QUEM SOMOS? Mitos de origem que revelam nossa identidade

Eu e meu bumbum, meu bumbum e eu, meu bumbum sou eu?

A mulher brasileira e sua crise de identidade

Pedalando um dia para perder peso (ato e preocupação tipicamente pós-modernos) na estradinha barrenta na beira do rio onde moro, passei na frente de uma igreja da Assembléia de Deus, construída de madeira mas ainda tipicamente desenhada com a torrezinha na frente a porta larga e a pintura azul turquesa. É uma igreja de poucos anos, nossas equipes evangelizando pelas redondezas ajudaram a abrir, assim como outras de denominações diferentes há poucos quilômetros de distancia na mesma trilha ribeirinha.

Nada seria estranho na cena se não fosse domingo. Era domingo de manhã. Tenho que explicar que a igreja que eu freqüento, não tem escola dominical senão provavelmente alguns já se indisporiam com meu Cristianismo além do necessário. Lá vou eu minha roupa de ginástica, um tanto apertada, CD player no ouvido a todo vapor com o novo disco da Maria Rita. Aliás o CD player nem é meu é do meu filho de 12 anos, e faz pouco tempo que descobri o prazer que há em isolar-se do mundo com música digital no ouvido.

Passei na porta da igreja e o culto ia a todo vapor. Homens de um lado, mulheres de outro, camisas de manga comprida de colarinho nos homens, apesar do calor, mulheres bem vestidas nas suas saias de domingo. Eram poucos, e no relance que captei na minha passagem ciclística, estavam de pé, de mãos estendidas uns para os outros orando.

Eu tinha tempo, e apesar da Maria Rita, fiquei pensando naquelas orações. Posso dizer que as conheço bem, missionária que fui junto com a Assembléia, de coque e tudo, por cerca de um ano no nordeste. São orações intensas, cheias de vida, mas que como todas orações de todos os grupos religiosos, por difícil que nos pareça esta afirmação, seguem um determinado padrão cultural.
Que diferença haveria entre mim, a crente pós-moderna, escutando música categorizada como “música do mundo” por uma grande parte dos cristãos evangélicos, e aqueles irmãos ali de mãos estendidas, reproduzindo no meio da Amazônia fielmente a cultura aprendida e passada de geração em geração desde o início do século passado? E aí apesar de parecer não quero com isto fazer nenhuma crítica, ou julgamento de valores sobre os irmãos da Assembléia. Não me senti nem me sinto melhor do que eles. Até pelo contrário minha tendência religiosa é me sentir acusada ali naquele momento, pedalando ao invés de estar em algum culto impondo a mão sobre alguém, mesmo sabendo que minhas horas de pedaladas são sempre horas maravilhosas na presença de Deus.

É claro que esta discussão começa com o conceito de Cristianismo e identidade cristã. Ser cristão será viver debaixo da obrigação de seguirmos uma determinada cultura considerada cristã, ou pode haver um Cristianismo livre para descobrir e reformar sua própria cultura, livre para seguir a essência dos ensinos de Jesus e independente das referências comuns da cultura evangélica? Jesus era evangélico? Se ele estivesse vivo hoje seria ele um pastor evangélico? Será que ser cristão conflita diretamente com o ser brasileiro? Posso continuar sendo brasileira e ainda assim refletir Jesus?

Será que existem hábitos, costumes e comportamentos que pertencem ao nosso evangelicalismo, mas que não pertencem ao Cristianismo? Quem é a mulher brasileira e quem é a mulher cristã brasileira? Qual é a diferença entre as duas?
O Cristianismo que não questiona que não pergunta, repete e copia. Copiamos formas vazias, repetimos padrões antigos, pecados e conceitos antigos. Somos fora de moda até nos pecados que cometemos.
Foi aí que parou meu pensamento diante da igrejinha de madeira.

Braulia Ribeiro

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