Calvino Rocha - MÁRTIR DA PAZ?


Há alguns anos, uma canção fez parte do cancioneiro evangélico e foi cantada, incansavelmente, em nossas igrejas e dizia: “Ele veio ao mundo para ser o mártir da paz...”


Lembrei-me desta canção, nos últimos dias, porque hoje, 21 de abril, feriado nacional, comemoramos o dia de Tiradentes. Joaquim José da Silva Xavier, nascido na Fazenda de Pombal, entre São José (hoje Tiradentes) e São João Del Rei em Minas Gerais, em 1746, tornou-se o mártir da inconfidência mineira.

Segundo o dicionário, mártir é “aquele que preferiu morrer a renunciar à fé, à sua crença”. Como alguém definiu: “Mártir é aquele cuja morte é imposta de modo irreversível por religiosos, autoridades e indivíduos de crenças opostas e intolerantes. O mártir só escapa da morte se voltar atrás e negar sua fé, nem que seja no último instante da vida”. Isto aconteceu com André la Fon, um alfaiate calvinista, um dos responsáveis pela “Confissão de Fé da Guanabara”, teve a sua sentença comutada à prisão perpétua e foi poupado por Nicolau Durand de Villegaignon de ser estrangulado e jogado na Baía de Guanabara, em fevereiro de 1558.

Precisamos lembrar que, diferente de qualquer mártir que morre por uma causa, causa que nem sempre vence e cuja sentença lhe é imposta, Jesus morreu voluntariamente, ele entregou a sua vida por nos amar. Além disso, Jesus não morreu por uma causa perdida ou uma causa que morreria com ele, portanto, é inadmissível chamar Jesus de mártir. 

Enquanto os mártires são mortos, Jesus, que se entregou voluntariamente à morte, venceu a morte. Ao terceiro dia ele ressuscitou e como diz o Credo Apostólico: “Subiu ao céu e está sentado à direita de Deus Pai, de onde há de vir julgar vivos e mortos”.

A morte voluntária de Jesus, naquele madeiro, foi muito bem traduzida pelo apóstolo Paulo de maneira magnífica: “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fossemos feitos justiça de Deus” – (II Co. 5.21).

Quem tenta transformar Jesus em mártir o reduz a mero ser humano, nega a suficiência da sua obra e roubando-lhe a divindade o que é inadmissível; mais do que isto, é uma heresia.


Pr. Calvino Rocha

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