Entrevista com o bom velhinho


No início do mês, uma figura mundialmente conhecida veio à maior feira do mundo.

Papai Noel, como é chamado no Brasil, renovou parte do estoque de sua fábrica no Pólo Norte com produtos de Caruaru. Desta feita, trajado com bermuda, camiseta e calçado com uma alpercata adquirida na Feira de Artesanato, o “Bom Velhinho” se identificou à equipe de “Presentia” e aceitou ser entrevistado com exclusividade.

Sempre simpático, alegre e ativo, fez questão de ser chamado de “você”, porque, segundo o próprio, “Senhor só há Um”.

Revista Presentia – Papai Noel, você teve pai? Conte-nos um pouco de sua origem…

Papai Noel – Mas é claro, meu filho. Sou um personagem criado por um bispo turco residente na Alemanha, chamado Nicolau Taumaturgo, que gostava de colocar, em segredo, uma sacolinha com moedas de ouro na chaminé das casas dos mais necessitados. A partir de então, me tornei um símbolo natalino, primeiro na Alemanha, depois no resto do mundo…

RP – Quer dizer que você é conhecido em todo o mundo?

PN – Sim, mas com um nome diferente em cada país. Nos Estados Unidos, por exemplo, sou “Santa Claus”. Os portugueses me chamam de “Pai Natal”. Há, ainda, quem me chame de “Father Christmas”, “Nikolaus”, “Julemanden”, “Perè Noel”, “Babbo Natale”, “Sinterklaas”, e assim por diante.

RP – Por que você aparece sempre com uma roupa de inverno vermelha e branca? Há especulações de que você é petista, outros dizem que é por causa de uma paixão antiga pelo Náutico…

PN – Ho, ho, ho… Gostei da pergunta. É uma oportunidade para esclarecer esse ponto de minha história. Eu quero dizer que até gosto do PT, inclusive quero parabenizar o trabalho do presidente do Brasil, que também usa uma barba muito bacana… Quanto ao time alvirrubro, vale ressaltar que sou um apreciador de todas as modalidades esportivas. Mas nem sempre usei essa roupa vermelha.
Até o final do século XIX, eu utilizava um traje de inverno marrom. Porém, em 1881, uma campanha publicitária da Coca-cola utilizou minha imagem com uma vestimenta da cor da embalagem do refrigerante, ou seja, vermelho e branco, além de me darem um gorro vermelho com pompom branco. E publicidade, você sabe como é… não dá pra detê-la…

RP – Atualmente, as pessoas associam o Natal ao consumismo, à compra exagerada de mercadorias. Muitos afirmam que você é o principal difusor dessa mensagem capitalista. O que você tem a dizer sobre isso?

PN – Como podem me associar à compra de mercadorias? Eu faço os brinquedos que entrego às crianças, não os compro! Além disso, quando São Nicolau me criou, ele queria demonstrar a importância de doar. Eu virei símbolo natalino para lembrar às pessoas que o acúmulo de bens materiais não deve ser valorizado, e sim, a sensibilidade e o amor ao próximo.

RP – Já que conhecemos como você se tornou símbolo natalino, você poderia nos explicar como outros ícones, a exemplo da árvore de natal e do presépio, se tornaram símbolos dessa festa?

PN – Se bem me lembro, a utilização da árvore natalina também começou na Alemanha. E digo mais: foi com o iniciador da Reforma Protestante, o monge Martinho Lutero, no ano de 1530. Enquanto caminhava pela floresta à noite, o Reformador maravilhou-se com a beleza dos pinheiros cobertos de neve. Ele reproduziu a imagem em sua casa, utilizando velas acesas, estrelas, galhos de árvores, algodão e outros enfeites para mostrar a cena presenciada por ele. Lentamente, essa prática virou tradição. RP – E o presépio?

PN – Sim! O presépio… no século XIII, São Francisco de Assis montou o cenário do nascimento de Cristo: uma manjedoura, os animais, os Reis Magos, o Filho de Deus…

RP – Você acredita que Jesus é o Filho de Deus?

PN – Mas é claro! Ele é a razão da festa da qual sou símbolo! Na verdade, a mensagem que eu sempre quis transmitir às pessoas é que, da mesma forma que Deus entregou Jesus à humanidade como presente – diga-se de passagem, imerecido –, as pessoas devem entregar dádivas aos mais necessitados. Gostaria que minha imagem fosse associada a essa perspectiva. Até porque não importa dar somente bens materiais. Às vezes, um sorriso, um beijo, um abraço, um perdão, são presentes de valor imensurável.

Jénerson Alves é poeta, escritor, jornalista e da Igreja Batista Emanuel

Publicado em 2008

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