ESPECIAL NATAL 2010

A infância de Jesus‏

Que no Natal se comemora o nascimento do Menino Jesus não é novidade nenhuma. Entretanto, do momento em que a Virgem Maria deu a luz ao filho até o início do ministério do Salvador – então aos 30 anos – pouca coisa se sabe. Na Bíblia cristã, apenas o Evangelho de São Lucas registra trechos da infância de Jesus. No capítulo 2, o autor narra o episódio no qual o menino passou três dias no templo de Jerusalém, “assentado no meio dos doutores, ouvindo-os e interrogando-os”.

O que pouca gente sabe é que há, no mínimo, 20 outros evangelhos, que não fazem parte das versões da Bíblia reconhecidas pelos grupos cristãos contemporâneos. Em parte desses livros, há relatos curiosos e às vezes assombrosos sobre a infância de Jesus.

Uma das passagens do Evangelho de Tomé, por exemplo, conta até ‘traquinagens’ feitas pelo Filho de Deus enquanto na Terra: “Fez depois uma massa mole de barro e com ela formou uma dúzia de passarinhos. Era sábado e havia outros meninos brincando com ele. Porém, certo homem judeu, vendo o que Jesus acabara de fazer num dia de festa, foi correndo até José e contou-lhe tudo: ‘Teu filho está no riacho juntando barro, profanando com isso o dia de sábado.’ José veio ter ao local e, ao vê-lo, ralhou com ele dizendo: ‘Por que fazes no sábado o que não é permitido fazer?’ Mas Jesus, batendo palmas, dirigiu-se às figurinhas ordenando-lhes: ‘Voai!’ E os passarinhos foram todos embora gorjeando.”

No mesmo texto, há narrativas que podem ser consideradas, no mínimo, ‘estranhas’pelos fiéis, como esta: “(...) Ele andava em meio ao povo e um rapaz que vinha correndo esbarrou em suas costas. Irritado, Jesus lhe disse: ‘Não prosseguirás teu caminho.’ E imediatamente o rapaz caiu morto.”

A maior parte desses livros foi escrita entre os séculos 2 e 3 da Era Cristã, e são chamados ‘apócrifos’. Essa palavra vem do termo grego ‘Apokryphos’, que originalmente significa ‘escondido’ e referia-se a ensinamentos que o Mestre teria dado exclusivamente aos discípulos e não deveriam ser ministrados em ocasiões públicas. Com o passar do tempo, todavia, a palavra ‘apócrifo’ ganhou o significado de textos que não são autênticos.

Inclusive, o bispo diocesano de Caruaru, Dom Bernardino Marchió, orienta que esses escritos não podem ser tidos como sagrados. “Os livros apócrifos não fazem parte da

Bíblia, por isso não são muito confiáveis”, diz. Mesmo assim, essas obras fundamentam certas tradições, como a de que São Pedro teria sido crucificado de cabeça para baixo. Os nomes de alguns personagens não citados na Bíblia aparecem no Evangelho de Tiago, que registra os nomes dos pais de Maria (Joaquim e Ana). Já o Evangelho de Nicodemus diz que os dois ladrões que foram crucificados ao lado do Messias eram Dimas e Gestas.

Existe um manuscrito denominado ‘Evangelho dos Doze Santos’, que apresenta um Jesus defensor da reencarnação e do vegetarianismo. Esses escritos, encontrados em um monastério budista em 1880, apresentam indícios de uma possível relação entre Cristo e os essênios – grupo piedoso e místico que vivia em pequenas comunidades rurais, cultivando a agricultura de subsistência, em um estilo de vida ascético. Como se consideravam ‘puros’, os essênios eram politicamente alienados.

O teólogo batista Samuel Couto discorda dessa hipótese. Segundo ele, se Cristo tivesse tido formação essênia, não teria se engajado socialmente, tocado em leprosos e se alimentado com pecadores. “Eu imagino que Jesus passou a infância ao lado do pai, aprendendo a profissão de carpinteiro, pois esse era o costume judaico daquela época”, afirma.
Jénerson Alves é Batista, Jornalista e colabora com o Programa de Rádio Espaço Livre e Presentia.

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