Sem direito à justiça

Nos últimos dias do mês de setembro de 2011, a atenção da mídia internacional ficou voltada para o Irã. Desta vez, o assunto não era a questão nuclear, mas as últimas audiências do pastor Youcef Nadarkhani, na casa dos 30 anos, acusado de apostasia. Segundo a sharia, conjunto de leis islâmicas, a apostasia é o crime para quem abandona o islã para converter-se a outra religião. E a sentença para tal ato é a morte.

A acusação original contra Nadarkhani, entretanto, aconteceu porque ele queria que seus filhos fossem educados em escolas cristãs. Como seus antepassados eram muçulmanos, isso automaticamente o classifica como tal e seus filhos não serem educados debaixo dos preceitos islâmicos seria uma violação da lei.

A última execução por apostasia ocorrida no Irã se deu em 1990, portanto, é uma forma rara de sentença de morte. O que quase sempre acontece com os cristãos atualmente são assassinatos brutais que não são resolvidos por parte da polícia. Ninguém é acusado ou sequer existe investigação. No caso do pastor, sua morte ocorreria por enforcamento.

O tribunal da província de Gilan ofereceu, de forma “compassiva”, segundo a lei sharia, três oportunidades para Nadarkhani voltar à “religião de seus antepassados”. A terceira e última chance foi no dia 28 de setembro e o pastor não aceitou negar a Cristo. Até o fechamento desta matéria, a sentença não havia sido decretada, o que causou muito apreensão.

Comentários sobre a anulação da execução foram divulgados, mas o Centro Americano para a Lei e Justiça (ACLJ, em inglês), entidade que tem trabalhado junto ao pastor, acredita que essa foi uma estratégia do Serviço Secreto Iraniano para impedir que a mídia continuasse cobrindo o caso. Várias emissoras de TV internacionais, jornais e blogs reportaram a situação. A Casa Branca também comunicou sua preocupação e criticou a condenação de Nadarkhani. “O pastor Nadarkhani não fez nada além de manter sua fé, que é um direito universal de todas as pessoas”, disse a declaração vinda de Washington.

Além disso, no Brasil, jornalistas como Reinaldo Azevedo comentaram a atrocidade em seus blogs. Políticos como o senador Marcelo Crivella levaram o caso ao Plenário e pediram ao governo do Irã que poupasse a vida do cristão.

As boas relações diplomáticas do Brasil com o Irã desde o governo Lula podem influenciar e ter “voz” mais ativa do que muitos outros países em relação a este caso. Pensando nisso, a Portas Abertas, organização que lida com a perseguição religiosa no mundo criou ações em favor da vida de Nadarkhani por meio de um abaixo assinado para que os brasileiros pressionassem o presidente do Senado, José Sarney, a enviar carta de apoio ao pastor Youcef em nome do Senado Federal conforme solicitação do senador Paulo Paim. Além disso, a entidade enviou outro abaixo assinado para que o Itamaraty, ou seja, o ministério de Relações Exteriores do Brasil se pronunciasse publica e favoravelmente pedindo pela vida do pastor Youcef.

Ainda que a pressão internacional tenha efeito sobre a decisão da sentença, o pastor não sairá ileso. Punições como um longo período na prisão pode ser o resultado do “perdão”, uma vez que, se o tribunal simplesmente o liberar poderia ser visto como uma derrota. Mas acredita-se que a prisão também continuará causando pressão ao governo iraniano.

“Eles provavelmente não irão matá-lo hoje, mas podem fazer isso quando quiserem”, disse uma fonte ligada ao caso do pastor Nadarkhani para a agência internacional de notícias Compass Direct. “Eles podem enforcá-lo ao meio dia ou então daqui a 10 dias. Às vezes entregam o corpo para a família junto com o veredito. Eles têm ultrapassado as fronteiras da lei”.

Nos dias da audiência, a esposa de Nadarkhani estava muito apreensiva com relação à decisão do tribunal. O casal tem dois filhos: Joel, 7 e Daniel, 9. “A mulher dele está em depressão e preocupada. É uma situação difícil para toda a família”, relatou a fonte. O pastor Youcef conseguiu ver seus filhos durante a audiência pela primeira vez desde março. “Ele estava de bom humor e falava de sua enorme vontade de servir a Igreja depois que fosse libertado da prisão”, revela o Compass.

Fato interessante no caso do cristão Youcef Nadarkhani é que seu advogado, Mohammad Ali Dadkhah, é muçulmano com grande expertise em Direitos Humanos e está cuidando do caso do pastor. “Isso mostra que pessoas de diferente fé estão dispostas a arriscar suas próprias vidas e carreiras para salvar outros”, alerta Jordan Sekulow, diretor executivo da ACLJ.

Comentários