Ele. Aslam em Nárnia. Em nosso mundo, descubra você mesmo…
Você é um rei, uma rainha? Que maravilha. Então viva como um rei, uma rainha. Porque procedendo desta forma, tenha certeza de que no final dos tempos, você será levado ao País de Aslam.
E lembre-se: Uma vez rei ou rainha de Nárnia, sempre rei ou rainha de Nárnia!
Por Bruna Amorim – País de Aslam
mundonarnia.com
Fantástico a forma com você argumentou sobre Susana. Ela não deveria ter perdido a fé mas, assim ela serve de exemplo para todos nós.
ResponderExcluirObrigada pela postagem de meu texto!
ResponderExcluirBruna Amorim
País de Aslam
EquipeMundoNarnia.com