“Nossa campanha, por mais que não tenha dinheiro, tem muita dignidade e honra”, salienta Jefferson Abraão
IVO SUTTER – Caruaru faz parte do Polo de Confecções do
Agreste, com uma economia voltada para a produção e comercialização de
materiais têxteis. Na sua opinião, a permanência da Feira da Sulanca no centro
pode comprometer a pujança econômica da cidade?
JEFFERSON ABRAÃO – A questão não é que a permanência da
Feira no centro da cidade possa comprometer... Ela já está comprometendo,
infelizmente. Se formos comparar com a estrutura de outras feiras concorrentes,
ou irmãs, como as de Santa Cruz e Toritama, veremos que nos outros municípios a
estrutura está melhor. É preciso haver melhorias não só para o vendedor em si,
mas também para a mobilidade urbana. Estudos de Segurança Pública mostram que a
Feira não pode continuar como está, pois é inviável realizar ações de
segurança. Porém, nós entendemos que a Feira da Sulanca deve ser pensada
visando à “Dona Maria” cantada na música do Valdir Santos, que representa o
pequeno sulanqueiro. Boa parte da população de Caruaru que faz parte deste
comércio trabalha na autonomia. A mudança Sulanca deve ser pensada para que
tais pessoas tenham acesso, com preços acessíveis e isenção para alguns
sulanqueiros. Não podemos transformar esse trabalhador autônomo em um
desempregado.
Outra coisa é que a Feira não pode ser transferida de
maneira estética. Deve ser colocada uma creche onde a Feira for. A maioria das
pessoas que trabalham na Feira são mulheres, que têm filhos. É comum andar pela
Sulanca e ver crianças dormindo em cima dos bancos, ou mesmo com a farda da
escola, pois dali vão para a escola. Fica difícil cobrar que essa mãe coloque o
filho em um lugar melhor, distante da correria da Feira, se ela não tem onde
deixar. Então, deve ser instalada uma creche onde a Feira for, para que a mãe
coloque o seu filho lá, enquanto estiver em seu serviço.
É preciso também pensar a Sulanca sob o ponto de vista do
meio ambiente. O equipamento onde abrigará a Feira terá um teto gigantesco. E,
por que não montar um sistema que possa captar a água da chuva e gerar a
limpeza do setor?
IVO SUTTER – A cidade possui diversos loteamentos
irregulares, deixando a população carente de serviços básicos. O senhor
acredita que a cidade precisa de uma reforma urbana que discipline as condições
de moradia, sobretudo para a população mais carente?
JEFFERSON ABRAÃO – Sim. A gente precisa de uma reforma urbana. O problema é que
às vezes vemos a discussão pautada em propostas imediatistas. Poucos se lembram
que o Plano Diretor de Caruaru está atrasado há mais de dois anos. Isso acaba
tendo como consequência o excesso de loteamentos irregulares e o crescimento de
Caruaru se tornando um inchaço à mercê da especulação imobiliária. Por exemplo,
para chegar à Vila Andorinha, é preciso pegar alguns trechos que estão calçados
e outros na poeira. Isso é um reflexo da falta de planejamento e
desenvolvimento da cidade, a partir do atraso do Plano Diretor. Outra coisa: é
função do poder público cobrar dos donos de lotes que deem estrutura adequada
para que possam comercializar as terras. O Plano Diretor tem que estabelecer
isso.
O Plano Diretor também tem de atender às demandas
necessárias da cidade. Mas nós temos o bairro José Carlos de Oliveira como um
exemplo, pois é um dos mais antigos e os moradores ainda estão na lama, na
pedra, na terra. O PCB pensa na cidade a partir da periferia, não do Centro, do
Mauricio de Nassau ou da Avenida Agamenon Magalhães.
Ainda nessa lógica, tenho outra crítica sobre a estrutura
dos bairros: alguns bairros têm passado por belas reformas nas avenidas
principais. Eu costumo passar por essas ruas e dizer que elas são ‘para inglês
ver’ – um ditado popular que quem é da área de História conhece muito bem. Porque
duas ruas depois é possível ver ruas que nem saneamento básico têm.
IVO SUTTER – A Segurança Pública é de atribuição do Governo
do Estado. Porém, Caruaru possui a Guarda Municipal, que conta com um efetivo
de 39 profissionais. Segundo o IBGE, o município possui 347.088 habitantes. A
proporção é de 8.899 habitantes para um guarda municipal. Esse efetivo é
suficiente? O que o senhor pretende fazer para minimizar a insegurança do
cidadão?
JEFFERSON ABRAÃO – Primeiramente, nós sabemos que o
principal responsável pela Segurança Pública é o Estado. Eu gostaria até de
citar uma frase do Dilson Oliveira, que diz que Caruaru é “a cidade que tem
mais políticos por metro quadrado que apoiam Paulo Câmara”. Isso é verdade.
Esses caras apoiam Paulo Câmara, mas não cobram os serviços de segurança que
ele deve prestar na cidade. Paulo Câmara, para esse povo, só serve para posar,
tirar foto e ir atrás de apoio político. Ele deve ser cobrado por suas
responsabilidades.
Pois bem. Mas, a Segurança Pública não é, a nosso ver,
responsabilidade Apenas do Estado. Quando há educação de qualidade, escolas com
infraestrutura adequada, baixa evasão escolar, periferia com lazer e cultura, o
índice de violência, com o passar do tempo, diminui. Com os direitos de
cidadania, o índice de violência será diminuído.
É preciso aumentar o efetivo da Guarda Municipal, sim. A
gente defende isso. Porém, a gente não defende que a Guarda Municipal seja
armada. O mundo inteiro vive discutindo políticas de desarmamento de suas
polícias. Não serei eu quem vai defender o armamento da Guarda Municipal. Eu
defendo uma Guarda Municipal humanizada. A Segurança Pública deve ser pensada
como se pensa a Saúde: a partir da prevenção, do acompanhamento e depois do
estágio final, que é a ação direta da polícia.
IVO SUTTER – Nos últimos anos, Caruaru desenvolveu-se no
ponto de vista educacional, sobretudo por causa das instituições de ensino
superior. No entanto, fortalecer a Educação Básica continua sendo um desafio,
desde o déficit na quantidade de creches às dificuldades estruturais no Ensino
Fundamental. Há algum projeto que valorize a formação das crianças
caruaruenses?
JEFFERSON ABRAÃO – Vou responder por partes. Dizer que
Caruaru se desenvolveu do ponto de vista educacional por causa do avanço das
instituições de ensino superior, tudo bem. A gente tem a expansão de várias
faculdades e do campus da UFPE. Mas, a meu ver, Caruaru ter apenas um campus é
um atraso. Se você pegar o exemplo de Campina Grande-PB: lá não está uma
extensão da UFPB. O campus é lá. Eu tive uma conversa, esta semana, com os
alunos do curso de Medicina da UFPE em Caruaru e eles estão lutando pelo
direito de ter um espaço de terra para construir seu campus. A aula do curso de
Medicina é dentro do Polo Comercial. Tem um terreno que já deveria ter sido
doado pelo Município, mas até hoje não foi. Eu assinei um termo de compromisso
com os alunos que, se eleito for, passarei esse terreno para o campus de
Medicina.
Quanto à Educação Básica, temos algumas emergências a serem
feitas. Acabar com os anexos. Os anexos não têm estrutura pedagógica para a
Educação Básica. Não é justificável uma criança estudar em uma garagem do
tamanho deste estúdio, com um portão pela metade. Não tem nenhuma estrutura. O
que eu posso cobrar de aprendizado desta criança? E do professor, que trabalha
em uma condição dessas?
Outra coisa: faremos em Caruaru, pela primeira vez, um PCC
(Plano de Cargos e Carreiras) construído com a classe dos professores. O PCC da
Educação em Caruaru tem sido colocado de cima para baixo. Se tem uma classe que
tem compreensão e empatia com o poder público, se trabalhar de maneira
transparente, é a classe dos professores.
A gente também defende publicamente a extensão dos serviços
de escola em tempo integral. Ajuda muito, pois muitos pais e mães trabalham o
dia inteiro e a criança não pode ficar na ociosidade, em casa ou no meio da
rua. A gente precisa ajudar que esse pai tenha melhores condições e lugares
para que seu filho esteja enquanto ele trabalhe.
A gente também defende o Escola Aberta, que é a inserção e o
incentivo à cultura nas periferias. Em algumas escolas de Caruaru, já houve
Escola Aberta com o incentivo do Governo Federal, mas parou. É a realização de
oficinas aos sábados, de teatro, de música, de dança, de artes marciais. É dar
acesso à cultura e à educação de qualidade.
IVO SUTTER – Não se pode falar de Educação sem mencionar as condições de
trabalho dos professores. O seu governo procurará estabelecer um diálogo aberto
com a categoria, favorecendo quesitos como salário, carreira, condições e
efetivação profissional?
JEFFERSON ABRAÃO – Essa já é uma pauta presente para o PCC,
que faremos com os professores. Eu gostaria de abordar um assunto e deixar aqui
um repúdio nosso em relação a alguns assuntos que estamos vendo na cidade. Os
professores fizeram uma pauta, elaboraram um projeto remetido ao poder público,
com conquistas históricas relativas ao PCC. Porém, os representantes,
principalmente do Sindeduc, não estão conseguindo espaço nos veículos de
imprensa que eles estão procurando para debater e mostrar o projeto. Quem tem
oposição ao projeto deles está tendo espaço. Não está havendo um amplo debate. Esse
projeto está sendo abafado por determinados grupos que não aceitam que os
professores tenham melhorias em seus serviços, pois isso envolve drasticamente
questões politiqueiras. Para pensar na Educação, é necessário deixar essa
lógica da política clientelista, mas valorizar o professor e o aluno. O aluno
da escola pública é muito desvalorizado, a começar pelo fato de ele não
participar da escolha da gestão de sua escola. A gente quer uma escola
democrática. A gestão deve ser uma escolha da comunidade escolar e não de uma
Secretaria de Educação que incha as escolas com cabos eleitorais. Educação não
é curral eleitoral. Educação é coisa séria. O problema é que a Educação
sucateada de Caruaru – e do Brasil – não é um erro, parece-me ser um projeto.
Para esses grupos que aí estão há mais de 50 anos, quanto menos informação as
pessoas tiverem, melhor para que eles se mantenham no poder.
O PCB defende também o fortalecimento dos conselhos independentes
– da Educação, da Saúde, da Segurança Pública, etc. – para que esses possam
pressionar os poderes executivo e legislativo para atender às demandas de suas
especificidades.
IVO SUTTER – Salta aos olhos a crescente quantidade de
veículos que circulam pelas ruas da cidade, o que muitas vezes dificulta o bom
andamento do trânsito. Vias estreitas, calçadas irregulares, ausência de
acessibilidade provocam estorvos para pedestres e condutores. De que forma o
trânsito pode ser melhor ajustado no município?
JEFFERSON ABRAÃO – A questão de ruas estreitas e falta de
estrutura é consequência do Plano Diretor, que não estabelece a mobilidade
urbana e gera um inchaço no centro. Para a mobilidade, a gente defende algo
interessante que pode ajudar. É difícil, no centro, você ‘queimar’ uma
quantidade de lojas, indenizá-las, o que vai gerar uma demanda muito alta ao
município. Pode ser feito um sistema de integração inteligente. A gente pensa
em duas linhas de ônibus que atravessem das Rendeiras ao Distrito Industrial e
do Adalgiza Nunes ao Luiz Gonzaga. As outras linhas funcionem de maneira
bairrista, assim fazendo um sistema de ônibus integrado. O passageiro paga
apenas uma passagem. Isso é possível.
A gente acompanha as teimas do pessoal do Sindecc com o
Comut (Conselho Municipal de Trânsit) e também por causa do Movimento
Estudantil, a gente tem essas informações. Quando essas discussões são
colocadas, elas são rejeitadas na maioria das vezes pelas empresas de ônibus. A
justificativa não é o custo, mas a diminuição da margem de lucro. Ou seja,
estão pensando a partir dos seus caprichos e não a partir das pessoas. A gente
tem que melhorar essa perspectiva.
A gente também defende a municipalização do transporte
público. Há quem diga que é caro. Sim. Mas o transporte público se paga.
Fizemos um breve levantamento de preços. Um ônibus com elevador para
deficientes custa de R$ 130 a R$ 140 mil. Só aquele posto de gasolina próximo à
Praça do Rosário, foi comprado pela prefeitura a mais de meio milhão de reais. Então,
dinheiro tem para fazer. Um transporte público municipalizado será pensado para
o trabalhador, sem a figura do intermediário. Defendemos também o Passe Livre
Estudantil.
IVO SUTTER – Conhecida mundialmente devido à sua diversidade cultural, boa
parte dos artistas da cidade reclama da falta de estrutura para desenvolverem
seus trabalhos. Em Caruaru, há eventos demais e base cultural ‘de menos’? É
necessário tornar a cultura um setor economicamente ativo?
JEFFERSON ABRAÃO – Eu substituiria a palavra ‘economicamente’
por ‘reconhecidamente’. Você viu no São João todos os grupos políticos
colocando uma camisa: “Somos Todos Fulô de Mandacaru”. Porém, é uma retórica.
Os mesmos grupos políticos que puseram essa camisa passam seis meses ou um ano
para pagar um artista por se apresentar no São João. Esses mesmos grupos
favorecem artistas de fora e deixam de fora os artistas locais. Só planejam a
Estação Ferroviária para o artista de Caruaru no decorrer da festa de São João.
Essa retórica tem de acabar. A valorização cultural tem de vir antes do poder
financeiro ou das grandes bandas que geram tantas despesas ao município.
É preciso fortalecer a região da Feira de Artesanato, que é
mais visitada por pessoas que não são de Caruaru. A gente só tem eventos em
Caruaru de janeiro a junho. O segundo semestre é difícil. Se fortalecer aquela
região com centro artístico, as pessoas vão aproveitar ali como um ambiente
cultural no segundo semestre. A gente também quer estabelecer, com a classe
artística, a criação da primeira escola municipal de teatro em Caruaru. Nossa
intenção maior não é transformar a cultura em recursos, apenas – pois as
pessoas precisam tirar o sustento para sobreviver. Mas além disso, as pessoas
têm de ser reconhecidas na cidade, para além do São João e além do Superstar. O
PCB pensa nas minorias. A partir disso, construímos a cidade.
IVO SUTTER – Uma das maiores dificuldades enfrentadas pelo
SUS é o acesso do paciente aos equipamentos de saúde. De que maneira o poder
municipal pode se inserir neste contexto, favorecendo os pacientes no que
concerne aos cuidados médicos?
JEFFERSON ABRAÃO – Estamos na contramão do que os grupos políticos tradicionais
defendem, em relação ao caos da Saúde Pública. Eles estão todos abraçados com
esse governo golpista, que defende a redução do SUS. A gente quer o
fortalecimento do SUS, dando dignidade ao acesso. O entrave está no ‘meio
termo’ entre consulta médica, exames e diagnóstico do problema. É preciso
resolver isso. A gente também vê a dificuldade nos cuidados de urgência e emergência.
Muito disso é reflexo da falta de estrutura. A gente viu que o zika vírus e a
chikungunya atingiu mais de 60% da população da periferia, que não tem
saneamento básico adequado. Ou seja, é a prevenção para diminuir esses índices.
A gente vê uma determinada candidatura em Caruaru dizendo
que quer reabrir o Hospital São Sebastião. Ele tem de ser reaberto. Mas os
políticos têm de dar uma lida nas portarias do SUS, que recomendam que não haja
unidades de urgência e emergência nos centros das cidades, por causa das
dificuldades na chegada de ambulâncias. Eu defendo a reabertura do HSS, numa
perspectiva de acompanhamento médico, determinadas internações e que ele seja
um hospital universitário, que é demanda do curso de Medicina de Caruaru.
IVO SUTTER – Caruaru tem áreas ambientais a serem
preservadas, desde Serra dos Cavalos ao Rio Ipojuca. Como conciliar o
desenvolvimento do município com o cuidado ambiental?
JEFFERSON ABRAÃO – Você falou bem. A questão de Serra dos
Cavalos tem de ser bem pensada. Determinados grupos estão pegando a água
mineral daquela região e indo embora, sem pensar na questão ambiental. Outra
coisa: a gente não vê o meio ambiente como moeda de troca do sistema
capitalista. A criação dos parques ambientais em Caruaru não tem como foco
principal o lazer, a socialização e a preservação do meio ambiente. A atual
gestão – e as que passaram também – são tão incompetentes que não conseguem
diminuir a carga de poluição em Caruaru e criaram os parques ambientais para
não perderem verbas ambientais. Essa criação de parques também para atender a
um déficit. Caruaru é uma das cidades menos arborizadas do Brasil, por isso tem
temperaturas tão elevadas. E a Prefeitura derruba dez árvores e planta uma. Se
a gente anda pelo centro, vê isso. Há um candidato que foi condenado em
primeira instância por deixar fazer um centro de compras em pleno Rio Ipojuca.
Inclusive, eu desejo que ele viva uns cem anos, para que daqui a cem anos ele
sinta as consequências do que fez há oito anos.
A gente também quer cobrar da Compesa, mas fazer uma
parceria com ela, para deixar que todo o sistema de esgoto jogado no Rio
Ipojuca. Nem toda cidade sabe o que é ter um rio passando por ela. A gente tem
e não sabe utilizá-lo. Esse rio serve de esgoto a céu aberto e temos que parar
com isso. Além disso, temos de cobrar, em nível estadual e federal, que alguns
grupos políticos de Belo Jardim – que não vamos citar os nomes, mas que começam
com ‘M’ e termina com ‘ÇA’ – fecham o leito do Rio Ipojuca lá como se fosse
deles, o que acaba gerando que a água chegue suja e com pouco nível aqui em
Caruaru.
PERGUNTAS DO PROFESSOR
URBANO SILVA – Em relação ao Plano Diretor de Caruaru, que
foi iniciado em 1959, sempre houve alguns emperros. Há o quesito mobilidade,
que eu gostaria de perguntar em dois aspectos: o primeiro é o do mototáxi,
projeto que há mais de 20 anos tomou forma, mas a categoria reclama
constantemente; o segundo aspecto é um aeroporto que não funciona há 14 anos,
em uma cidade que gera um volume de riquezas, como a nossa. Qual seu projeto,
como candidato possivelmente eleito, para resolver esses dois aspectos?
JEFFERSON ABRAÃO – Primeiro, o mototáxi reclama com razão.
Ele tem de pagar taxa disso, taxa daquilo. Parece que a cada seis meses eles
têm de inventar uma taxa para o mototáxi ter que pagar. É um custo muito alto.
Quando não tem mais taxa, eles inventam que é pra trocar de colete. Fica
difícil para o mototaxista trabalhar em Caruaru. Temos que respeitar essa
categoria, pois nós temos uma cidade com uma mobilidade difícil, um transporte
público – que é privado – precário. O mototáxi é uma via que ajuda a desafogar
essa mobilidade difícil que temos em Caruaru. Para regularizar, é preciso ter
uma fiscalização densa. Os caras que estão na regularidade precisam ter
tranquilidade para ganhar seu pão. Entre essas regularidades, deve-se colocar a
questão do tabelamento de preços. Às vezes, ficamos à mercê da questão da
discrepância de preços dos mototáxis. Às vezes, parece que o preço é cobrado
pela cara. E eu não culpo os mototáxis. Se eles não têm um plano para isso.
Outra coisa: já que essa categoria paga tanto imposto – e essa receita não
havia para a Prefeitura –, por que não criar um seguro auxiliar para o
mototaxista? Eles já têm o seguro DPVAT, mas se sofrer um acidente em serviço
pode ter um seguro auxiliar, de modo que ele tenha direito a uma indenização de
R$ 500 a R$ 5 mil, dependendo do acidente. Assim, ele pode ter uma segurança
maior e sentir-se melhor representado por tanta contribuição que ele tem pago.
Em relação ao aeroporto. Em Caruaru, o aeroporto não anda
porque a gente anda preso à lógica de determinado grupo empresarial. Na
verdade, as discussões sobre o aeroporto centra-se em um grupo empresarial –
muito pequeno, diga-se de passagem. É necessário fazer um amplo debate com o
setor do comércio, com o setor da indústria, e com as suas demandas para esse
tipo de logística.
URBANO SILVA – Candidato, o caminho para a Prefeitura tem
dois aspectos: tem que somar 100 mil votos e tem custos financeiros. Qual sua
estratégia, a estratégia do seu partido e do PSTU – que lhe apoia – para a
conquista dos votos, em uma eleição com candidatos com estruturas que a gente
percebe ser bem maiores do que a sua em Caruaru?
JEFFERSON ABRAÃO – Você pontuou algo interessante em relação
aos recursos de campanha. A candidatura do PCB em nível nacional nunca é feita
com tantos recursos. Para você ter uma ideia, o Fundo Partidário destinou
nacionalmente ao PCB cerca de R$ 50 mil. É o que qualquer um candidato desses
aí gasta em um dia, a gente tem para gastar nacionalmente. Para a gente aqui,
acaba chegando ‘cem conto’, no modo de falar (risos). O PCB não se propõe em
fazer campanhas milionárias, pois a gente não quer estar atrelado a determinado
público. Isso só mostra como temos uma democracia burguesa e não plena.
Eu lancei até um desafio nas redes sociais. Desafiei a
qualquer uma dessas candidaturas que aí estão a gastar menos com campanha do
que a nossa. Eu vi, em uma determinada entrevista, um candidato dizer que vai
gastar provavelmente a metade do valor estipulado pelo TRE, ou seja,
aproximadamente R$ 1 milhão. Gastar R$ 1 milhão com campanha é uma afronta ao
trabalhador, que mal se sustenta com um salário mínimo.
Nossa campanha, por mais que não tenha dinheiro, tem muita
dignidade e honra. É uma campanha porta a porta, com conversa com o povo. O
resultado das urnas, devido ao modelo de democracia burguesa que temos, acaba
sendo não muito relevante. Relevante é a conquista de mostrar à burguesia que
esse modelo de democracia está falido e é possível fazer campanhas sem ser
milionárias. É possível mostrar propostas, ter espaço, debater ideias, sem o
capital na frente, e sim as pessoas e o protagonismo das ideias e da periferia.
Essa é a nossa principal bandeira.
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