"Deus criou o mundo do jeito que a Evolução diz"


PRESENTIA – E aí depois da ciência é que o senhor entrou em contato com os textos do Antigo Testamento?
ADAUTO LOURENÇO – Não. Eu já nasci num lar cristão. Então, eu já conhecia as histórias da Bíblia desde garoto, conhecia o Velho Testamento, o Novo Testamento. Eu já tinha até feito um curso de Teologia. E na minha mente, a minha posição era o que é conhecido hoje como Evolucionismo teísta, ou seja, Deus criou o mundo do jeito que a Evolução diz. Mas eu percebi que há uma discrepância entre como a Evolução diz que o mundo foi criado e como a Bíblia diz que o mundo foi criado. Na minha mente, eu acreditava que, um dia, lá no futuro, lá no Céu, Deus iria me mostrar como o mundo foi criado. Mas, pela graça Dele, Ele achou melhor me mostrar aqui, antes de eu chegar lá. Pois veja, a proposta que eu achava ser a verdade, que era a evolucionista, eu descobri mais tarde que não era verdadeira. Isso era uma proposta científica sem embasamento científico. E a Bíblia trata isso daí de uma outra perspectiva. Pois a Bíblia diz que ela é a Verdade. A partir do momento que você conhece a Verdade, se ela é realmente a Verdade, todas as evidências que você encontrar posteriormente devem corroborar com essa Verdade. Porque não é possível uma coisa ser verdadeira e a evidência apontar do outro lado. Então, se a Bíblia é a verdade naquilo que ela diz, provavelmente, as outras coisas deveriam ser. Dos últimos 15, 17 anos até agora, que eu estou no Criacionismo, percebo que isso faz todo o sentido. Por isso que muitas pessoas confundem o Criacionismo científico com o religioso. Eles acham que a gente está tentando provar a Bíblia. Não é. É que quando você pega algo que é a Verdade, por exemplo, um texto bíblico que diz ser a verdade e você descobre uma evidência científica, as duas batem. É a mesma coisa. Muitas pessoas acham que os criacionistas estão tentando provar que a Bíblia está correta. Não é nada disso.

PRESENTIA – Existe uma vertente do Criacionismo que é o Design Inteligente. O senhor poderia explicar melhor essa proposta?
ADAUTO LOURENÇO – Posso. A diferença é a seguinte: o Criacionismo procura demonstrar que processos naturais e leis da natureza não teriam trazido à existência a complexidade que nós encontramos na vida e no universo, já o Design Inteligente busca por sinais de inteligência. É um pouco diferente, é a busca por sinais de inteligência, sinais de planejamento. O Criacionismo é mais amplo. O Design Inteligente é como se fosse um departamento do Criacionismo. Se bem que nem todo aquele que apoia o Design Inteligente é criacionista. A grande maioria dos que trabalham com Design Inteligente deixa bem claro que não são criacionistas. Eles dizem: “Nós não temos nada a ver com Criacionismo, a nossa procura é por sinais de inteligência”. Já os criacionistas, quase todos, com algumas exceções, aceitam o Design Inteligente, pois ele, de uma forma mais restrita, seria uma forma de criacionismo. Porque, quando a gente busca que processos naturais e leis da natureza não teriam trazido à existência essa complexidade toda que nós encontramos aí fora, evidentemente isso é evidência de um planejamento. Mas são propostas diferentes. São parecidas. Uma, o Criacionismo, é mais ampla. O Design Inteligente é mais focado em um aspecto específico.

PRESENTIA – O senhor acha que a maioria das pessoas confundem o Criacionismo científico com o Criacionismo religioso devido às refutações peremptórias que grupos fundamentalistas protestantes fizeram às ideias de Charles Darwin publicadas no livro ‘A Origem das Espécies’ (1859)?
ADAUTO LOURENÇO – Olha, aí vamos por etapas. A razão de o darwinismo ter tido tanto sucesso foi justamente o contrário. Os líderes religiosos abraçaram o darwinismo. A Igreja do século XIX era uma igreja cuja liderança tinha um poder muito grande diante do povo, porque eles eram os homens estudados. Eles eram os homens que detinham o conhecimento. Então, aquilo que eles falavam, a grande maioria aceitava como sendo a verdade. O que aconteceu foi justamente que eles aceitaram as ideias de Darwin e as pessoas, dentro do Criacionismo, abraçaram essa ideia. O que houve, na época, foi a sociedade de uma forma geral repudiar a ideia de Darwin por não compreendê-la. Tanto é que as charges de Darwin e sua macacada, Darwin com a cara de macaco, foram cartuns que apareceram na época de pessoas que, realmente, não entenderam o que Darwin estava propondo. Então, houve um problema muito sério que, praticamente, ele foi resolvido ao longo do tempo. Só que esse ao longo do tempo foi, praticamente, a ciência e a religião se abraçando sem questionar se Darwin estava correto ou não. Porque existe uma diferença entre um raciocínio lógico e um raciocínio lógico correto. O raciocínio de Darwin é lógico. O que nunca foi questionado é se ele está correto. Então, tanto a sociedade quanto a igreja da época abraçaram a ideia de Darwin por ser lógica, mas esqueceram-se de, antes de abraçá-la, conferir se ela é verdadeira. Houve, sem dúvida, grupos religiosos tanto dos Estados Unidos quanto da Europa que refutaram veementemente a ideia de Darwin. Mas, toda essa refutação veio por questões teológicas e não científicas. Agora, a teoria de Darwin é uma teoria científica. Então, precisava ser refutada cientificamente, não teologicamente. Aí é onde houve o grande problema que até hoje a gente continua com essa teoria sendo ensinada porque as pessoas nunca se preocuparam em contestá-la ou, pelo menos, mostrar onde ela está errada cientificamente. Normalmente, as pessoas dizem que “Darwin está errado porque a Bíblia diz que...”. Não. Darwin está errado porque a Ciência diz que. Ou seja, ele deve ser refutado a partir da ciência. Isso não significa, em nenhum momento, desprezar a Palavra de Deus. Eu creio que a Bíblia é a Verdade. Eu não tenho dúvida da Sua proposta, mas eu não tenho como prová-la cientificamente que o mundo foi feito do jeito que a Bíblia me diz. Isso é fé. Eu creio que foi desse jeito. Quando eu falo assim, não estou falando pelos criacionistas, estou falando por mim. Isso é minha posição pessoal. Tenho amigos criacionistas que não acreditam na Bíblia e outros que não acreditam nem em Deus. A única coisa que nós, como cientistas, estamos preocupados é saber se as coisas foram criadas ou se elas teriam surgido espontaneamente. Então, essa discussão de Darwin e a sua proposta ainda tem um pouco de chão pela frente. Mas as evidências que têm sido descobertas nesses últimos 30 anos provam cada vez mais que Darwin estava errado nas suas propostas principais.

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