“Caruaru não é mais uma cidade pequena. Os políticos é que são provincianos”, dispara Eduardo Guerra
O candidato Eduardo Guerra (PSOL) iniciou a série de
entrevistas do Programa Ivo Sutter (Nova FM 105.09), em parceira com o blog
PresentiaOnLine. Ele respondeu às perguntas elaboradas pela produção do
programa e enfatizou a Educação e o Desenvolvimento Econômico como norte de
suas ideias. Confira a transcrição dos principais trechos:
IVO SUTTER – Caruaru faz parte do Polo de Confecções do
Agreste, com uma economia voltada para a produção e comercialização de
materiais têxteis. Na sua opinião, a permanência da Feira da Sulanca no Centro
pode comprometer a pujança econômica da cidade?
EDUARDO GUERRA – Não só compromete a pujança econômica.
Nosso plano de governo fala de Educação Integral em Tempo Integral com
desenvolvimento econômico sustentável e solidário. Sem dúvida, a Feira da
Sulanca – ao acaparar a verdadeira Feira de Caruaru, feita pelo povo – mostra a
falta de visão dos governantes, que fizeram crescer uma feira a 500 metros
adiante sem saber que o crescimento exponencial de Caruaru dar-se-ia dessa
maneira nos últimos anos, forçando uma nova localização da Feira têxtil. Por
outro lado, a área têxtil tem destacado o pequeno, o micro e o médio empreendedor
de Caruaru, na sua dinâmica. Aliás, a dinâmica criativa é uma marca do
caruaruense, em diversas áreas, que não foram compreendidas pelo poder público
para capitalizar o poder empreendedor, causando falta de mobilidade, educação
de qualidade e saúde pública de qualidade.
IVO SUTTER – A cidade possui diversos loteamentos irregulares, deixando a
população carente de serviços básicos. O senhor acredita que a cidade precisa
de uma reforma urbana que discipline as condições de moradia, sobretudo para a
população mais carente?
EDUARDO GUERRA – Ivo, eu não acredito que todos os
candidatos que venham aqui falar que farão mobilidade possam fazer isso. Eles
são os causadores da falta de mobilidade. Há 56 anos governam esta cidade,
quando o primeiro cacique das tribos que governam esta cidade se elegeu. A
partir daí, o que se viu foi uma grande especulação imobiliária. Caruaru tem 17
quilômetros quadrados na cidade, onde moram cerca de 330 mil habitantes. O
município, que é mais ou menos do tamanho de Nova Iorque, tem 920 quilômetros
quadrados, dos quais 906 é zona rural, onde moram apenas 28 (mil habitantes).
Eram 36 (mil habitantes), mas foi reduzido atualmente. Então, ao redor da
cidade está a especulação imobiliária. Os donos das terras são os ‘Marqueses de
Calabar’. Há a especulação imobiliária de políticos e empresários importantes,
que compram as terras. A cidade, com 17 quilômetros quadrados, não tem para
onde expandir. Por isso, falta saneamento básico, os bairros não têm autonomia,
desrespeitam as regras de calçadas e ocupação do solo, vereadores doam tijolos
com fins especificamente eleitorais. Não pensam na beleza, no crescimento, na
saúde, na qualidade de vida. Morre mais gente por contaminação ambiental do ar
e da água do que por causa do revólver, que mata tanto aqui, que já é um dos
índices maiores de Pernambuco, que possui um dos maiores índices do Brasil. É
provado pelas Nações Unidas que o ar e a água matam muito mais do que as armas.
É necessária uma reforma urbana, sim. E muito bem pensada. É preciso retomar as
terras tomadas pela especulação imobiliária. Nós vamos apresentar leis de
regularização fundiária, que falta em mais de 60% da cidade. Vamos fazer a
transformação. Por mobilidade, nem os ônibus de governador, vice-governador ou
senador vão passar pelo Centro da cidade. É isso que nós vamos fazer se o povo
nos der a honra de governar esta cidade.
IVO SUTTER – A Segurança Pública é de atribuição do Governo do Estado. Porém,
Caruaru possui a Guarda Municipal, que conta com um efetivo de 39
profissionais. Segundo o IBGE, o município possui 347.088 habitantes. A
proporção é de 8.899 habitantes para um guarda municipal. Esse efetivo é
suficiente? O que o senhor pretende fazer para minimizar a insegurança do
cidadão?
EDUARDO GUERRA – Primeiro, eu tenho dito que essa segurança
é por causa de um Governo Estadual irresponsável e por falta de um comando do
Governo Federal. O governador se mostrou um frouxo, porque começam com esse
programa de segurança nas cidades, mas a insegurança aumentou. A insegurança
tem três vertentes. Uma delas é a exclusão social; a outra é a corrupção e a
outra é a falta de cultura, de educação, de disciplina, de hierarquia dentro de
uma sociedade. Nós temos visto que isso está ocorrendo de uma forma
avassaladora.
Dizer que guardas municipais vão acabar ou minimizar a
violência é um absurdo, é de quem não tem preparo. Guarda municipal é para
cuidar dos monumentos municipais, das escolas, do patrimônio público. Eles
podem ser bem treinados, dentro de uma política de inteligência, em parceria
com a Polícia Federal, com a Polícia Rodoviária Federal, com a Polícia Militar,
com a Polícia Civil. A Destra trabalhando em conjunto. As organizações, as
associações de bairro deixando de ser xeleléus de prefeito para prestar um serviço
e fazer o levantamento da violência em cada bairro. Para isso, vamos criar o
NEV – Núcleo de Estudo da Violência. Pastorais, clubes de serviços, sindicatos,
todos vão participar estudando essa violência. Essa violência não será
resolvida na bala e nem armando a Guarda Municipal. Vamos capacitar a Guarda
Municipal para fazer o seu trabalho. Nosso combate à violência dar-se-á por uma
formação educacional cidadã, conhecedora dos direitos e deveres do cidadão.
Todo mundo gosta de falar dos direitos, poucas pessoas falam dos deveres, que
têm de ser cumpridos, com desenvolvimento econômico e sustentável.
IVO SUTTER – Nos últimos anos, Caruaru desenvolveu-se no ponto de vista
educacional, sobretudo por causa das instituições de ensino superior. No
entanto, fortalecer a Educação Básica continua sendo um desafio, desde o
déficit na quantidade de creches às dificuldades estruturais no Ensino
Fundamental. Há algum projeto que valorize a formação das crianças
caruaruenses?
EDUARDO GUERRA – Enquanto eu acho que a Guarda Municipal não
deve ser medida pelo índice da população, mas territorial, neste caso
específico das proteções ao patrimônio público, acho que as creches, sim, têm
de estar disseminadas nos bairros. Ninguém deveria pegar um ônibus para deixar
o filho em uma creche. Agora, a transformação da Educação que queremos fazer é
valorizando os professores como engenheiros de alma e engenheiros de gente. Não
vão haver mais de 5 mil contratados no serviço público. Vamos fazer concursos.
Os professores concursados estarão capacitados para desenvolver a Educação que
o povo requer. A Educação formal deve ser complementada fora da sala de aula,
com Educação para o Meio Ambiente, para a Agricultura, como estão fazendo os
países mais desenvolvidos do mundo – a Finlândia, por exemplo –, além de formar
quadros que tenham consciência do dever do trabalho.
IVO SUTTER – Não se pode falar de Educação sem mencionar as
condições de trabalho dos professores. O seu governo procurará estabelecer um
diálogo aberto com a categoria, favorecendo quesitos como salário, carreira,
condições e efetivação profissional?
EDUARDO GUERRA – Primeiro, o poder precisa entender que é
serviço. A mordomia inerente ao poder é outra coisa, mas o poder é serviço. Um
prefeito não pode estar encastelado em um bairro nobre, não pode viajar para a
Suíça pensando que lá vai descansar dos problemas de nossa cidade. Os
professores devem ser tratados com Prioridade 01. Deve ser dada aos professores
a mesma prioridade que é dada ao desenvolvimento econômico. As pessoas pensam
em emprego, mas a pessoa tem que ter sua consciência cidadã, seus deveres de
cultura, de ética, de arte, de interpretar o destino. A educação perpassa a
percepção das relações ocultas entre os fenômenos. Se a pessoa não tiver
consciência do que se passa ao seu redor, ficará à mercê de uma Educação que a
torna subalterna. O grito de liberdade só acontece com consciências livres.
Vamos acabar com esse Plano de Cargos e Carreiras que está
aí e não foi dialogado com as bases. Temos que dialogar com os professores, que
são engenheiros de gente. Professor tem que ter tempo para planejar sua aula.
IVO SUTTER – Salta aos olhos a crescente quantidade de veículos que circulam
pelas ruas da cidade, o que muitas vezes dificulta o bom andamento do trânsito.
Vias estreitas, calçadas irregulares, ausência de acessibilidade provocam
estorvos para pedestres e condutores. De que forma o trânsito pode ser melhor
ajustado no município?
EDUARDO GUERRA – Primeiro, essa cidade tem que ser
expandida. Tem que acabar com esses donos das terras circunvizinhas. Eu não
entendo porque uma pessoa, para determinado serviço, tenha que sair do Salgado
para o Centro da cidade. Não entendo como acontece isso. Por que os ônibus têm
de passar pelo Centro da cidade e não podem fazer a circunvalação? É tudo
concêntrico! Tem outra coisa: as ruas por onde passam os ônibus não têm o mesmo
tratamento das ruas por onde passam os automóveis. Ivo, eu só ando de carro
porque não há um transporte público de qualidade. Se houvesse um transporte público
de qualidade, eu andaria de ônibus o dia todo.
A velocidade média de uma cidade como Caruaru é 40km/h.
Ninguém andará nesta cidade a mais de 40km/h. Nenhum ônibus intermunicipal
entrará no Centro desta cidade. Nós vamos tentar desafogar isso aí com transportes
alternativos. O automóvel tem que respeitar a moto, mas a moto tem que
respeitar a bicicleta, a bicicleta tem que respeitar o patim e o patim
respeitar o pedestre.
IVO SUTTER – Conhecida mundialmente devido à sua diversidade
cultural, boa parte dos artistas da cidade reclamam da falta de estrutura para
desenvolverem seus trabalhos. Em Caruaru, há eventos demais e base cultural ‘de
menos’? É necessário tornar a cultura um setor economicamente ativo?
EDUARDO GUERRA – Não só economicamente ativa.A cultura é a
alma de uma civilização. Caruaru surgiu pela cultura. A Feira surgiu porque as
pessoas iam para o Sertão e voltavam de lá comercializando e paravam aqui
enquanto intercambiavam. Não foi o Governo quem fez a Feira, foi o povo. Não
foi o Governo quem fez a cultura popular, a cultura é popular por ser feita
pelo povo. Isso eles não entendem. Estão acabando com a cultura popular. Estão
acabando com o maior centro de artes figurativas das Américas. Usam o nome de
Vitalino, mas não respeitam seu talento. Não é seguir a mesma coisa ‘per
omniasaeculasaeculorum’. Os tempos mudam e a expressão artística muda. Eles
trazem um artista que trabalha no barro para as pessoas ficarem olhando, como
um gorila que é colocado em uma jaula para as pessoas ficarem olhando. O povo
de Caruaru é germinativo, empreendedor e criativo. Infelizmente, essa casta que
governa a cidade castra a criatividade do povo, acabando com festas populares.
Caruaru tem zabumba, teatro, forró pé-de-serra, mamulengo, perna-de-pau.
Caruaru é a terra da criação e da cultura popular, assim transformando-se em
terra de Educação também. Eles querem castrar isso, pois pensam que Educação é
colocar Wesley para cantar para 100 mil pessoas em um local que não tem
saneamento básico. É assim que eles tratam essa cidade. Eles não sabem pensar.
Caruaru não é mais uma cidade pequena. Os políticos é que são provincianos.
IVO SUTTER – Uma das maiores dificuldades enfrentadas pelo
SUS é o acesso do paciente aos equipamentos de saúde. De que maneira o poder municipal
pode se inserir neste contexto, favorecendo os pacientes no que concerne aos
cuidados médicos?
EDUARDO GUERRA – Bem, vou aproveitar e complementar a
resposta da pergunta anterior. O Parque 18 de Maio será um local de festas e
feiras populares. As pessoas vão se reunir para brincar, mostrar arte, fazer
exposições. Isso é saúde também, física, mental e espiritual. O SUS está muito
limitado ao projeto nacional, que querem acabar. O PMDB do senhor Antônio
Geraldo, o PSDB da senhora Raquel Lyra, o PSB do senhor Jorge Gomes estão
trabalhando para desestruturar o SUS. Estão cortando as verbas do SUS, as
verbas da Educação. E eles vêm nos dizer que vão realizar os projetos do SUS!
Nós vamos lutar, junto ao Governo Federal, com nossos valorosos deputados do
PSOL para que as verbas do SUS não sejam cortadas. E vamos fazer uma Saúde
Preventiva sem precedentes na história de Caruaru, cuidando do meio ambiente,
do saneamento básico, do esporte, do lazer, da cultura popular, do emprego e da
renda. Vamos priorizar a Saúde Preventiva, que isso, sim, está dentro das
possibilidades do Município e vamos lutar, com a garra do PSOL, para preservar
as vantagens conseguidas pelo SUS para o atendimento da ação curativa da
população.
IVO SUTTER – Caruaru tem áreas ambientais a serem
preservadas, desde Serra dos Cavalos ao Rio Ipojuca. Como conciliar o
desenvolvimento do município com o cuidado ambiental?
EDUARDO GUERRA –Caruaru tem a sorte de ter dois grandes rios
nas suas entranhas: o Capibaribe e o Ipojuca, que eles transformaram em um
filezinho de água poluída. Foram permitindo a construção de prédio tal, de
escola tal, os comerciantes foram invadindo o leito do rio. Mataram o Rio
Ipojuca, construíram prédios nos riachos, desarborizaram a cidade. Nós achamos
que Caruaru tem que se inserir no debate de revitalização do Rio Ipojuca com os
municípios circunvizinhos, sabendo que não é uma responsabilidade específica do
Município, mas o Município tem de debater e se inserir nisso.
Para a Serra dos Cavalos, temos um projeto educacional.
Todos os municípios circunvizinhos poderão ir lá estudar fungos, árvores,
borboletas, acampar como escoteiros, fazendo uma educação científica
desenvolvendo um cidadão com conceitos ambientais e éticos.
PERGUNTAS DO PROFESSOR
URBANO SILVA –Eu gostaria de lhe fazer uma pergunta,
candidato, que envolve três aspectos: empreendedores, emprego e renda. Quando
vemos esses fatores, chegamos ao Distrito Industrial, perto de onde há um
aeroporto que não funciona. Qual seu projeto para a expansão do Distrito
Industrial e reativação do aeroporto?
EDUARDO GUERRA – Em primeiro lugar, tenho de entender que em
Caruaru a indústria que deve ser privilegiada é a indústria seca, que não
consome muita água. Já temos um problema de escassez de água. Em 2004, disseram
que Jucazinho viria, como veio, mas a qualidade de água não é boa e não
resolveu o problema. Já veio Camevô, mas não resolveu o problema. Agora, já
dizem que virá um novo projeto, de Pirangi, que dizem que estará pronto no
próximo ano. E a água não chega nem o povo é educado para a economia da água.
Mesmo Caruaru sendo uma cidade de serviço, o Distrito Industrial é muito
importante. A indústria tem que vir cuidando do meio ambiente. Mas também tem
que ter internet de qualidade e qualificação sistêmica dos métodos
operacionais. Selecionando as indústrias que virão para Caruaru, teremos que
ampliar essas terras e voltamos para o problema da democratização das terras.
Tudo isso com transporte de qualidade para os trabalhadores.
URBANO SILVA –Segundo dados do IBGE, Caruaru tem uma
população de 42 mil habitantes em sua área rural. Queria saber seu plano de
governo para a zona rural...
EDUARDO GUERRA – Há dados mais atualizados, que
mostram uma redução para 36 mil habitantes neste ano de 2016. Na zona rural,
existiam várias alternativas de subsolo, como poços artesianos, que hoje estão
desarticulados. O homem do campo está perdendo a característica e deverá perder
mais, porém é necessário manter um cinturão verde ao longo da cidade. Temos que
estimular os hortifrutigranjeiros, mas também o turismo ambiental. Através de
cultura e educação rural, vamos criar educação de Ensino Médio em cada zona
rural de Caruaru.
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