TÁ NA CARA; NÃO ESCONDA!
(Violência contra a mulher) “A imagem de Deus... homem e mulher os criou” (Gênesis 1:27) Naquela tarde ela entrou no gabinete pastoral. Loira, magra, uns trinta anos. Um pequeno corte no lábio inferior que parecia recente. Bonita, mas de aspecto sofrido; cabelos maltratados e voz pesada. Veio para se aconselhar após ouvir um programa de rádio que falava sobre as crises familiares. Em pouco tempo de conversa comigo e com Rosélia, a revelação: “Eu sempre apanho do meu marido”. Cresce a violência do homem contra a mulher. “A cada 15 segundos, uma mulher é agredida por seu companheiro”[1]. Isso acontece sem nenhuma discriminação racial, sócio–econômica ou religiosa. Mulheres negras e brancas, ricas e pobres, católicas e protestantes ou de outras crenças, têm sido vítimas da violência masculina sobre elas. As causas desta crescente violência, os agressores e as formas como acontecem, bem como as providências a serem tomadas quando ocorrerem atos de violência contra as mulheres, serão aqui abordados. 1. AS CAUSAS – A matriz geradora da violência humana, é sem dúvida o pecado. (Gênesis 4:8), mas há pelo menos mais duas causas que estimulam a esta violência. A primeira é o aspecto físico, ou seja, em geral os homens são mais fortes que as mulheres, e por isso se acham no direito de violentá-las quando há diferenças entre eles. A segunda, e entendo que esta é a maior causa, é a predominância da cultura machista na maioria dos países do mundo; ou seja, os homens se acham superiores às mulheres. Desde os tempos mais remotos, o mundo é social e economicamente dominando pelos homens. Vemos que “na cultura judaica, assim como nas culturas vizinhas, a mulher era de forma geral colocada em segundo plano”[2]. Os judeus oravam dando “graças a Deus porque não tinham nascido nem gentios, nem mulheres e nem escravos”[3]. E em muitas situações, as mulheres eram “compradas por seu futuro esposo e, inclusive, vendidas como escravos”[4] (Êxodo 21:7-11). Mesmo no tempo de Jesus e dos apóstolos, elas “não eram consideradas iguais aos homens... e eram obrigadas a obedecer ao marido como dono, e essa obediência era um dever religioso” [5]. Com base nesta suposta superioridade genérica, foi formada uma consciência coletiva, que funciona como uma conserva cultural. Logo, apoiados por esta suposta superioridade, os homens agridem as mulheres. 2. OS AGRESSORES E AS FORMAS – Conforme o Disque Denúncia[6], em Pernambuco, a maioria das agressões ocorrem dentro das casas, no ambiente infrafamiliar, e são causadas pelos parentes mais próximos como maridos ou companheiros (87%), avós (2%) e pais (1%). As formas mais comuns são as agressões físicas, com lesões corporais tais como murros no rosto, quebra de braço, chutes, incluindo-se também o abuso sexual, quando se trata de crianças e adolescentes. Já as agressões verbais se caracterizam por ameaças como: “eu vou te pegar” e “eu vou te matar”. 3. AS PROVIDÊNCIAS – A violência não deve ser tolerada em qualquer circunstância, mas combatida com a paz e a justiça, pois somo filhos do príncipe da paz (Isaías 9:6), e herdeiros de um reino de justiça (Mateus 6:33). Ela não pode ser combatida com violência, mas pela cultura da paz e da justiça. Logo a primeira providência a ser tomada em relação à violência contra a mulher, é a precaução, evitando o primeiro tapa. 3.1. PRECAUÇÃO - Evite o primeiro tapa, pois o primeiro tapa a gente nunca esquece. Querida leitora, esteja atenta, “com as antenas ligadas”. Quando perceber agressividade por parte de seu marido ou companheiro, ou quando lhe fizer ameaças, previna-se. Busque o diálogo com ele até esgotar o assunto, e deixe bem claro que você é uma mulher criada à imagem de Deus (Gênesis 1:27), e não vai ficar passiva caso uma agressão concreta aconteça. Na maioria das vezes o homem que bate na mulher, o faz porque sente que ela não vai reagir. Se os dois forem crentes, procure o pastor da Igreja, irmãos de confiança e os torne cientes da situação, pois o silêncio é o amigo íntimo da violência. No caso da violência acontecer, tome a segunda providência, a legal. 3.2. LEGAL - É preciso procurar uma delegacia, de preferência a da mulher, para prestar queixa e fazer o exame físico para que se comprove a agressão. Ele, o agressor, vai ser chamado lá, e repreendido por uma mulher, e vai pensar outra vez antes de proceder de forma violenta. A providência psicológica também é fundamental. 3.3. APOIO PSICOLÓGICO – Uma mulher que apanha e aceita continuar apanhando, tem sérios problemas psicológicos e precisa de urgente tratamento. A auto-estima está num nível muito baixo. Voltando a falar da senhora que entrou no meu gabinete para se aconselhar, eu perguntei porque ela não deixava aquele marido, (na verdade companheiro, pai de sua filha)? Ela respondeu que era porque gostava muito dele. Ela gostava dele, mas não gostava de si mesma. Nesta hora é importante lembrar que Jesus ensinou que devemos amar ao próximo como a nós mesmos (Mateus 19:19). Ela Chorou e pediu ajuda para solucionar aquele problema que tanto a angustiava. Eu e Rosélia conversamos e oramos com ela, mostramos o valor que ela possui diante de Deus e dos homens e a convidamos para voltar, mas ela não retornou. Se você querida leitora apanha do seu marido ou companheiro, ou se você sabe de alguma amiga ou irmã que está nesta condição, saiba que é urgente a necessidade de buscar ajuda psicológica. A outra providência que também julgo necessária é a pastoral. 3.4. AÇÃO PASTORAL – É importante que cada mulher neste mundo tome conhecimento do seu valor. Que todas saibam que não são inferiores, nem superiores aos homens. Por isso desejo propor uma rápida pastoral feminina, que também chamo de GINETEOLOGIA, que resgate a igualdade em termos de valores, entre homem e mulher. a. Deus os FORMOU iguais (Gênesis 1:27,28) – Ambos foram formados à imagem e semelhança de Deus, e os dois, em parceria receberam a benção de Deus, e a ordem de encher a terra, sujeitá-la e dominá-la. Os dois, não só o homem. b. O Pecado DEFORMOU a relação do casal (Gênesis 3:16) – No princípio ambos recebem o mandato de dominar a terra, mas com a entrada do pecado entre eles, a relação que era igual e de parceria, passa a ser desigual e de dominação “ele te governará”. Ao invés dos dois dominarem a terra, o homem passa a dominar a mulher. Logo toda relação na qual há o domínio de um sobre o outro, é uma relação que está sob a influência do pecado.c. O Evangelho TRANSFORMOU o Projeto Original (Gálatas 3:28) – As Boas Novas de Jesus Cristo, são a da formação de uma nova sociedade, uma sociedade de iguais, de resgate de valores perdidos. Que nela não haja dominação nem competição, mas cooperação e parceria entre todos. Sem o orgulho dos Judeus sobre os gentios, nem a dominação de uma raça sobre a outra, e nem a superioridade do homem sobre a mulher, pois nesta nova comunidade, todos são iguais, em um só: CRISTO!Portanto o que Deus criou e o pecado deformou, o Evangelho transformou, resgatou. Aleluia!CONCLUSÃO – Meu desejo é que cada amada leitora de Vida Cristã possa se fortalecer nos valores do Reino de Deus, quanto à sua posição como mulher, evitando que as atitudes de violência cheguem até vocês, e caso ela já tenha acontecido, buscar agir de forma adequada, para desfrutar o que Jesus lhe prometeu: vida abundante na terra (João 10:10), e vida eterna nos céus (João 5:24).Que Deus as abençoe!Marcos Robson Quaresma de Araújo - Mestre em Aconselhamento Pastoral (STBNB); Assessor Familiar (EIRENE), Bacharel em Teologia (STCN), E-mail: mr.quaresma@hotmail.com. [1] MELO. Lúcia Maria Custódio. Violência Contra a Mulher. Dados da 4ª Delegacia de Polícia de Prevenção e Repressão dos Crimes contra a Mulher. Caruaru, 2005. [2] ATIENCIA. Jorge in: Maldonado, Jorge – Editor. Casamento e Família: uma abordagem Bíblica e Teológica. Viçosa, Ultimato, 2003, p. 18. [3] MALDONADO, Jorge – Editor. Casamento e Família: uma abordagem Bíblica e Teológica. Viçosa, Ultimato, 2003, p. 23. [4] IDEM, p. 15 [5] IDEM, p. 18 |
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