Jénerson Alves - Aqueles olhos cançados
Calça justa, blusa fina, de botões. O primeiro botão
aberto, mostrava a curva dos seus seios, escondidos por um sutiã vermelho. Por
onde passava, atraía olhares masculinos (e femininos). Ela era acostumada a
isso. Sentia prazer na sensação de ser ‘secada’ pelos homens. Achava engraçada
a forma como os namorados das amigas tentavam disfarçar o fascínio que sentiam
por ela. Era ‘comida’ com os olhos por todos. Ouvia “eu te amo” de vários caras
todos os dias. Mas sabia que esse ‘amor’ se reduzia a jantar, motel e ‘tchau’.
Até conhecer ele. Não que ele fosse feio, mas também
não era bonito. Não que ele fosse burro, mas que tinha um papozinho meio...
bobo. Não que ele fosse chato, mas também não era legal. Só que ele tinha
algo... uma coisa assim, sabe? Meio que... sei não!
Já sei! O olhar. Isso mesmo. Era o olhar dele. O
olhar! Não eram os olhos. Era o jeito que ele olhava. Um olhar meio triste,
meio vazio, meio cansado, meio perdido. Uns olhos que pareciam mais velhos que
o resto do corpo. Uns olhos que pareciam chateados de estar abertos, que
queriam se fechar, que queriam dormir.
Mas quando esses olhos paravam nos olhos dela, ela
sentia um arrepio. Um arrepio, não. Uma coisa! Deixa eu ver se explico. É que
parece que ele conseguia olhar dentro dela. Ele não ficava babando, olhando os
dois mamões que pulavam da blusa dela. Ele não ‘comia’ ela com os olhos. Ele
não mandava mensagens pornôs pelo WhatsApp... mesmo em silêncio, ele tocava na
alma dela.
Parece que ele sabia o quanto ela chorava sozinha à
noite. Parece que ele enxergava as agruras e os ferimentos que havia no
espírito dela. Parece que ele sentia a mesma dor que ela, quando alguém falava
coisas feias sobre ela. Parece que ele conseguia abraçá-la com a mente.
Por isso, foi ela quem o chamou para sair, naquela
noite. Ela mesma escolheu o restaurante, a mesa, a tequila. Pensava se seria
ela quem teria de escolher o motel, mais tarde. Afinal de contas, não se pode
perder uma noite de sábado...
Nesse momento, do nada, ele disse para ela: “Eu oro
por você, sabia?”. Ela não acreditava nesse negócio de Deus. Achava que se Ele
existisse, a vida dela não seria tão vazia. Mesmo assim, perguntou: “O que você
pede a Ele por mim?” Ele respondeu: “Nada. Apenas declaro que você é dEle. E
desejo que o amor dEle transborde em você”.
Ela ficou com isso na cabeça.
Talvez a vida seja mais do que um emaranhado de fatos desconexos, do que um monte
de erros que não saem do nada para o lugar algum. Talvez a vida não seja o que
nós recebemos, mas aquilo que fazemos dela. Aí se jogou nos braços dele. E não
quis largá-lo mais. Entendeu que o Eterno é tão grande que só cabe no espaço de
um amor sincero.
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