Política. E daí?

Política. Está aí um verbete que os evangélicos caracterizam como palavrão… fazem cara de nojo, sentem uma tremenda ojeriza sobre isso. Os estigmas que “todo político é ladrão” e que “há coisas mais importantes para se pensar do que o futuro do país” maculam aqueles que estão aprisionados à sua própria liberdade, sem sequer darem-se conta da angústia existencialista que os crucia...
Não é difícil perceber a diferença de comportamento entre a juventude brasileira de quatro décadas atrás e a de hoje em dia. Nas décadas de 60-70, o Brasil vivenciava um regime totalitário. Os militares governavam arbitrariamente, utilizando as armas como elemento coercitivo contra os cidadãos, e os jovens – munidos de sonhos e ideais – utilizavam “flores” (aquelas, que Vandré insistia em dizer que falava delas…) como armas para resgatar a liberdade do seu cativeiro.
Somente em meandros da década de 1980, após as eleições diretas de Tancredo Neves, o sol da democracia voltou a brilhar sobre o nosso País. Para alguns estudiosos, essa década marca o final da “idade industrial” e início da “era da informação”. Desta forma, a mídia tornou-se elemento de ímpar relevância na sociedade, ditando valores e recriando os povos “à sua imagem e semelhança”. Ela tornou-se onisciente, inerrante, e a realidade adequou-se aos seus ditames. Criou ídolos, heróis, semideuses e pintou de cor-de-rosa a lama que emperra o motor do progresso brasileiro prosseguir. Assim, o programa de Ronaldo com três travestis ganha mais destaque do que a corrupção do Senado; a (chocante) morte de Isabella Nardoni encobre as milhares de crianças abandonadas que falecem diariamente – não por serem jogadas pela janela, mas por serem jogadas na sarjeta das ruas das metrópoles, vivendo à margem…
E o povo está “deitado eternamente”, mas não em “berço esplêndido”. Está deitado na esteira da omissão, do não-saber... Não há mais luta porque não se conhece mais o inimigo. Outrora, havia um Estado que assumia que era repressor. Agora, há um sistema que comprime os seres, privando-os da plenitude da existência, e extirpando dos homens o que o difere dos animais: a racionalização.
A democracia deve ser um princípio que proteja a liberdade – de ir e vir, de pensar, de agir, de falar, de ouvir, de dançar, de cantar… O Filho de Deus disse que quem conhece a Verdade, automaticamente se libertará. Libertos já somos, está na hora de mostrar os grilhões que machucam a nossa sociedade. Não nos encurvemos diante dessa situação! Ergamos a voz e rompamos o invólucro que nos deixa inertes diante do cenário que vivemos. Digamos como o jornalista paraibano Astier Basílio diz no poema “Círculo dentro do círculo”: “Vivemos sob o medo, sob o cerco de ser livre. / Uma ditadura sem governos, / onde o bem e o mal são feitos / das mesmas perguntas. / Um invisível enterro inauguramos. / O inimigo é em movimento. / O inimigo é por enquanto. O inimigo é por dentro: / Nenhum e todos os tempos. Nunca o mesmo. / Minha maldição não ganha prêmios. / Se a pedrada vira estátua, o beco / é sem saída. E é aqui que eu desço”.


Jénerson Alves é professor e faz parte da membresia
da Igreja Batista Emanuel.
PUBLICADO EM 2008

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