Pascal -- a morte é o começo da beatitude do corpo


De saúde frágil e mais perto da morte do que muitos, Pascal via a morte não como o término da vida, mas como a entrada para ela.


Enfrentemos a morte com Jesus Cristo e não sem Jesus Cristo. Sem Jesus Cristo a morte é terrível, detestável e o horror da natureza. Em Jesus Cristo, a morte é toda outra, toda amável, toda santa e a alegria do crente. Tudo é doce em Jesus Cristo, até a morte e isso porque ele sofreu e foi morto para santificar a morte e o seu sofrimento.

Os crentes que morreram na graça de Deus não cessaram de viver, como a natureza sugere. Ao contrário, eles começaram a viver, como a verdade assegura. Suas almas não estão perdidas, nem reduzidas a nada, mas vivificadas e unidas no soberano viver.

A morte é mais fácil de suportar quando não pensamos nela, embora o pensamento da morte não nos traga nenhum perigo.

A negligência dos que passam a vida sem pensar no fim derradeiro da existência irrita-me mais do que me comove e me espanta mais do que me aterroriza.

Não existe outro bem na vida senão a esperança de sermos felizes à medida que nos aproximamos de outra vida, quando não haverá mais desgraças.

Entre nós e o inferno ou o céu, há apenas uma vida, assim mesmo extremamente frágil.
Não tendo conseguido curar a morte, a miséria e a ignorância, os homens procuram não pensar nisso tudo para serem felizes.

A alma é jogada no corpo para fazer aí uma estada de certa duração.
Quem me colocou aqui? Por ordem e obra de quem este lugar e este momento foram destinados a mim?

Assim se escoa a vida toda: procuramos o repouso combatendo alguns obstáculos, e quando estes são superados, o repouso torna-se insuportável por causa do tédio que ele faz nascer. Então é preciso abandonar o sossego e mendigar a agitação.

Apesar de suas misérias, o homem quer ser feliz, não deseja outra coisa senão a felicidade e não pode deixar de ser feliz. Mas como o fará? Era preciso tornar-se imortal, mas como conseguiu, lembrou-se de não pensar nisso.

Anelamos pela verdade e só encontramos a incerteza. Buscamos a felicidade e não encontramos senão miséria e morte. Somos incapazes de não desejar a verdade e a felicidade e, ao mesmo tempo, incapazes de alcançá-las.

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