Hipocrisia e bullying

Hipocrisia e bullying
Os séculos passam e a religião segue firme na prática da hipocrisia. Dia desses, um jovem me procurou para dizer que havia sido colocado “no banco”, suspenso do ministério de louvor de sua igreja local, diante do pastor ter tomado ciência de que ele tomava cerveja.
Ele estava obviamente chateado, pois entendia que haviam outras “atitudes” ocorrendo na comunidade que mereciam igual ou maior severidade por parte da liderança, o que não ocorria, segundo ele.
Bem, na minha opinião, o que acontece com absurda facilidade nessas coletividades é a mais pura e simples “hipocrisia”.
Tratados por Jesus com vigor e violência profética, os hipócritas são parte essencial da religião decaída, apóstata e que, quase sempre, conta com o maior número de seguidores e adeptos de suas práticas farisaicas.
Hipócrita é uma palavra que tem origem no grego e é a união de duas outras palavrinhas gregas: “hipo”, que tem a ideia de diminuição, e “crita” que tem a ver com crítica, avaliação.
Quando a pessoa faz uso da hipocrisia, ela está exteriorizando um desejo de diminuição do outro, menosprezando-o com palavras, pois a alma do hipócrita deseja estar em vantagem sobre os outros.
Normalmente, um hipócrita tem vontade de fazer algo, mas, sentindo-se refreado por suas próprias doutrinas religiosas, acaba criticando pessoas que o fazem.
Ora, o que é isto, senão bullying?
Recorrendo a Jesus, amigo dos pecadores, cruel algoz verbal dos hipócritas e desconstrutor de sistemas de hipocrisia, podemos recordar:
Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, estando uma trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão”.
Esse discurso do Senhor confirma o sentido de menosprezo pelo outro, salientando seus defeitos e diminuindo os próprios.
Isto é a perfeita materialização do bullying, que eu achava ser um fenômeno moderno, nos tempos bíblicos.
Eu, de mim mesmo, não posso dizer a alguém o que é certo ou o que é errado. Não defendo que alguém beba ou deixe de beber, mas defendo que todas as pessoas são livres para tomar suas decisões e ter atitudes baseadas em seus próprios conceitos, fazendo o que desejam e o que acreditam ser certo.
Óbvio que tudo tem consequências e buscar pensar de forma livre e, pior, viver a liberdade pensada, pode causar espanto e estranheza para muita gente, talvez até inveja, ou ainda más interpretações oriundas de literalismos e fundamentalismos religiosos.
Mas no final das contas, o fato crucial nesta história que citei, sobre “o músico crente que gosta de tomar cerveja” e em quaisquer outras semelhantes, é que quem manda é o líder e é ele quem decide quem toca ou não.
Ora, o pastor é o dono da bola (palco-púlpito), do campo (igreja) e ainda é o juiz desse jogo. Daí, fica cruel!
Ainda que a igreja seja formada por um conselho ou presbitério, a ortodoxia, a doutrina, os mandamentos, o estatuto darão o veredicto final sobre o certo e o errado.
Onde está o bom senso? Onde está Jesus, amigo dos pecadores? Onde está o Espírito Santo, que faz a obra?
Uma vez, uma irmã, que era fumante, me disse que o pastor dela não a deixava entrar no diaconato. Falei para ela que o cigarro não me incomodava, mas que para a visão de sua igreja, cigarro era símbolo de pecado, de impureza e, então, não havia como ela ter as duas coisas (o diaconato e o cigarro).
Bem, depois dessa conversa, fiquei sabendo que ela parou de fumar e acabou não querendo mais o diaconato. Bom para saúde dela!
O lance é que “eu” acho que tudo isso é hipocrisia e hipocrisia sempre recai na prática do bullying, mas eu não mando em nada. Quem manda é o pastor, o presbitério, o apóstolo, a doutrina, a linha teológica, o estatuto.
Se você quer estar ali, ande na linha deles, mas se quiser viver sua vida dentro de um conceito de liberdade no qual acredita, deve saber que custará um preço e algumas perdas acontecerão na sua vida.
Eu perdi amigos e até parentes, perdi o respeito de muitos e também o carinho. Perdi dinheiro, salário, casa e muitas outras coisas por achar que deveria seguir minha vida com liberdade, o que feriu meu grupo e acabou me conduzindo pelo caminho da excomunhão.
Descobri que a liberdade não é de graça e que o caminho para a salvação foi aberto por Cristo, e não há preço neste mundo que possa pagar por isto, mas andar nele custa caro.
Eu não julgo a ninguém por beber, nem por fumar, tampouco quem gosta de maconha, nem quem usa remédios para dormir. Para mim, somos todos iguais! Somos todos pecadores e precisamos de redenção!
A escolha sobre qual caminho seguir é de cada um de nós, mas saibamos todos que, ao dar alguns passos numa direção que confronte ou afronte a ortodoxia do grupo, o bullying será inevitável, pois os bullies, a saber, os hipócritas, grassam nessas coletividades e são implacáveis em apontar seus dedos e acusar. Isaías 58 neles!!
Espero que Deus dê sabedoria e perseverança em qualquer direção que decidirmos seguir!

 

Pastor, músico, compositor, poeta, jornalista, produtor musical, blogueiro, twitteiro, facebookeiro, observador da igreja dos últimos dias à serviço de Cristo.
gospelmais

Comentários