Marcos Quaresma - A HERANÇA ESPIRITUAL PARA A PRÓXIMA GERAÇÃO
“O melhor meio de fazer com que os
filhos sejam bons é fazê-los felizes”
Oscar Wilde
“Não há família unida que uma herança
não divida”, disse certa vez um advogado amigo meu. Aquela frase ficou gravada
na minha mente até hoje. Pensei nos casos que conheço e outros que ouvi falar, situações
nas quais os bens herdados pelos filhos foram motivos de disputas e até
homicídios entre irmãos.
Sempre pergunto em minhas palestras qual
a maior herança que os pais podem deixar para os filhos. As respostas são as
mais variadas possíveis: Educação, fé, uma casa, dinheiro, o amor, caráter, e
assim por diante. Em seu livro, Família Acima de Tudo, Stephen Kanitz diz que a
maior herança é a autoestima. “uma vez que as crianças conquistam a sua
autoestima, elas passam a se preocupar com a autoestima dos outros”. Charles
Buxton diz que “o primeiro dever para com os filhos é fazê-los felizes...
nenhum outro bem que eles venham a obter pode compensar aquele”. A isto chamamos
de “mundo significativo”, ou seja, aquele tempo da construção da personalidade,
no qual a criança precisa receber apoio e estímulo de seus pais, que são as
pessoas mais importantes do mundo para ela naquele momento da vida. Se não se
sentirem valorizadas por seus pais, nada que consigam, poderá lhes trazer
alegria.
São inúmeras as histórias de pessoas
infelizes, que herdam fortunas e desperdiçam em pouco tempo, porque não sabem
distinguir entre o valor das coisas e o valor das pessoas. A parábola do Filho
Pródigo, em Lc 15, ilustra muito bem esse princípio.
Por outro lado, Pv 31 descreve a
história de uma família sadia, funcional. Naquele lar, todos eram satisfeitos,
sem críticas constantes sobre o modo de ser do outro. Cada um vivia a sua vida
e compartilhava suas habilidades com os demais membros da família. Assim, todos
eram beneficiados pela singularidade de cada um dentro do sistema familiar.
O que chama a atenção é que aquela
família, referendada pelos valores da mãe, chamada de Mulher Virtuosa, possuía
como primeira característica a autoestima elevada, conforme o v.10. Sua
consciência era de que seu valor não era medido por seus bens; seu valor excedia
as “finas joias”. É interessante notar que o processo de desenvolvimento
espiritual, que é o último a ser citado, no v.30, “a mulher que teme ao
Senhor”, se inicia com o desenvolvimento da autoestima. Ou seja, a maturidade
espiritual tem uma relação direta com maturidade emocional. Esse conceito é
defendido por Peter Scazzero em seu livro Espiritualidade Emocionalmente
Saudável, no qual afirma que “sem maturidade emocional, não há maturidade
espiritual”.
Nossos filhos terão grandes
possibilidades de se desenvolverem espiritualmente, sendo receptáculos da graça
de Deus, se possuírem modelos de palavras e atitudes graciosas, de preferência
dos pais. É possível herdar boa educação, religiosidade eclesiástica, móveis e
imóveis, e até uma boa quantia em dinheiro. Mas se não conseguirmos contribuir
para o desenvolvimento da autoestima de nossos filhos, teremos feito pouco em
relação à herança espiritual deles.
Pr. Marcos Quaresma
É missionário da Sepal, atual líder da equipe Nordeste. Mestre em aconselhamento pastoral, pós graduando em psicopedagogia, assessor familiar e bacharel em teologia. Atua na área de aconselhamento familiar há 24 anos. Casado com Rosélia Nobre e tem 3 filhos: Thales (23), Tharsis (19) e Thaiane (10).
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