Aonde o reino chega tudo muda para melhor!

Bebeto Araújo

Tanto o Antigo como o Novo Testamento nos apresentam uma visão de um novo céu e uma nova terra (Is 65.17-25; Ap 21.1-5). Esta visão contempla aspectos espirituais, sociais, ambientais, econômicos e culturais. Em nossa igreja local, numa pequena cidade na região metropolitana de Curitiba, pessoas que nasceram de novo (2Co 5.17) e foram aceitas no reino de Deus (Cl 1.13) têm encontrado nessa visão direção e conteúdo para o seu envolvimento e compromisso neste mundo.

Estamos na área central da cidade de Itaperuçu, mas há nove anos conhecemos uma comunidade muito pobre do Vale do Ribeira, PR, a comunidade rural do Caçador. Um lugar marcado por tristeza, doença, sofrimento, abandono e desesperança. Ali, crianças e adolescentes tinham os seus direitos básicos violados e adultos só eram lembrados a cada dois anos porque possuíam um título de eleitor. A escola ficava cerca de 22 quilômetros de distância, numa região montanhosa, com estradas rurais em péssimo estado de conservação -- em 2010, dos duzentos dias letivos, as crianças conseguiram chegar à escola em apenas noventa.


Pensamos assim: se a nossa igreja existe para proclamar o evangelho do reino, na expectativa de que o que foi afetado pela “queda” passe a funcionar conforme as intenções de Deus e que assim ele seja glorificado, temos de fazer alguma coisa por essas famílias. Começamos a ouvir as pessoas da comunidade e, com a graça de Deus, por meio dos relacionamentos que eram construídos, todos experimentavam o cuidado e o amor de Deus. Certo dia, em uma reunião, uma senhora, “do nada”, disse: “A gente pensava que todos tivessem se esquecido do povo do Caçador, mas Deus não se esqueceu”. E, completou: “É por isso que vocês estão aqui!”.

Cada necessidade percebida era uma oportunidade de serviço e missão. Na casa do ministro de eucaristia e da coordenadora da pastoral da criança, nasceu uma base de trabalho onde aconteciam reflexão bíblica, atendimento médico e odontológico, adoração, atividades pedagógicas de complementação escolar, reuniões de oração, recreação para crianças e adolescentes e muita comunhão. Numa ocasião, o senhor Antônio, dono da propriedade, agricultor familiar e parteiro na comunidade, disse algo que nunca esqueço: “Eu agora consigo sentir o cheiro do reino de Deus neste lugar”. O reino estava ali.

Deus sempre nos surpreende quando obedecemos a sua orientação. Ao longo dos anos, pessoas e igrejas de várias denominações foram mobilizadas -- gente de perto (Itaperuçu e Curitiba) e de longe (Irlanda do Norte e Canadá) -- e as ações foram ampliadas. Em parceria com as famílias, construímos o “Centro de Desenvolvimento da Comunidade do Caçador”, um espaço de uso múltiplo onde funcionam: uma escola de ensino fundamental, que garante o direito das crianças de terem acesso à educação gratuita e de qualidade “perto de sua residência” (como prevê o artigo 53, inciso V do Estatuto da Criança e do Adolescente); os consultórios médico e odontológico; uma pequena cooperativa de produtores orgânicos e também os encontros de celebração e comunhão. Os grupos de estudo bíblico acontecem nas casas, todos preferem assim, pois garante a participação e o pastoreio mútuo.

Quando, confiados no poder do Espírito Santo, cristãos servem à sociedade combinando a “grande comissão” (“ide”) com o “grande mandamento” (“amai”), o reino se manifesta, vidas são transformadas e o Pai é glorificado.

• Bebeto Araújo é engenheiro florestal, pastor-missionário na Igreja da Vinha em Itaperuçu, PR, e diretor da Missão Aliança Noruega.

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