PRESENTIA - Apenas a semear...


A confecção de uma mídia impressa com o objetivo de promover o debate em um público-alvo determinado é uma tarefa árdua. No entanto, o impulso em permitir a expressividade de certos atores sociais é o alimento que fortalece esse intento. Assim é com 'Presentia', publicação direcionada para o segmento cristão evangelical, enfocando a cidade de Caruaru e região, cujo intuito é ampliar o retrato multifacetado da conjuntura social do município, no tocante à religiosidade e suas aplicabilidades práticas.
Apesar de ter passado por inúmeros formatos (boletim informativo, jornal 'standart', revista etc.), as características básicas de 'Presentia' são predominantemente de revista. Ora, de acordo com a jornalista Marília Scalzo, em seu livro 'Jornalismo de revista' (Editora Contexto, 2003), a revista é uma publicação mais profunda que o jornal e menos profunda que o livro, porque conhece o leitor, olhando-o face a face, estabelecendo com ele uma relação de contiguidade similar à afetividade. Ainda segundo a autora, a primeira revista publicada no Brasil foi no ano de 1812, no estado da Bahia, intitulada 'As variedades'.
Todavia, no Brasil, a religiosidade é um fator preponderante para estimular o indivíduo à leitura. Esse dado foi constatado por entidades como a Câmara Brasileira do Livro, na pesquisa 'Retrato da Leitura no Brasil', realizada em 2001. O estudo constatou que, na época, 39% do que era lido no país era literatura religiosa, englobando todas as crenças.
Nesse cenário, 'Presentia' nasce com o objetivo de apresentar os pressupostos evangélicos acerca dos impactos sociais contem-porâneos, interagindo a religiosidade com a civilidade, tendo a perspectiva holística do ser humano como ser inacabado – e, por consequência, participante de uma sociedade em constante transformação (dessa forma, trazendo à prática o conhecido texto bíblico de Romanos 12:1,2).
No entender de muitos, 'Presentia' tem objetivos muito progressistas. Por causa disso, a publicação está fadada à 'marginalidade' – não por silenciar diante dos debates contemporâneos, mas por não se render à leitura superficial dos fenômenos em volta. O anseio não é saciar os anseios do leitor, propalando o que ele 'quer' ler, mas sim divulgar o que é necessário.
Em certos aspectos, porém, 'Presentia' está na contramão. Poder-se-ia até dizer que, nestes casos, é uma 'anti-revista'. Em aspectos gráficos, foge do padrão desse tipo de publicação, com uma diagramação simples (por vezes pesada), sem utilizar certos recursos dos softwares direcionados a esse tipo de trabalho, bem como uma tipologia comum. No entanto, essas características produzem uma mimese entre a história do veículo e seus objetivos, em uma sincronia verbi-visual, ascendendo uma sinestesia particular.
Portanto, o apelo de 'Presentia' não é comercial, mas intelectual e espiritual. Da mesma forma que o semeador da famosa parábola relatada no Evangelho de Mateus (capítulo 13, versículos 3 a 9) não estava preocupado em obter lucro com a plantação, os editores de 'Presentia' apenas “saem a semear”. Talvez, o solo da leitura em Caruaru nem sempre seja fértil. Talvez, a superficialidade e o misticismo experiencialista que se impregnou como um câncer na igreja evangélica brasileira produziu uma aversão à análise profunda dos acontecimentos, em um reprocessamento do período de escuridão da Idade Média ocorrida entre os séculos V e XV). Talvez, os líderes – de um modo geral – necessitem estimular mais esse tipo de leitura e estimular a igreja a refletir sobre o seu papel enquanto comunidade com papel social.
Desta forma, 'Presentia' não se curva aos ditames da 'mão invisível' do deus mercado, tampouco aos ventos de doutrina ensinados por telepregadores que atualmente afastam a igreja evangélica do Evangelho da Graça. A publicação permanece levantando reflexões acerca do 'modus vivendi' dos cristãos, apenas semeando desafios e ponderações acerca dos elementos análogos entre a sociedade e a religião, bem ao estilo paulino de culto racional.

Jenérsom Alves é colaborador e Jornalista.

Comentários