Entrevista
Com Pr. Cícero Palmeira
Igreja Batista Rhemaná - Caruaru.
Em sua opinião, deixando de lado o saudosismo, o que mudou de fato na música cristã do passado para a do presente? O que há de bom e o que devemos evitar?
Antes de emitir juízo sobre o assunto, quero deixar claro que esta matéria é de uma profundidade tamanha que merece uma discussão mais abrangente e necessária e que o nosso parecer, não esgota absolutamente o proposto. Isto serve para as demais respostas. O fato é que a música evoluiu como tudo evoluiu no mundo; a música evangélica em especial. Porém, tais mudanças não são de todo ruim! Houve mudanças positivas como, por exemplo, músicas especificas tencionando alcançar tribos urbanas público alvo) com ritmos e linguagem própria na pregação do evangelho.
Quanto a isso não vejo dificuldade alguma. O que não se deve é vulgarizar a mensagem bíblica em detrimento do alcance. Isso compromete em cheio a essência do Evangelho do nosso Senhor Jesus Cristo. Todos os recursos disponíveis na divulgação da Palavra de Deus devem ser usados, mas de forma responsável visualizando a glória de Deus. A música cristã deve conter uma mensagem Teo-centrica visando à edificação do povo de Deus e a salvação dos perdidos.
O senhor me falou sobre um diálogo que teve com Paulo César sobre este tema, “o velho e o novo convivendo”, conte-nos um pouco sobre isso.
Entre muitos assuntos que conversamos este em especial esteve presente em todo o momento. O Pr. Paulo César de fato emitiu juízo sobre o que está acontecendo no Brasil com a música cristã evangélica e mostrou-se extremamente preocupado com essa espécie de “banalização espiritual” envolvendo a música cristã. Todavia, ele deixou claro que é perfeitamente compatível a convivência do “velho e o novo”. Alias, passado e presente, estão sempre interagindo e isso é bom para o crescimento espiritual do povo de Deus. Também compactuo desse pensamento, convencido de que essa harmonia promove um crescimento saudável espiritual no povo de Deus.
Como pastor, tenho percebido de que a música de “ontem” quando executada originalmente nos cultos, a juventude estranha, mas, quando “modificada” (arranjos novos) eles recebem de bom grado. O exemplo dessa combinação fantástica recentemente foi o CD Clássicos do Pr. André Valadão. Os cantores do “passado” como Oséias de Paula, Luiz de Carvalho, o próprio Pr. Paulo César tem contribuído regravando canções que marcaram época com uma roupagem nova sem abrir mão da essência teológica. Essa adequação é benéfica ao reino desde que haja amor cristão entre os velhos e novos músicos. Desta forma, não tenho a menor dúvida de que o velho e o novo possam sempre viver harmoniosamente. Afinal, o que é bom nunca envelhece.
A música evangélica (chamada Gospel) se tornou um mercado muito lucrativo hoje para gravadoras, produtores de eventos e empresários do ramo. Será que a igreja em geral tem consciência que o que muitas vezes predomina é a exigência do mercado? Como discernir entre a boa e má música?
De fato esta é uma constatação indiscutível em nossos dias. A população evangélica cresce em nosso país de forma significativa e com ela a preocupação por parte dos profissionais envolvidos de oferecer a este público o melhor possível na área musical. Em parte foram pressionados por aqueles que conduzem o rebanho do Senhor a que ofereçam algo compatível com o que oferecem os filhos das trevas a seus consumidores. Com isso, alguns profissionais perderam completamente a visão espiritual dando vazão a instintos lucrativos especificamente. É verdade que “qualidade” requer grandes investimentos, mas nem por isso se deve descartar a espiritualidade. Graças a Deus que existem aqueles servos neste meio que não perderam o alvo de vista que é a glória de Deus! O consumismo desenfreado que vemos no meio evangélico, por tudo aquilo que se apresenta, sem peneirar o bom do ruim, precisa ser evitado a fim de se preservar a pureza doutrinária e a saúde espiritual do povo de Deus. O que não nos é interessante é consumirmos músicas e eventos de péssima qualidade que visam apenas o financeiro. Há letras musicais que notoriamente são desprovidas de inspiração divina e eventos sem caráter espiritual dos quais tenho absoluta certeza que entristecem o coração de Deus. Discernir entre a boa e má música, é conseqüência natural da espiritualidade individual de cada crente em Jesus Cristo. Um crente criterioso e zeloso da mensagem bíblica, há de distinguir o que é e o que não é para a glória de Deus certamente.
Entre outros, um dos problemas que o pastor (eclesiástico) tem é com profissionais da música, que sofrem certo preconceito pelo ramo (diferentemente do médico, advogado, policial, etc). Qual é sua opinião sobre isso?
Esta é uma “eterna” discussão. De fato é uma problemática no meio cristão em todos os tempos que merece uma reflexão aprofundada e ousada hoje. Todavia, é bom que salientemos que somos desafiados biblicamente pelo próprio Senhor a sermos luz e sal em todo o tempo e em qualquer lugar e isso independentemente da nossa atividade secular. Lembremos que somos discípulos do Senhor Jesus Cristo de tempo integral.
Não pretendo fechar tal problemática, mas aproveitar a oportunidade para levantar alguns questionamentos na tentativa de fazê-lo pensar um pouco. É indiscutível o fato de que o profissional da música inevitavelmente leva desvantagem em relação a outros profissionais que realizam atividades seculares. Muitas vezes o músico além de sofrer preconceito, é impedido de exercer seu talento dentro da igreja. Isso é certo ou errado? O que você pensa sobre o caso? Estou absolutamente convencido de que o ensino bíblico é claro ao nos informar de que o levita vivia exclusivamente para Deus realizando atividades religiosas. Contudo, o que se faz quando não se é possível viver exclusivamente do ministério e não se sabe fazer outra coisa? Não seria o caso da igreja buscar uma alternativa para esse irmão (a), uma vez que há uma incompatibilidade da música sacra e profana e que é difícil conciliar? Creio que cada caso deve ser tratado individualmente. Há os que gostam do que fazem lá fora, não abrem mão disso de forma alguma e ainda exigem que seus líderes os aceitem no respectivo ministério de louvor. Há ainda aqueles que estão trabalhando na área musical secular provisoriamente e esperam uma oportunidade de se dedicarem especificamente ao ministério cristão. Há também aqueles que estão atrelados a contratos e etc. Assim sendo, cada situação precisa ser criteriosamente estudada e entendida. Lembre-se, cada caso é um caso. Entretanto, de uma coisa estou convencido, é que tais profissionais terminam indo para o mundo por causa da intolerância da parte de igrejas burocratizadas e líderes coniventes com tal engessamento espiritual. O bom senso cristão está em extinção nos dias de hoje.
Para terminar, como podemos definir e diferenciar Louvor e Adoração (Até levando em conta que esta virou estilo de música para muitos)?
Louvor é basicamente uma expressão de admiração e aprovação em seu sentido mais amplo; também inclui uma expressão de gratidão e ações de graças por favores recebidos. Assim sendo, louvor e ações de graças são frequentemente interligados. Contudo, as formas mais puras de louvor não incluem agradecimentos ou gratidão. São em essência expressões de admiração e adoração ao objeto de louvor, independentemente do fato de favores haverem sido recebidos ou não. Adorar a Deus, portanto, significa basicamente a exaltação de Sua pessoa, caráter, atributos e perfeição. É a adoração a Deus por quem Ele é e o que Ele é, e não por nada que Ele tenha feito e que tenha sido para o nosso benefício. A adoração é primeiramente uma conscientização interna de um valor. É subsequentemente uma expressão externa deste apreço interno. Não se torna adoração até que encontre uma expressão externa. Enquanto se encontra no interior do coração e da mente é admiração. Quando encontra expressão e se torna vocal ou visível torna-se então adoração. A grande dificuldade é que muitos cristãos acham que louvor e adoração se restringem apenas à música na celebração coletiva, isto é, no culto público. Isso é um grande erro. Tanto o louvor quanto à adoração no Novo Testamento é uma proposta teológica prática de vida cristã para a Igreja. Isso equivale dizer que cultuar a Deus não deve sofrer interrupções em hipótese alguma. O culto coletivo é parte fundamental no processo espiritual do povo de Deus, mas, fica comprometido quando não integralizado no dia a dia do cristão.
Publicado em 2008
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