“É fato que existem cantores utilizando músicas cujas letras são meio vazias, mas o pessoal acaba consumindo”, diz Roberta Spitaletti

Por Jénerson Alves


Com uma voz linda e canções que tocam no coração, a cantora Roberta Spitalettitem se destacado no ambiente musical cristão. Seu repertório é formado por letras inteligentes e melodias doces. Diferencial em um meio com artistas – que se autodenominam ‘levitas’ –, Roberta Spitaletti representa um oásis de esperança para a qualidade da música cristã. A jovem esteve em Caruaru no último dia 25 de julho, durante o Congresso de Jovens Adventistas, quando concedeu uma entrevista exclusiva para Presentia. Na conversa, ela demonstrou um brilho que vai além do talento, apresentando um posicionamento coerente quanto a temas polêmicos, mas sem perder a leveza e a simpatia. Confira:

Roberta, atualmente, a música chamada gospel ganha cada vez maior evidência. No entanto, esse cenário tem sido principalmente mercadológico, e não teológico. Como você avalia essa situação?

Existe isso, sim. Infelizmente, uma grande parte do público consome esse tipo de música. Não estou julgando, nem dizendo que Deus não usa, mas é fato que existem cantores utilizando músicas cujas letras são meio vazias, mas o pessoal acaba consumindo. Se você me fez essa pergunta, é porque você já fez essa análise e sabe do que eu estou falando. Mesmo assim, eu fico feliz, porque agora estou vendo se levantar cantores e compositores que estão trazendo músicas com uma qualidade maior, mais teológica, com letras mais inteligentes, com experiências, conteúdo bíblico e autenticidade. Há um público que está exigindo isso. Não adianta ficar apontando os outros, temos de fazer o nosso, junto com Deus. E deixar tudo nas mãos dEle.

A questão de cantores evangélicos interpretarem música secular também é muito polêmica. O que você pensa sobre esse tema?

Eu acho o seguinte: para mim, existe música boa e música ruim. Música que me agrega e música que não me agrega. Pela letra, você percebe isso. O que define a música cristã? Foi criado um ‘padrão’ para o que tem ou não ‘unção’. Se estiver falando ‘Jesus’, esta música é gospel. Porém, há músicas minhas, nas quais eu estou falando completamente sobre Deus, mas não tem a palavra Deus. Então, o que define uma música como gospel ou não? Acho que cabe à pessoa que escuta buscar o que acrescenta a ela, o que a leva para perto de Deus. Há músicas que não me trazem nada, mesmo de cantores ditos gospel.


Você espraia esse conceito para outras áreas artísticas?

Sem dúvida. Não tenho preconceito algum. Sou a favor, sim, de muita cultura. Quando visito alguma cidade, faço questão de conhecer os aspectos culturais do lugar, porque eu vivo de arte. Deus é um artista. É um privilégio ter essa oportunidade. Amo ler. Leio de tudo, desde que me acrescente. O controle é nosso daquilo que vai entrar em nossa vida. A escolha é nossa.

Você é adventista do sétimo dia. Muitas vezes, os adventistas são vistos como um povo legalista. Essa imagem ainda persiste, com relação à Igreja?

Eu acho que Cristo não veio abdicar da Lei, mas veio fazê-la cumprir. A Igreja Adventista mudou um pouco, por causa da mudança das gerações. A essência da Igreja é a mesma. Porém, o discurso não é mais limitado ao que pode ou o que não pode. Muitas vezes, a gente procura igreja como quem compra geladeira: vendo o que é permitido ou o que não é permitido naquele ambiente.
Eu sou adventista de berço. Sou muito feliz por ser adventista. Contudo, acima de tudo, levo Jesus para as pessoas, sem preconceito. Cristo veio falar de amor e é para isso que estou aqui. Eu sou feliz por a minha igreja me receber, eu poder levar um pouquinho da minha igreja para outros lugares, mas sou mais feliz por poder, acima de tudo, levar Jesus para as outras pessoas.

 
Atualmente, do ponto de vista político, um dualismo se apresenta, no qual os cristãos ficam de um lado e os homoafetivos de outro. Em sua opinião, esse maniqueísmo é negativo para a igreja?

Eu acho que é negativo. A Bíblia deixa clara a posição [quanto ao homossexualismo], porém, acima de tudo, Deus é amor. Independente de quem seja a pessoa, ela é bem vinda em nosso meio, não importa o que é, o que tem feito ou o que faz. A transformação vem de Deus. Quem sou eu para julgar? Se as pessoas tiverem essa consciência, a igreja vai ser uma casa para qualquer pessoa. Eu acho que é isso o que Deus quer.

Essa foi a primeira vez que você veio a Caruaru. O que você achou da cidade?

Ah, estou achado engraçado o tempo. A cada hora, literalmente, chove e faz sol. Fica entre o frio e o calor (risos). Estou espantada também com o céu. Agora há pouco, havia um arco-íris lindo aqui. Vocês têm sorte. Lá em São Paulo, às vezes, eu nem vejo o céu.  É um privilégio de vocês. A cidade é linda. Estou gostando muito.

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