“Nós vamos avançar para que Caruaru seja uma cidade melhor para se viver”, declara Tony Gel
Por Jénerson Alves
Encerrando a série de entrevistas com os candidatos à
prefeitura de Caruaru, realizada pelo Programa Ivo Sutter (Nova FM 105,9) em
parceria com o blog Presentia, o prefeiturável Tony Gel (PMDB) apresentou suas
propostas de governo para a cidade. Ademais, ele rememorou ações realizadas
quando geriu o município (2001-2008) e ainda alfinetou: “No meu governo, nunca
houve perseguição do prefeito”. Confira:
IVO SUTTER – Caruaru faz parte do Polo de Confecções do
Agreste, com uma economia voltada para a produção e comercialização de
materiais têxteis. Na sua opinião, a permanência da Feira da Sulanca no centro
pode comprometer a pujança econômica da cidade?
TONY GEL – Depende da permanência da Feira lá, Ivo. Eu tenho
dito que não há Super-homem nem Homem de Ferro, apenas na televisão, no cinema,
nas revistas em quadrinhos. Nenhum prefeito pode se considerar um Super-homem
ou Homem de Ferro, que pode resolver o problema da Feira com uma canetada. É
necessário pedir auxílio a muitos autores, que formam a inteligência da
sociedade caruaruense, como os representantes dos sulanqueiros, os
representantes dos comerciantes do entorno do Parque 18 de Maio, representantes
do Ministério Público, CDL, Sindloja, Acic, etc. A Feira é um patrimônio, não
pode ser mudada de qualquer jeito. Há famílias que vivem do banquinho de feira.
Como é possível o poder público chegar a essas pessoas e dizer que elas não têm
mais o banquinho, o famoso ponto comercial?
Sabemos que a Feira ali, hoje, não tem estrutura.
Independentemente de qualquer coisa, é urgente que, ao assumirmos a Prefeitura
em janeiro, tenhamos ali uma força-tarefa para arrumar a Feira, sim. E isso não
é só do ponto de vista físico, mas também do ponto de vista de segurança, ter
mais comodidade para as pessoas. Quem vem comprar e quem vai vender quer
segurança. Isso é fato.
IVO SUTTER – A cidade possui diversos loteamentos irregulares, deixando a
população carente de serviços básicos. O senhor acredita que a cidade precisa
de uma reforma urbana que discipline as condições de moradia, sobretudo para a
população mais carente?
TONY GEL – É uma pergunta muito importante, porque Caruaru
se expande muito. Eu tenho dito que somos uma cidade muito aberta, abençoada
por Deus, que se desenvolveu tanto, mesmo com tantos obstáculos. Caruaru é
privilegiada do ponto de vista geográfico. Por conta do seu comércio pujante,
por conta das suas feiras, todo mundo no Nordeste sabe que aqui “corre dinheiro”,
como se diz popularmente. Muitas vezes, vêm pessoas sem a mínima condição e
aqui começam a trabalhar aqui e ganhar um dinheiro, então lotam casas de
maneira irregular e a cidade vai crescendo de maneira desorganizada. Muitas
casas aqui têm de ser regularizadas, pois as pessoas não têm o título de posse.
Há uma área da Nova Caruaru, por exemplo, que as pessoas não têm título de
posse. Temos de organizar e dar uma arrumadinha nas ruas, para que possa entrar
um carro, uma ambulância, se for o caso. Os moradores da área do aeroporto,
também. Loteamentos irregulares são problemas.
Quando assumi a prefeitura em 2001, lembro-me que havia mais
de 30 loteamentos irregulares em Caruaru. Eu segurei a questão de liberar os
loteamentos. O importante é que o proprietário, ao lotear uma gleba de terra,
faça o loteamento e a comercialização só se inicie quando a infraestrutura
estiver montada. É muito fácil comercializar os lotes e deixar toda a demanda
de infraestrutura para a Prefeitura, mas isso não é justo. Nós vamos avançar
para que Caruaru seja uma cidade melhor para se viver.
IVO SUTTER – A Segurança Pública é de atribuição do Governo
do Estado. Porém, Caruaru possui a Guarda Municipal, que conta com um efetivo
de 39 profissionais. Segundo o IBGE, o município possui 347.088 habitantes. A
proporção é de 8.899 habitantes para um guarda municipal. Esse efetivo é suficiente?
O que o senhor pretende fazer para minimizar a insegurança do cidadão?
TONY GEL – Você tem razão, Ivo Sutter. Temos apenas 39
profissionais na área, que são treinados, capacitados, estão servindo a
Caruaru, mas o número é insuficiente. Pela lei, não pode ficar com esse número
insuficiente. Teremos de abrir concurso público e esses profissionais serão
treinados para bem servir à população. Precisamos ter patrulhas escolares,
podemos utilizar muito bem esses profissionais em nossas feiras, nos
logradouros públicos, no São João – que é uma grande festa e precisa ter os
profissionais próprios da Prefeitura para nos auxiliar na segurança. Esses
profissionais serão sempre bem vistos na nossa administração – minha e de
Raffiê Dellon –, se Deus quiser. Temos conversado com muitos guardas
municipais, temos compreendido o drama deles. Há uma expectativa muito grande
com o meu governo. Eles sabem como nós lidamos com o servidor público. No meu
governo, nunca houve perseguição do prefeito. Se houve um incidente ou outro,
não foi por vontade deliberada do prefeito. Nossa recomendação foi sempre
tratar bem a todo mundo e cobrar responsabilidade a quem está no serviço
público. Queremos que os munícipes fiquem satisfeitos com o serviço prestado na
Prefeitura de Caruaru.
IVO SUTTER – Nos últimos anos, Caruaru desenvolveu-se no
ponto de vista educacional, sobretudo por causa das instituições de ensino
superior. No entanto, fortalecer a Educação Básica continua sendo um desafio,
desde o deficit na quantidade de creches às dificuldades estruturais no Ensino
Fundamental. Há algum projeto que valorize a formação das crianças
caruaruenses?
TONY GEL – Ivo, em 2001, quando assumimos a Prefeitura,
havia apenas sete cursos superiores em Caruaru. Os quatro da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras de Caruaru – mais um de Ciências Contábeis, que
conseguimos trazer para Caruaru enquanto deputado federal – ou seja, a Fafica
era mantenedora de cinco cursos. Na Asces, só havia dois cursos, Direito e
Odontologia. Quando nós entregamos a Prefeitura, entregamos com mais de 50
cursos superiores. Claro que foi necessário também que a Prefeitura fizesse a
sua parte, concedendo incentivos para que esses cursos aqui se instalassem. Os
pais reclamavam muito que os filhos precisavam ir a outras cidades para fazerem
os cursos que sonhavam. Então, nós atraímos instituições, mesmo que
particulares, e trabalhamos para que a UFPE viesse para Caruaru, o que
aconteceu ainda no Governo Jarbas, quando vieram os primeiros cursos.
Agora, você tem razão. A responsabilidade prioritária do
Município é cuidar do Ensino Fundamental e do Pré-Escolar, para quem não pode
colocar o filho em uma escolinha particular. Nós implantamos o Ensino Infantil
na zona rural. Pasmem. As crianças da zona rural em Caruaru só iam para a
escola a partir dos 07 anos de idade. Então, implantamos a Educação Infantil na
zona rural e queremos ampliar esse trabalho. Transformamos muitas creches em
Centros de Educação Infantil, para que as crianças, aos 06 anos de idade,
estivessem devidamente alfabetizadas. Vamos conseguir perseguindo esse alvo. Tudo
começa com a alfabetização. É a base de uma boa formação.
IVO SUTTER – Não se pode falar de Educação sem mencionar as
condições de trabalho dos professores. O seu governo procurará estabelecer um
diálogo aberto com a categoria, favorecendo quesitos como salário, carreira,
condições e efetivação profissional?
TONY GEL – Meu caro Ivo, em qualquer momento que você tiver
oportunidade de entrevistar o presidente do Sismuc (Sindicato dos Servidores
Municipais de Caruaru), ele haverá de confirmar o que vou dizer aqui. Eles
passavam sete, oito, nove meses, ou até um ano tentando uma audiência com o chefe
do Executivo e não conseguiam. Eu assumi, no dia 1º de janeiro de 2001, dia 02
foi o primeiro dia útil. No dia 03, eu já estava reunido com eles, tratando das
questões do município de um modo geral, mais especialmente da Educação. Diante
de toda a diretoria, o presidente disse: “Prefeito, o senhor começa muito bem.
O comum aqui era mandarmos ofícios pedindo audiências e nós não tínhamos
oportunidade de tê-las. Chegamos a passar um ano repetindo ofícios. O senhor
verdadeiramente assumiu ontem e, no segundo dia de trabalho, o senhor convocou
o sindicato para conversar”. Eu disse que comigo seria assim. Nós iríamos
conversar. “O que for possível fazer, faremos. Sempre transparente, olho no
olho. O que pode, pode”, eu disse. Meu caro Ivo, eu não tive uma ameaça de
greve durante os meus dois mandatos. Em nenhuma área do Município. Nenhuma!
Os professores tiveram muitas conquistas. Para você ter
ideia, os professores que iam dar aula na zona rural iam, na maioria, por
castigo. Quando um prefeito se elegia em Caruaru, as informações que chegavam
para ele eram que professor A ou B não votou nele. Então, o prefeito
transferia-o para a zona rural. Ninguém vai trabalhar satisfeito sob chicote.
As crianças não aprendiam como deveriam aprender. Nós quebramos esse paradigma.
Passamos a dar uma gratificação de 30% aos professores da zona rural. Aí,
grande parte dos professores que ensinavam na cidade pediu para ir ao campo. E
os que estavam em jornada dupla tinham direito ao almoço, nós dávamos um
tíquete refeição. Foi assim que a Educação melhorou muito em nosso município, a
ponto de eu receber vários prêmios. Eu fui escolhido Prefeito Amigo da Criança
por duas vezes. Ganhei prêmio do Ministério da Educação, pois nossa educação
funcionava e o trabalho era humanizado. Os professores podem ter certeza:
conosco haverá humanização no tratamento com os educadores.
IVO SUTTER – Salta aos olhos a crescente quantidade de
veículos que circulam pelas ruas da cidade, o que muitas vezes dificulta o bom
andamento do trânsito. Vias estreitas, calçadas irregulares, ausência de
acessibilidade provocam estorvos para pedestres e condutores. De que forma o
trânsito pode ser melhor ajustado no município?
TONY GEL – A situação de Caruaru é bem peculiar. Além da
nossa frota do dia a dia, recebemos uma população flutuante enorme em dias
específicos. Isso não é ruim. É muito bom. As pessoas que vêm para cá vêm fazer
negócios. Entretanto, quando Caruaru surgiu, às margens do Rio Ipojuca, foi no
Marco Zero, com algumas ruas estreitas ao redor. É preciso estudar bem essa
questão para facilitar o tráfego na cidade.
É importante fazer uma atualização do Plano Diretor para
fazer uma análise do crescimento da cidade, facilitando o tráfego. É preciso
dar oportunidade para que outros polos comerciais surjam na cidade e tudo não
fique só concentrado em um único local. Não é uma tarefa fácil, mas percebendo,
por exemplo, o crescimento comercial do Bairro Mauricio de Nassau, implantamos
o primeiro binário do bairro. Havia, por volta do ano 2000, apenas a ida e a
vinda pela Avenida Marcionilo Francisco, a famosa avenida da Fusam. Já pensou
como seria se fosse mão e contramão ali, ainda hoje? Então, nós abrimos outra
avenida, construímos uma ponte e desafogamos o trânsito no Mauricio de Nassau.
Pensamos um binário no Salgado, a Esdras de Farias com a Carneiro Vilela.
Pensamos um binário ali no Alto da Balança e Cedro. Além disso, implantamos a
parte mais importante do Anel Viário de Caruaru, que não foi dada sequência, e
Caruaru perdeu muito.
IVO SUTTER – Conhecida mundialmente devido à sua diversidade
cultural, boa parte dos artistas da cidade reclamam da falta de estrutura para
desenvolverem seus trabalhos. Em Caruaru, há eventos demais e base cultural ‘de
menos’? É necessário tornar a cultura um setor economicamente ativo?
TONY GEL – É importante que o poder municipal possa também
criar condições para que novos artistas possam surgir e se desenvolver. Nós
somos um celeiro de artistas das mais variadas categorias – artistas plásticos,
artesãos, musicistas, cantores, compositores. Então, queremos instituir um
Fundo Musical para que o artista talentoso, mas carente do ponto de vista
financeiro, possa inscrever seu trabalho e ter sua carreira estimulada por nós,
para que possa prosseguir.
É importante valorizar os talentos que estão surgindo. O
talento não escolhe hora nem lugar para nascer, alguém já falou esta frase. É
verdade. Eu dou sempre o exemplo de Pelé. Sabemos que Pelé gosta muito de
Santos, de São Paulo, de Nova Iorque. Talvez, se ele pudesse escolher onde
teria nascido, escolheria alguma dessas cidades. Mas Pelé nasceu no interior de
Minas Gerais, em Três Corações. Uma cidade da qual as pessoas nem ouvem falar!
Já pensou se Pelé não tivesse tido oportunidades? Roberto Carlos nasceu em
Cachoeira do Itapemirim, no Espírito Santo. Poderia ter escolhido nascer no Rio
de Janeiro, em Copabacana.
Eu dou um exemplo nosso. O Fulô de Mandacaru, quando ainda
eram adolescentes, foi lançado na abertura do São João de 2005. Nós demos a
oportunidade. O que é a Fulô de Mandacaru hoje? A boa música que eles
interpretam, que Gonzaga sempre cantou, que Zé Dantas sempre compôs, como
Humberto Teixeira e Onildo Almeida! Músicas maravilhosas, sadias, bonitas, do
nosso cancioneiro. Nós vamos apoiar, como sempre apoiamos, os artistas
caruaruenses.
IVO SUTTER – Uma das maiores dificuldades enfrentadas pelo
SUS é o acesso do paciente aos equipamentos de saúde. De que maneira o poder
municipal pode se inserir neste contexto, favorecendo os pacientes no que
concerne aos cuidados médicos?
TONY GEL –Olha, voltou essa situação periclitante. Havia filas quilométricas
para que as pessoas conseguissem cirurgias, atendimento, remédios. Nós havíamos
resolvido isso lá atrás. De 2001 até o final do meu governo, nós implantamos
três hospitais municipais, uma policlínica, uma policlínica do idoso, 17
equipes do Programa Saúde da Família, várias equipes do Dentista da Família, na
zona rural. As consultas passaram a ser marcadas por telefone e o medicamento,
para as pessoas que tomavam medicamento continuado, entregávamos nas casas das
pessoas. No final do nosso governo, entregávamos mais de 25 mil exames por mês.
Fazíamos exames do povo de Caruaru e ainda vendíamos serviços para outras
prefeituras. Implantamos a Casa de Saúde Bom Jesus, o Prontocardio, e
construímos o Hospital Doutor Manoel Afonso. Nosso desejo é fazer muito mais
para que a população seja atendida em Caruaru. Vamos municipalizar o Hospital
São Sebastião, para que ele seja de clínica médica e de cirurgias com data
marcada.
IVO SUTTER – Caruaru tem áreas ambientais a serem preservadas, desde Serra dos
Cavalos ao Rio Ipojuca. Como conciliar o desenvolvimento do município com o
cuidado ambiental?
TONY GEL –O Parque Vasconcelos Sobrinho, que é nosso brejo
de altitude, precisa de cuidados, sim. Mas não só isso. Temos uma área em
Caruaru, um pouco mais à esquerda de Serra dos Cavalos, onde há a divisa de
três municípios: Bezerros, Caruaru e Agrestina. Precisa ser feito um trabalho
ali de replantio da mata nativo. Precisamos cuidar daquela área, remanescente
de Mata Atlântica. Precisamos fazer intervenções que sejam equilibradas,
respeitando o meio ambiente.
Alguém pode me perguntar: “o que fazer com o Rio Ipojuca?”
Quem estimulou a implantação do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Ipojuca,
modéstia à parte, fui eu. Você sabe que sou muito ligado a essa questão do meio
ambiente. Agora, o Rio Ipojuca não é só para Caruaru, mas eu dei minha
contribuição. Quando assumi, só havia a capacidade de tratar no máximo 30% de
todo o esgoto de Caruaru. Nós dobramos em nosso governo, com o Projeto
Alvorada. Saneamos toda a Nova Caruaru, José Carlos de Oliveira, José Liberato,
São João da Escócia, Cidade Jardim, comunidades que foram saneadas em nosso
governo, com o esgoto tratado. Entregamos esse acervo para a Compesa
administrar. Diminuímos, assim, a poluição do Ipojuca, mas há córregos ainda
que o poluem. Porém, a jusante e a montante do Rio Ipojuca precisam ser
cuidadas. E aí é um trabalho que tem que ser em parceria com o governo
estadual, governo federal e inclusive até com recursos internacionais, para a
recuperação dos nossos rios. Quem vai à Alemanha, à região da Baviera, fica
encantado com a recuperação de todos os rios que eles mesmos mataram no
passado, mas ressuscitaram agora. Ideias nós temos, mas é preciso que tenhamos
dinheiro para que o nosso Ipojuca possa ser recuperado.
PERGUNTAS DO PROFESSOR
URBANO SILVA –Eu me lembro da sua satisfação, em 2002,
quando anunciou a abertura de linhas comerciais de voos para o Aeroporto de
Caruaru. Porém, 14 anos depois, Caruaru continua sem linhas comerciais. Estamos
perdendo recursos no turismo, na indústria e no comércio por causa de um
aeroporto que não funciona. Em sua opinião, o aeroporto é um problema ou uma
solução? O que falta para dar vida a ele?
TONY GEL – Professor Urbano, essa é uma excelente pergunta.
Nós tivemos uma ousadia muito grande. Conseguimos uma linha Caruaru/São Paulo;
São Paulo/Caruaru. Era fantástico. Mas, tivemos uma frustração enorme. Nós não
sabíamos. O Aeroporto havia sido inaugurado e o pátio de estacionamento estava
todo bonitinho, mas apenas na aparência. O governador não tinha culpa. A
reforma foi feita no governo de Doutor Arraes. Ele não teve culpa. O avião
estava fazendo o taxeamento e o piso cedeu. Ou seja, havia ali lençóis
freáticos que precisavam de tratamento. Não houve uma base e uma sub-base bem
feitas. Obviamente, é preciso ter um piso adequado. Foi uma frustração enorme.
A gente queria estimular isso, em uma região tão empreendedora como a nossa –
com Santa Cruz, Toritama, São Caetano, Riacho das Almas, Vertentes, Bezerros –,
que tem gente que precisa comprar tecidos em São Paulo, no Paraná, no Rio
Grande do Sul, onde há grandes fábricas de malhas. Porém, a gente perdeu a
oportunidade. De lá pra cá, não tivemos mais uma luta nesse sentido. Agora, há
uma proposta, inclusive do Governo Federal, de regionalizar muitas linhas. Nós
esperamos retomar essa negociação. O Aeroporto, depois de reformado, está
pronto para Boeings, para aviões de maior porte. Essa distância entre Caruaru e
Recife não pode ser um entrave. Vamos trabalhar nesse sentido.
URBANO SILVA – No seu programa de governo, consta do Passe
Livre para estudantes da rede municipal. Atualmente, segundo dados da
Secretaria de Educação, são 122 escolas com 42 mil alunos. Considerando que o
Passe é Livre para o estudante, mas a Prefeitura tem o custo a pagar ao
empresário, fazendo uma conta rapidinho, daria um custo de R$ 218 mil por dia.
Como o senhor pretende, dentro de um orçamento tão limitado e reduzido como o
de Caruaru, introduzir mais esse investimento?
TONY GEL – Professor, a conta é diferente. Alguns candidatos
têm feito contas absurdas. Nossos cálculos são outros. A Prefeitura arrecada em
torno de 9% do que é faturado pelas empresas de todo mundo que usa transporte
coletivo na cidade. Nossas contas chegam a R$ 180 mil por mês, o que é bastante
confortável. Não vemos isso como despesa. Na minha cabeça, tudo o que se aplica
em educação é investimento. Porém, há crianças que moram na frente da escola e
não vão precisar do passe.
Para estudar em Caruaru, eu andava muito. Eu cheguei a parar
de estudar aos 14 anos de idade. Minha mãe lavava roupa de ganho. Mas eu
comecei a perceber que ela estava cansando. Ela tinha alguns problemas de
saúde, mas se superava lavando roupa, passando ferro e tal. Aos 14 anos, eu fui
trabalhar. Passei a tomar conta da minha mãe. Minha carteira profissional foi
assinada aos 14 anos de idade – naquele tempo podia – na padaria Monte Castelo,
que fica na XV de Novembro, está lá no registro. Eu voltei a estudar aos 17
anos. Eu começava a trabalhar às 7h da manhã na Monte Castelo. Às 7h da noite,
eu saía de lá, atravessava a cidade até as encostas do Morro Bom Jesus, para a
Escola José Leão, assistir aula. Saía de lá por volta das 22h e ia à Vila
Teimosa, que fica entre o Santa Rosa e o Vassoural. Eu fazia isso de segunda a
sexta-feira. E trabalhava até às 7h da noite do sábado. Às vezes, eu ficava tão
cansado que no domingo eu nem ia bater bola nem fazer nada, só dormir, mesmo.
Então, eu andei muito quando criança e adolescente para estudar. Há crianças e
adolescentes que fazem isso ainda hoje. Quero dar oportunidade para que eles
possam estudar, pegar o ônibus e irem pra casa. Criança, adolescente, jovem,
tem de estar estudando. É através do conhecimento que poderão progredir. Fique
tranquilo, vai dar certo.
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