CARTA DO SOM DO CÉU
O Acampamento Som do Céu (Mocidade Para Cristo) completou a sua 25º edição em abril. Os músicos e demais artistas ali reunidos puderam debater dois temas bastante pertinentes e elaborar, como fruto dessas discussões, uma carta chamada CARTA AO SOM DO CÉU, que reproduzimoso abaixo. Esperamos que ela sirva de diretriz para muitas das igrejas locais e artistas cristãos que desejam servir ao Senhor de todo o coração, toda alma e todas as forças. A série 40 anos de música cristã continua na próxima edição. Vamos à carta...
Nós, músicos, artistas e líderes eclesiásticos, cristãos, vindos das variadas regiões brasileiras, estivemos reunidos entre os dias 6 a 12 de abril de 2009, no Acampamento da Mocidade Para Cristo do Brasil, dias de comemoração dos 25 anos do Som do Céu, para discutir dois temas principais: “A música e os músicos na igreja” e “A igreja como promotora de cultura”.
Agradecemos a Deus pelos dias de comunhão fraterna entre nós e pelo privilégio de ouvi-lo entre as vozes pastorais e proféticas que ecoaram em nosso meio. Reconhecemos que a música cristã tem ocupado um espaço significativo em nossos dias, tanto na igreja como na sociedade em geral. No entanto, observamos que nem sempre essa participação tem sido consistente e coerente com a Palavra de Deus nosso referencial maior nem rendido glórias ao Senhor da Igreja. Desejamos, portanto, apresentar à Igreja brasileira a “Carta do Som do Céu”, sintetizada em 25 pontos, que resume nossas inquietações e propõe ações práticas à Igreja de Cristo Jesus, nesse princípio de século XXI:
1. O artista cristão deve desenvolver o seu dom criativo e submetê-lo exclusivamente aos valores da Palavra de Deus;
2. Cremos que a arte, na perspectiva da graça comum, é um presente dos céus a toda humanidade e não está restrita aos cristãos;
3. Desejamos que haja coerência entre a vida, o ministério e a profissão do artista cristão, cujo discurso deve estar aliado à sua prática;
4. Esperamos que o artista cristão busque servir a Deus e à sociedade com excelência e integridade, dedicando-se ao desenvolvimento dos talentos e dos dons recebidos do alto;
5. A igreja precisa estar atenta ao artista cristão como parte do rebanho de Deus e dar a ele a atenção devida, despida de preconceitos, e oferecer-lhe pastoreio e discipulado, objetivando a sua formação espiritual e ética;
6. Esperamos que o artista cristão esteja envolvido em uma igreja local, servindo-a e amando-a como Corpo de Cristo. Deve ser rejeitada toda e qualquer tentativa de desenvolvimento de uma fé individualista e distante da comunidade;
7. Reafirmamos que a elaboração de textos e letras deve ter embasamento nos valores da Palavra de Deus;
8. Comprometemo-nos a dedicar atenção e reflexão às canções que são introduzidas no culto de adoração e nas demais atividades da igreja, buscando um repertório equilibrado e consciente e evitando, de todas as formas, que heresias e desvios teológicos adentrem sutilmente em nossas comunidades;
9. As igrejas, as instituições de ensino teológico e os artistas cristãos devem combater o ensinamento equivocado e amplamente difundido de que louvor e adoração restringem-se à musica, ensinando, por demonstração e exemplo, que se trata de um estilo de vida que envolve todas as áreas da nossa existência e que a música, assim como outras formas de arte, é expressão legítima de louvor e adoração;
10. A igreja deve agir como facilitadora na adoração e abrir espaço para que todos expressem seu louvor a Deus;
11. Esperamos que o músico cristão busque e desenvolva a santidade, vivendo uma vida piedosa, tanto no serviço prestado a Deus na igreja, quanto fora dela, em sua atividade profissional;
12. Rejeitamos a dicotomia que faz separação entre o sagrado e o secular e cria espaços estanques na vida do cristão. O Senhor Jesus é soberano e governa todas as instâncias da vida, e, por isso, devemos somente a ele a nossa fidelidade, agradando-o em tudo e rejeitando tão-somente o que ofende a sua glória;
13. A Igreja não se pode esquivar de sua responsabilidade diante da cultura na qual está inserida; deve mentoriar a reflexão e a prática de uma teologia de arte e cultura;
14. Incentivamos as igrejas a abrir suas dependências para a realização de eventos culturais como exposições, mostras, cursos, saraus e outras atividades visando à educação, à divulgação e à aproximação da sociedade;
15. Mesmo entendendo que todo trabalho na igreja é voluntário, podemos honrar com sustento ou remuneração aqueles que se dedicam ao ministério musical, se a comunidade disponibiliza de recursos para tal;
16. Entendemos que nossa arte deve encarnar uma voz profética e manifestar em seu conteúdo os valores do Reino;
17. Recomendamos que as igrejas promovam encontros de reflexão sobre a utilização das artes no Reino de Deus, capacitando os artistas para a realização de seu trabalho;
18. Incentivamos os músicos a expressar em sua arte a beleza de Deus por meio de uma contextualização e diversidade musical;
19. Reconhecemos o caráter essencialmente transformador e questionador da nossa arte e não cremos que ela deva estar a serviço do mercado;
20. Muito embora os artistas cristãos não se devam render aos senhores da mídia, tornando-se reféns desta, podem utilizar de maneira ética os meios de comunicação como canal para a divulgação de sua arte, proclamando, assim, o Reino de Deus;
21. No que se refere ao relacionamento entre os músicos e a liderança eclesiástica, encorajamos o diálogo, o respeito e o reconhecimento mútuo de seus ministérios como algo dado por Deus;
22. Incentivamos que os artistas cristãos busquem perante o Estado e a iniciativa privada recursos para a promoção de sua arte por meio de leis de incentivo à cultura, editais para financiamento de projetos culturais etc.
23. Encorajamos as igrejas a investir na educação e na formação de artistas;
24. Propomos que as igrejas e as instituições de ensino teológico incentivem as diversas manifestações artísticas e não somente a área musical;
25. Compreendemos que o ofício de artista é legítimo como tantos outros, podendo ser exercido pelo artista cristão no mercado de trabalho e devendo ser apoiado e incentivado pelas comunidades cristãs.
Publicado em 2009
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