“Nós temos nos mantido fiéis à nossa proposta inicial: ir aonde a igreja geralmente não vai”, diz Marcos Sal da Terra

Por Jénerson Alves
Fotos: Larissa Albuquerque



Médico veterinário por profissão, músico por vocação, missionário por convocação. É assim que pode-se falar sobre Marcos André Fernandes, líder do Ministério Sal da Terra. Ao mesmo tempo em que trabalha como servidor público da Prefeitura do município de Garanhuns-PE, atua no serviço do Senhor levando a Palavra de Deus através do forró pé-de-serra. O Sal da Terra está há 21 anos na estrada, 'de sandália ou de alpercata', pregando o Evangelho e também vivenciando o amor fraterno de forma prática, integrando fé e obras. Assim sendo, os missionários que fazem parte dessa obra encarnam o princípio da Missão Integral: “o Evangelho todo, para o homem todo, para todos os homens”. Durante a abertura do 40º Congresso da Juventude Batista do Agreste, o músico Marcos André Fernandes (que é membro da 4º Igreja Presbiteriana de Garanhuns) conversou com Presentia. Na ocasião, ele contou um pouco da história do grupo e declarou: “Chegar na casa de uma pessoa, falar do amor e da bondade de Cristo, mas perceber que aquela pessoa está com fome e não intervir, é fazer a obra pela metade”. Confira a entrevista:



Há 21 anos o Ministério Sal da Terra está desenvolvendo um trabalho evangelístico por meio do forró pé-de-serra. Pode-se afirmar que, durante esse tempo, há um relatório de desafios e bênçãos?
A bondosa mão do Senhor tem nos alcançado ao longo desses 21 anos. Muitas pessoas legais têm nos acompanhado. Vimos nascer igrejas, pessoas se entregarem a Jesus e à obra missionária. São muitas histórias. Só tenho a agradecer a Deus e à Sua Igreja, que nos acompanham de muitas maneiras.



Há algum tempo, vocês substituíram a nomenclatura 'Banda Sal da Terra' por 'Ministério Sal da Terra'. Qual a diferença entre os dois? Qual o motivo dessa opção?
De fato, nós começamos como uma banda. Porém, depois o trabalho passou a ser agregado por pessoas que não tocavam nem cantavam, mas possuíam outras habilidades. Dessa forma, Deus nos levou a uma nova visão de ministério. Hoje nós nos entendemos como Missão. Há outros irmãos que servem ao Senhor junto a nós, não com a música, mas com habilidades e outras vocações e talentos.



Normalmente, vocês fazem trabalhos em municípios nos quais o número de evangélicos é ínfimo. Além disso, a pregação do Evangelho é feita alinhada com trabalhos sociais. Qual a importância do engajamento social da igreja?
Fica complicado falar do amor de Deus sem exercitá-lo. Chegar na casa de uma pessoa, falar do amor e da bondade de Cristo, mas perceber que aquela pessoa está com fome e não intervir, é fazer a obra pela metade. Nós levantamos pessoas parceiras para que possamos não apenas falar da salvação, mas prestar o socorro imediato. O próprio Jesus disse: “Dai-lhes vós de comer”. Dentro das nossas limitações, procuramos fazer isso, através do acesso a médicos, dentistas, alimentos e melhorias sanitárias. Somos gratos a Deus por essas oportunidades de não só falar do Seu amor, mas de praticar o Evangelho de Cristo Jesus.



Vocês tocam forró. Nos últimos anos, esse ritmo passou a conquistar espaço na igreja evangélica. No entanto, normalmente ele é associado a coros de fogo esvaziados de conteúdo teológico. Como o senhor analisa o cenário da inserção do forró na igreja evangélica?
É fácil se comunicar através da cultura nordestina, não só da música. Acho que alguns se apropriam disso e fazem um trabalho com outra característica. Nós trabalhamos focados na obra missionária, na pregação do Evangelho e na convocação à igreja no envolvimento da obra missionária. Outros irmãos usam de outras maneiras, aproveitando-se da mesma linguagem que a cultura nordestina faculta, mas nós temos nos mantido fiéis à nossa proposta inicial: ir aonde a igreja geralmente não vai, como em sítios e povoados onde não há ou há poucos missionários e obreiros.



Entrevista foi concedida durante 40º Congresso dos Jovens Batistas,
evento ocorrido na cidade de Caruaru



Porém, a maior parte dos habitantes de comunidades rurais têm acesso à televisão, sobretudo por meio de antenas parabólicas. Mesmo quando vocês chegam em distritos sem igrejas, os moradores têm contato com o Evangelho por meio dos 'telepastores'?
Acontece o seguinte. Isso tem sido uma espada de dois gumes. Se, por um lado, a televisão ajudou a quebrar paradigmas como a rivalidade entre protestantes e católicos. Por outro lado, quando a gente chega, as pessoas têm expectativa que a gente trabalhe na mesma linha. Com algumas exceções, a maioria dos programas de televisão apresenta um Evangelho muito diluído, sem a essência que vemos nas páginas do Novo Testamento. Algumas pessoas ficam na expectativa exclusiva da cura, da bênção e do milagre. Sabemos que o Evangelho traz cura, bênçãos e milagres, mas não apenas isso. O Evangelho é sobretudo a salvação do homem, a centralidade da cruz. Nós procuramos focar no Evangelho.



O trabalho missionário, dessa forma é, por vezes, espinhoso. Como é lidar com a família nesse contexto? De que forma o senhor concilia o missionário, o pai e o marido?
Não dá mais para fazer essa separação. Toda a minha família é envolvida com a obra missionária. Meu filho toca comigo, viaja comigo. Minha esposa está sempre junto, bem como a minha filha. Agora, nós estabelecemos em casa que mensalmente eu fico dois finais de semana longe e dois finais de semana próximo de casa. Temos que ter nosso momento com Deus em casa. Isso tem dado resultados. Até a atividade profissional e o curso universitário dos meus filhos foram escolhidos de modo que pudessem ser também usados para servir ao Senhor e não apenas se manter. Todos os dois fizeram essa opção. Isso eu vejo não apenas nos meus filhos, mas em muitos adolescentes que começaram conosco. Viver o Evangelho de forma prática é contagiante. São pessoas desapegadas, que investem seu tempo e conhecimento na obra do Senhor.



O Ministério está com algum CD em fase de produção?
Estamos com dois 'no forno'. Eles estão sendo preparados com carinho. São discos autorais, todos com músicas minhas. Desta vez, eles terão playback. Essa é uma cobrança que o público faz desde o primeiro CD e já estamos no 12º! Serão CDs bem regionais, com a cara do Sal da Terra. Eu estou com vontade também de fazer um CD com o meu nome – Marcos Sal da Terra. No entanto, a impessoalidade sempre foi uma marca do ministério, por entendermos que nós [todos os discípulos de Cristo] somos o Sal da Terra.



Quem quiser se engajar com o Ministério Sal da Terra, como faz?

Nós temos um blog: bandasaldaterra.com.br. Também é possível se comunicar conosco através do Facebook, seja pelo meu perfil ou pelo perfil de cada um dos voluntários que andam conosco. Meu perfil é 'Marcos Sal da Terra'. Podem passar lá, dar uma olhadinha. Essas ferramentas estão sempre sendo atualizadas.

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