“Vamos empreender uma forma diferente de fazer gestão: com transparência e com diálogo”, declara Raquel Lyra


Por Jénerson Alves

Na série de entrevistas com os candidatos a prefeito de Caruaru do Programa Ivo Sutter (Nova FM 105,9/Presentia), a postulante Raquel Lyra (PSDB) deixou claro que quer ser prefeita para fazer uma gestão diferente, unindo a cidade e equilibrando o centro e a periferia. Ela disse que as pessoas já sabem o que querem e o papel do poder público é viabilizar o acesso do cidadão a oportunidades. Confira:

IVO SUTTER – Caruaru faz parte do Polo de Confecções do Agreste, com uma economia voltada para a produção e comercialização de materiais têxteis. Na sua opinião, a permanência da Feira da Sulanca no centro pode comprometer a pujança econômica da cidade?

RAQUEL LYRA – Nós vamos transferir a Feira da Sulanca de graça para o pequeno feirante, que tem um pequeno comércio, que produz 200, 300 peças durante a semana e comercializa-as na feira. O modelo que está proposto por nós é este. A quem tem box, a quem tem loja, daremos oportunidades de linhas de crédito para que eles tenham acesso à nova Feira da Sulanca. Já no primeiro dia de governo, vamos cuidar da iluminação, da limpeza, da segurança – com câmeras de monitoramento, da construção de banheiros, onde a feira está hoje. Vamos criar um órgão específico da Prefeitura para cuidar só da Feira. Teremos oportunidade de construir um modelo de gestão da nova Feira com o feirante. Hoje, a Feira é um bem público e ela vai continuar sendo tratada como bem público. Dizem, por aí, que não é viável essa transferência. Você, que é feirante e está nos ouvindo hoje, paga R$ 15 pelo chão a cada feira. Se nós multiplicarmos esse valor pela quantidade de feirantes, isso dá R$ 7 a R$ 8 milhões por ano, o que nos credencia a buscar recursos em bancos, no Governo Federal, e recursos próprios para investir na nova feira. Vamos revitalizar o Parque 18 de Maio, recuperá-lo com as características de polo cultural, gastronômico e de lazer. Equipamentos como a Casa Rosa, a Casa de Cultura e o Mercado de Farinha serão recuperados e daremos oportunidade para que eles sejam explorados do ponto de vista cultural e fazendo girar nossa economia.


IVO SUTTER – A cidade possui diversos loteamentos irregulares, deixando a população carente de serviços básicos. A senhora acredita que a cidade precisa de uma reforma urbana que discipline as condições de moradia, sobretudo para a população mais carente?

RAQUEL LYRA – Caruaru cresceu muito nos últimos anos, porém não foi um crescimento ordenado. O poder público não conseguiu acompanhar esse crescimento. Temos mais de 50 loteamentos irregulares na cidade de Caruaru. Isso implica que as pessoas não tenham acesso à iluminação, água, saneamento. O transporte público não chega, nem calçamento. Não há escolas. Isso tudo está amontoado no Ministério Público, no gabinete da doutora Gilka Miranda. Quem tem de tomar as rédeas desse debate é o Poder Público – serei eu, a partir de 1º de janeiro. Como vamos lidar com essas áreas irregulares que já existem e, daqui para frente, a Prefeitura tem de ter capacidade de acompanhar esse crescimento e aprovar esses loteamentos da forma correta, quando houver a infraestrutura necessária.
A gente precisa de um Plano Diretor na cidade. O Plano Diretor é uma lei que diz para onde a cidade vai expandir. A gente precisa de 19 mil habitações populares em Caruaru. Ora, o Plano Diretor de Caruaru foi feito em 2004 para ser atualizado em 2014, nós estamos com dois anos de atraso. Precisamos ter um Plano Diretor revisado e uma Prefeitura aparelhada para lidar com essas questões. É assim que a gente quer cuidar do futuro.


IVO SUTTER – A Segurança Pública é de atribuição do Governo do Estado. Porém, Caruaru possui a Guarda Municipal, que conta com um efetivo de 39 profissionais. Segundo o IBGE, o município possui 347.088 habitantes. A proporção é de 8.899 habitantes para um guarda municipal. Esse efetivo é suficiente? O que a senhora pretende fazer para minimizar a insegurança do cidadão?

RAQUEL LYRA –A questão da segurança em Caruaru é a maior angústia que o caruaruense vive. Quando a gente conversa com a população, percebe que as pessoas têm medo de saírem à noite, de irem à calçada, à praça. Hoje vivemos sob o manto do medo. E ninguém é capaz de resolver isso sozinho. A gente tem uma clareza sobre isso. Assim que ganharmos as eleições, nós iremos unir toda a sociedade caruaruense – as polícias, o Ministério Público, os movimentos sociais, as igrejas, os órgãos representativos da sociedade, associações comunitárias e a população em geral – para construir um grande pacto, que chamaremos de ‘Juntos pela Segurança’. Com essa união, encontraremos os caminhos para a solução dos problemas da nossa cidade. Dia a dia, mês a mês, encontraremos os rumos para que a tranquilidade volte ao nosso município. É claro que não vamos nos eximir de ações concretas que podem ser adotadas imediatamente pelo poder público – iluminação de qualidade, com lâmpadas de LED, construir parcerias que permitam esses equipamentos no centro, na periferia e na zona rural. Temos de acabar com essa história de toque de recolher, ou com um biquinho de luz que o camarada coloca na frente de casa para ter um ‘pingo de luz’ na rua. As praças e os parques públicos devem ser iluminados, para que sejam ocupados, é preciso aumentar e qualificar o efetivo da Guarda Municipal – 39 não são suficientes. Se eles trabalham em um esquema de turnos, dá uma média de 07 a 08 guardas por dia. Nós vamos criar a Ronda Rural, a Patrulha Escolar e vamos fazer, sim, uma grande força junto ao Governo do Estado, para que o IV Batalhão fique exclusivo para a cidade de Caruaru, além de instalar câmeras de monitoramento nos locais mais violentos de nossa cidade, em um trabalho que combata a violência, para que o bandido esteja preso e a população livre, com direito de ir e vir.

 
IVO SUTTER – Nos últimos anos, Caruaru desenvolveu-se no ponto de vista educacional, sobretudo por causa das instituições de ensino superior. No entanto, fortalecer a Educação Básica continua sendo um desafio, desde o deficit na quantidade de creches às dificuldades estruturais no Ensino Fundamental. Há algum projeto que valorize a formação das crianças caruaruenses?

RAQUEL LYRA – Nós ouvimos mais de 1.500 pessoas, para construir nosso Plano de Governo. Fizemos um diagnóstico da cidade de Caruaru. Hoje nós temos 977 vagas de creche. Nós queremos construir 8 mil novas vagas de creche. Isso vai resolver a questão da criança, que estará na escola logo cedo – assim prevenindo a questão da violência –, e a questão da mãe, que cuida da criança e precisa sair para trabalhar. Vamos trabalhar na qualidade das creches. Para se ter uma ideia, no bairro do Salgado é preciso construir oito novas creches. A gente tem um vazio no Indianópolis, no Boa Vista, na área rural. Vamos construir creches onde há necessidade, para que a criança, desde cedo, tenha acesso à educação.

Vamos garantir escolas de tempo integral com uma proposta em que o aluno possa ter uma formação integral, com acesso a cultura, a esportes, a lazer. Os prédios devem ser adequados. A criança deve chegar ao Ensino Médio com qualidade e conectado ao mercado de trabalho. Estive conversando com alguns jovens agora há pouco e eles falaram o quanto é grande o desafio do primeiro emprego, da oportunidade de entrar no mercado de trabalho. O poder público tem a capacidade de induzir que se abra a oportunidade do primeiro emprego e que se ofereça capacitação para quem busca empreender. A gente só perde o jovem para o crime quando ele não tem oportunidade.

IVO SUTTER – Não se pode falar de Educação sem mencionar as condições de trabalho dos professores. O seu governo procurará estabelecer um diálogo aberto com a categoria, favorecendo quesitos como salário, carreira, condições e efetivação profissional?
RAQUEL LYRA – Nós vamos refazer o Plano de Cargos e Carreiras, dialogando diretamente com o professor. Vamos empreender uma forma diferente de fazer gestão: com transparência e com diálogo. Isso começa com os profissionais que fazem o serviço público. É preciso dar condições dignas de trabalho aos professores. É preciso acabar com os anexos das escolas públicas. Esses anexos funcionam em fundos de garagem, não permitem o aluno ter um dia de recreio. Nem ele nem o professor, muitas vezes, não têm sequer água para beber. Muitas vezes, a caderneta está chegando no meio do ano! Como é que o professor pode acompanhar o rendimento do aluno se ele não tem nem a caderneta? Vamos garantir condições de trabalho, clareza, transparência, qualificar o professor e permitir o incentivo à formação dele, para que ele tenha progressão nesta carreira. Se a gente quer uma educação revolucionária da sociedade, a gente tem de tratar o professor com muita dignidade.
Quero falar para quem está na zona rural. Vamos acabar com a sala de aula multi seriada. Essa sala de aula onde um professor dá aula a muitas séries ao mesmo tempo. Isso dá muito trabalho não só ao professor, mas principalmente ao aluno. Eu escutei de uma mãe lá de Cachoeira Seca que o filho dela de 08 anos e não consegue ler nem escrever. Ele está em uma sala multi seriada, com duas turminhas ao mesmo tempo. O menino pensa que está tendo aula, o professor tenta ensinar, mas o fato é que nossos alunos, muitas vezes, estão saindo analfabetos do Ensino Fundamental. Vamos mudar essa realidade em Caruaru, fazendo um enfrentamento real da situação física, estrutural e de pessoal que temos em nossa cidade.

IVO SUTTER – Salta aos olhos a crescente quantidade de veículos que circulam pelas ruas da cidade, o que muitas vezes dificulta o bom andamento do trânsito. Vias estreitas, calçadas irregulares, ausência de acessibilidade provocam estorvos para pedestres e condutores. De que forma o trânsito pode ser melhor ajustado no município?
RAQUEL LYRA – A mobilidade da cidade de Caruaru não é enxergada para as pessoas. Quem está na periferia e precisa ir ao bairro vizinho precisa sempre vir para o Centro, perdendo tempo e dinheiro. É desnecessário que todos os ônibus de Caruaru venham para o Centro. Com um plano de mobilidade, vamos resolver essa questão. Também precisamos resolver outras questões, que não só o transporte motorizado. 70% da população de Caruaru anda a pé, de ônibus ou de bicicleta. A gente quer construir a Via Parque, ao longo da Linha Férrea, que vai passar por 14 bairros, integrando a cidade, beneficiando 150 mil pessoas. Vai ser uma nova forma de enxergar e conectar Caruaru. É assim que a gente quer privilegiar o transporte público, com linhas de ônibus exclusivas, com apoio ao mototáxi, os abrigos de ônibus adequado, embarque e desembarque rápido na XV de Novembro. Não é uma solução apenas. Desconfio muito quando falam de soluções fáceis e simples para problemas complexos. A gente tem de discutir a cidade inteira para garantir uma cidade que tenha mais qualidade de vida para as pessoas.

IVO SUTTER – Conhecida mundialmente devido à sua diversidade cultural, boa parte dos artistas da cidade reclamam da falta de estrutura para desenvolverem seus trabalhos. Em Caruaru, há eventos demais e base cultural ‘de menos’? É necessário tornar a cultura um setor economicamente ativo?
RAQUEL LYRA – Sem dúvida. Caruaru tem uma cultura riquíssima. A gente consegue dialogar com todas as linguagens culturais. Nós somos fortes no teatro, na música, na dança, nas artes figurativas, na literatura, no cordel, na banda de pífanos, tradições culturais como o bumba-meu-boi e o bacamarte. Como é que tudo isso se resume ao período junino? Temos de criar um calendário turístico e cultural para a nossa cidade viver e respirar, durante o ano inteiro, a cultura. É preciso fortalecer a gestão da cultura municipal. Vamos criar editais para fomentar a participação de quem faz cultura. Muitas vezes, o artista luta tanto para conseguir recursos para produzir um CD, para produzir um show, e há como distribuir recursos por meio de editais bem programados. Assim, fortalecemos a vinda dos turistas. Diga-me: se você recebe um turista em Caruaru, para onde o leva, para ver um forró? Nenhum lugar. Agora, se colocamos a Casa Rosa como um polo cultural no Parque 18 de Maio, com os cordelistas, com os tocadores de pífanos, ligados ao Artesanato, ao Alto do Moura – com uma lei que proteja o Alto do Moura e fomente a permanência dos jovens artesãos ali. Fala-se muito de uma nova economia – a Economia Criativa – que nada mais é do que a economia do barro, da música, da moda, gerando emprego e renda, oportunidade de trabalho. Vamos diversificar nossa economia e permitir que a pessoa viva da cultura.

IVO SUTTER – Uma das maiores dificuldades enfrentadas pelo SUS é o acesso do paciente aos equipamentos de saúde. De que maneira o poder municipal pode se inserir neste contexto, favorecendo os pacientes no que concerne aos cuidados médicos?
RAQUEL LYRA – Na Saúde, a gente quer ampliar para 100% o atendimento da Unidade de Saúde da Família. O agente comunitário de saúde, que vai na casa de cada um, acompanha o perfil da família – quem é diabético, hipertenso, precisa de um cuidado especial. Caruaru tem 67% de cobertura pelo Saúde da Família, enquanto a gente precisaria atender a 83%, que são aqueles que não têm dinheiro para pagar plano de saúde e precisam do sistema público. Para isso, a gente precisa contratar 30 novas equipes de Saúde da Família. Ao longo dos quatro anos de equipe, vamos contratá-las. Para instalá-las, vamos criar um novo modelo de Unidade de Saúde, que vai se chamar ‘Ame Caruaru’. Essa Unidade vai abrigar a equipe, o núcleo de apoio, e agregado a tudo isso uma Academia da Saúde, com atividade física supervisionada. A gente quer fazer assim, de modo diferente, garantindo exames e medicamentos, dando prioridade a quem é doente crônico e precisa desse tratamento. Conversei com uma pessoa que estava tentando ser operada há dois anos. Ela já fez o exame cinco vezes. Toda vez que consegue receber o resultado do exame, ele já está vencido, ela tem de o fazer de novo.
Nas comunidades mais longínquas, onde a equipe de Saúde da Família tem dificuldade de chegar, vamos colocar uma unidade de saúde móvel, com médicos, para chegar a essas comunidades e vamos colocar o dentista dentro do Programa Saúde da Família, garantindo o direito de a nossa população sorrir.

IVO SUTTER – Caruaru tem áreas ambientais a serem preservadas, desde Serra dos Cavalos ao Rio Ipojuca. Como conciliar o desenvolvimento do município com o cuidado ambiental?
RAQUEL LYRA – É a pedida da nova geração. Ou fazemos isso ou não viveremos. Se não cuidarmos de vivermos de modo harmonizado, juntando desenvolvimento econômico com respeito ao meio ambiente, haverá o agravamento de doenças como a dengue, a zika e a chikungunya, que já deviam não existir mais. Nossa cidade cresceu ao longo do Rio Ipojuca. Há 20 anos, as pessoas mergulhavam neste rio. Hoje, ele é um esgoto a céu aberto. A cidade virou as costas para o rio. Vamos trabalhar para ter Caruaru saneada. Petrolina tem 90% de tratamento do esgoto. Queremos que nossa população viva com dignidade. Olhando para a zona rural, não existe um programa sequer de esgoto para a zona rural. O que há são fossas, feitas décadas atrás, que estouram e o contrato com a Compesa não trata disso. Vamos buscar medidas alternativas para fazer com que nossa zona rural tenha acesso a saneamento. É importante também falar sobre nossa água. Temos de ter um uso sustentável da água, garantindo o acesso com um uso racional.

PERGUNTAS DO PROFESSOR.
 
URBANO SILVA – Qual seu plano de ação para a expansão do Distrito Industrial e para a reativação do Aeroporto de Caruaru?
RAQUEL LYRA – Ainda ontem, estive na Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco, na Unidade do Agreste, fazendo um debate, fundamentalmente sobre o Desenvolvimento Econômico. Pelos números do que a gente gera de riqueza, as indústrias representam 15%. Porém, como nossa economia é muito informal, a gente não tem isso claramente medido. Embora as etapas I e II do Distrito Industrial já estejam preenchidas, elas precisam de urbanização, investimento e infraestrutura. Vamos discutir as prioridades e pactuar com eles como essa situação pode progredir. No Distrito Industrial III – do lado direito, onde está instalado o IFPE –, vamos garantir as condições necessárias de infraestrutrura para atrair novos investimentos. No ano passado, visitei a fábrica da Luzarte e a Cardeal, que mostram que podemos desenvolver nosso centro logístico. Podemos fortalecer essa vocação que nós temos.
Sobre o Aeroporto, temos notícias que há um projeto que foi para a Infraero e voltou. Recentemente, o Governo do Estado anunciou as reformas de Garanhuns e Serra Talhada e não colocou Caruaru. Eu fui à tribuna da Assembleia. Nós vamos brigar, sim, pela reforma do Aeroporto, para poder receber voos e fortalecer nossos turismos e negócios.

URBANO SILVA –Dentro do seu programa de governo, o que há sobre a fixação do homem do campo, com qualidade de vida, agricultura familiar de subsistência e também o fabrico têxtil?
RAQUEL LYRA –Quando a gente fala que o desafio é unir Caruaru, não é trazer todo mundo para a área urbana, mas perceber as diferentes formas de viver em Caruaru. Quando você conversa com o homem, a mulher ou o jovem da zona rural, percebe que ele quer viver lá. Porém, ele quer ter acesso à saúde, educação e qualidade de vida lá. Ele quer a possibilidade de oportunidade de trabalho.
Vamos criar o centro de apoio ao pequeno produtor rural, que levará o trator para arar a terra, limpar o barreiro e abrir estradas. Essas coisas simples têm a ver com o dia a dia do homem do campo. Para quem trabalha na confecção, vamos apoiar a qualificação. Hoje, quem trabalha na confecção vive na sazonalidade, temos de criar alternativas para essa economia. Com emenda parlamentar, estamos trabalhando com a Associação de Mulheres Jovens e Idosas de Cachoeira Seca, trabalhando empoderamento e diversificação da economia. Eu estava me lembrando aqui das patrulhas mecanizadas nos quatro distritos, com ronda rural, lâmpadas de LED. Vamos permitir que quem mora no campo tenha acesso aos mesmos benefícios de quem esteja na cidade. Vamos construir em conjunto com as pessoas. Não vamos dizer às pessoas o que elas querem. Elas sabem muito bem o que querem.

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