O Perdão dos Pecados e o Pecado do Perdão

Toda Criação foi originalmente perfeita e em harmonia com o seu Criador. O Pecado Original trouxe o mal e a morte. Apesar da ainda pálida presença da imagem de Deus a Pecaminosidade é a marca atual da humanidade caída. Essa Pecaminosidade se expressa – por ações, omissões, palavras e pensamentos – por sintomas chamados “pecados”: pessoais, familiares, grupais, comunitários, nacionais. O Pensamento Reformado afirma esse estado de Pecaminosidade e seus sintomas antes que uma hierarquia de pecados “veniais” e “mortais”. Com a Palavra de Deus confessamos que fomos concebidos em pecado, que todos somos pecadores e que não há ninguém justo. O Objetivo da Lei é a consciência de pecado e de perdição, e a busca do perdão com mudança de vida.

Ao longo da Antiga Aliança, indivíduos, tribos e nações pecavam, e Deus enviava os seus profetas para reafirmar os seus estatutos e chamar ao Arrependimento. Sem arrependimento e mudança não haveria perdão.

No Novo Testamento a primeira exortação apostólica após o Pentecostes foi: Arrependei-vos!

Não se deve confundir arrependimento com mero sentimento de culpa ou remorso. Arrependimento vem pelo Espírito, em harmonia com a Palavra, em uma experiência de libertação e de mudança.

O Perdão de Deus vem apenas com a precondição do arrependimento.

E o que dizer de sua dimensão horizontal: o perdão das pessoas entre si?

O Senhor nos manda perdoar os nossos inimigos até setenta vezes sete. Esse exercício unilateral do perdão, porém, tem efeito apenas para o ofendido perdoador, como experiência espiritual e emocionalmente libertadora para ele. E é bom e desejável que isso aconteça. Mas esse perdão não tem qualquer implicação ou benefício sobre o ofensor que não se arrependa de modo eficaz, consciente, quebrantado e mudado.

Há, assim, um grande e perigoso equívoco com teologias recentes de “ministração de perdão” sem chamamento do pecador ofensor ao arrependimento. Essa atitude – sentimentalista e bem intencionada – apenas reforça o empedernido em seu pecado, em seu não-quebrantamento. Essa “ministração” concorre para o mal.
Há muito pecador empedernido continuando em sua maldade, não deixando os seus caminhos maus e dando risada da ingenuidade dos seus irmãos.

Se concorrer, de alguma forma, para a manutenção do pecado, o perdão unilateral, nessas circunstâncias, se torna também em um pecado.

Que não alimentemos o pecado com o pecado do nosso perdão!

Arrependei-vos!

Dom Robinson Cavalcanti
Bispo Diocesano

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