ESPECIAL - O maior inimigo das crianças

June Ribeiro
Por June Ribeiro
Tenho pensado e escrito sobre ser amigo das crianças. Procurei ressaltar o lado prazeroso e enriquecedor da convivência com elas, buscando  refletir sobre o valor das mesmas e incentivar pais e educadores, em geral a investir nesta relação.
Mas não hoje. Pela manhã, recebi a triste notícia de que uma criança a quem eu vi nascer havia sido agredida por seu pai. Aconteceu no domingo à noite, logo após a família chegar do culto. A situação era corriqueira. O pai deu uma ordem direta, a criança retrucou e o pai partiu pra cima dela e da mãe que tentou impedir a agressão. Os irmãos menores também se envolveram e até os vizinhos tiveram que entrar no meio para separar.
Eu fiz várias coisas durante o dia, mas nada me fez esquecer. Daí comecei a ler a Bíblia e a escrever uma reflexão sobre a aquele texto em que Jesus abençoa as crianças. E, quanto mais eu pensava naquele que foi e é o maior e melhor amigo delas, tanto mais eu pensava naquilo que Ele afirmou:
Mas se alguém fizer tropeçar um destes pequeninos que creem em mim, melhor lhe seria amarrar uma pedra de moinho no pescoço e se afogar nas profundezas do mar”. Mt. 18:6
Obviamente, Jesus não está aprovando e nem incentivando que uma pessoa tire a própria vida, mas utiliza a comparação como um recurso para evidenciar a incoerência humana, a dureza do coração, a distorção da Palavra e dos propósitos divinos, assim como faz em Marcos 10: 5 quando interrogado acerca do repúdio e do divórcio. Este nunca foi o propósito de Deus e nunca contou com a Sua aprovação, a não ser como “o menor entre dois males”.
É neste contexto que ouso defender a Lei da Palmada como “o menor entre dois males”, correndo o risco de ser excomungada. Porque nós cristãos acreditamos na disciplina com a vara, espancamos nossos filhos e o fazemos supostamente em nome de Jesus. O índice de crianças espancadas nos lares evangélicos é tão alto quanto o número de adolescentes e jovens que abandonam a igreja tão logo se sentem capazes de “andar com as próprias pernas”.
Acredito no valor e na necessidade da disciplina, inclusive com a vara, que na verdade é “um broto de árvore”, um galho tenro, que causa desconforto, mas não machuca. Não faz vergões e hematomas, nem no corpo nem na alma. Acredito na disciplina aplicada com brandura e domínio próprio, fruto do Espírito Santo em nós.
Se, como no caso em questão, o pai precisa esbravejar a plenos pulmões: “sou eu quem manda nesta casa” – então, Jesus não está mais no trono. Ele não tem o governo do coração dos pais e, consequentemente da família. Se é assim, talvez nunca encostar a mão na criança seja “o menor entre dois males”.
Que inimigo pode haver, maior que um pai que chega do culto e espanca sua esposa e filhos? O que pode ser mais eficiente para escandalizar e fazer tropeçar a estes pequeninos que creem em Jesus?
O que os amigos das crianças podem fazer à respeito?
Muito triste …

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