A Conversão de Janires

É extremamente difícil fazer uma linha do tempo quando os fatos entrelaçam-se. A conversão de Janires ocorre na mesma época de fatos já mencionados em outras postagens (leia a reflexão sobre as igrejas da década de 70 e a história da banda Êxodos).
Pouco se sabe da vida pessoal do músico durante a época de conversão e início da vida cristã, e mais ainda a respeito da infância. Janires era capixaba, não conheceu o pai (que abandonou a mãe ainda pequeno) e, por motivos ainda não muito bem esclarecidos envolveu-se na criminalidade e uso de drogas (creio que por uma moda da época). Nenhum destes problemas, entretanto afetou negativamente a clara proficiência do músico em compor, e sua visão de mundo. Talvez, apenas enriqueceu.
Tendo contato com realidades as quais a maioria dos cristãos não possuem, Janires tinha liberdade e cacique para falar das coisas da vida, suas frustrações, alegrias e tristezas. Por conta de um milagre, ao invés de ser condenado por um crime que cometeu, foi confundido com outro detento e parou numa casa de recuperação duas vezes. Foi ali que ele e sua mãe conheceram a Cristo. Mas, como a realidade é nua e crua, Janires ainda não conseguiu manter-se completamente limpo após a conversão. Teve recaídas, todavia se levantou. Frequentou a Igreja Cristo Salva, em São Paulo e realizou algumas atividades musicais, dentre elas um cassete amador chamado “Rebanhão”, com dez músicas autorais. Rebanhão, mais tarde se tornaria o nome da banda que fundaria. Muitos consideram o Rebanhão como este grupo que Janires gravara na igreja do tio Cássio, entretanto o curso da história evidencia que o grupo propriamente dito começaria no Rio de Janeiro.
E a ida para o Rio de Janeiro, segundo Janires era uma direção de Deus. Ele queria que aquele projeto começasse lá. Passou a frequentar a igreja Presbiteriana de Copacabana, e sua aparência surpreendia a todos: era extremamente simples. Não ajuntava riquezas, não tinha vaidades, mas possuía palavras e visão de mundo que poucos apresentavam. Eis aí, um gênio, a frente de seu tempo.
Após ser ajudado por irmãos na fé, era tempo de Janires fazer o mesmo por neófitos. O primeiro foi Pedro Braconnot. Tecladista e compositor, vindo de família católica, era desinteressado pelo cristianismo. Acreditava que Deus não existia, e se existisse estava bem alheio de sua vida, e não compreendia os protestantes. Pedro participou de um acampamento em Juiz de Fora, e se converteu. Tentou largar as drogas e bebidas, mas teve dificuldade. Foi Janires, que teve experiências semelhantes a Pedro que o ajudou a se levantar, num processo de altos e baixos. Juntos, foram os primeiros integrantes do que se tornaria o Rebanhão (mesmo que em São Paulo Janires tenha feito algo semelhante). E, curiosamente ambos compuseram a maioria das melhores músicas já gravadas pelo grupo. Diante disto, será que podemos afirmar que as múltiplas experiências (incluindo as negativas) nos dão ampla visão de nossos objetivos como cristãos, também enriquecendo a criatividade?

“Etc e tal”, uma das canções do cassete do Janires. A crítica de Janires, no final da década de 70, soa atual por conta da popularidade da teologia da prosperidade.

Tiago AbreuFormado em TI, fazendo gambiarra como blogueiro. Interesse na música cristã como um todo, mas potencializado na história. Com isso, tentando pesquisar mais e também informar mais.

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