Eleições e o voto dos Evangélicos

Prá começo de história, se nem todo gato é pardo, porque é tão difícil entender que nem todo evangélico é alienado o massa de manobra, ou fundamentalista? Pois bem, com o crescimento constante do número dos que se dizem convertidos a fé cristã no Brasil, vemos a cada vez mais o olhar do mercado sobre eles, evidente que no cenário eleitoral aconteceria o mesmo.
Só esta semana acompanhei em publicações nacionais como as revistas Exame e Carta Capital, no Jornal do Brasil e em sites como o da UOL, e, em Caruaru uma excelente entrevista publicada no Jornal Extra de Pernambuco trás respostas bem esclarecedoras sobre o tema.
Esta semana resolvi falar sobre o assunto não para defender ou atacar, mas ajudar a entender.

Primeiro quem me conhece sabe que tenho minha formação política forjada no cotidiano de movimentos sociais (MST e MTST), em marchas e ocupações, são mais de 20 anos participando de plenárias e congressos sendo a maioria delas enquanto estive filiado ao PT, ajudando a fortalecer luta sindical, defendendo as reformas Urbana, Rural e agora Constituinte; participando da formação de grupos de trabalho de organização popular; em várias frentes de ação não sendo necessária (na maioria delas) exposição pública e consigo conciliar essas atividades com a fé que tenho num Deus que intervém na história e que nos quer, enquanto no mundo, como agentes de transformação social. Tenho na história do passado e do presente, diversas pessoas que deram exemplo de doação e dedicação a serviço do próximo ou de uma sociedade mais justa, sendo vários destes pagando com a própria vida por esta opção.
Gostaria de ver a chamada bancada evangélica, que se dedica com tanto empenho e zelo contra a legalização do aborto, os jogos de azar, os símbolos religiosos e outros sintomas de idolatria, os comerciais de cigarro, o kit gay, o casamento homossexual, o adultério, etc. mostrarem o mesmo discurso afiado e garra diante dos assaltos aos cofres públicos, a corrupção institucionalizada e impune, a gula das quadrilhas federais, a compra e venda de votos, os contratos de aluguel, as coalizões cafajestes e outras delinquências, sem falar das mazelas sociais gritantes. Em vez disso, percebo nesses itens conivência, tolerância, cumplicidade por ação ou omissão, deputados com processos por suspeita em crimes como peculato (apropriação de bens ou valores públicos de forma indevida), improbidade administrativa, corrupção eleitoral, abuso de poder econômico, sonegação fiscal e formação de quadrilha. Entre as igrejas representadas por esses deputados, a Assembléia de Deus é a denominação com mais parlamentares envolvidos em escândalos, e não pense que é a minoria da bancada, é a maioria mesmo.
Por esse motivo, nunca decidi meu voto por um candidato pelo fato dele ser ou não evangélico, e me esforço para que mais cristãos possam refletir sobre isso, o que devemos levar em conta são os mesmos itens que deveríamos observar em qualquer postulante: histórico, conduta, coerência e propostas, etc. Mas não é de hoje que se preocupam tanto com os crentes, de fato hoje quem se inquieta com a possível força de Marina entre os evangélicos desde a primeira campanha para presidente de Lula viu se formar comitês dos chamados cristãos progressistas pró-Lula. E naquela época ainda tínhamos que combater pastores assustados com a possível chegada do operário “comunista” ao poder, pois iria fechar as igrejas e perseguir os irmãos.
Então há questões e outras questões que precisam ser analisadas e avaliadas quando se falar em voto dos evangélicos.

Há variáveis mais profundas. Por mais que no púlpito ainda existam pastores que queiram controlar seus “rebanhos” estes estão cada vez mais conscientes e críticos, se ainda não está no ideal, mas é algo progressivo e que tende a aparecer mais. Enquanto evangélicos devemos deixar de lado os possíveis benefícios que teremos para nossa comunidade eclesiástica (redução de impostos, ajuda na construção de templos, etc) e estabelecer sintonia com as mudanças desejadas pelo povo: mais desenvolvimento, mais políticas públicas, mais emprego, mais salário, mais democracia, etc.
Paulo Nailson
Publicado inicialmente no Blog do Mário Flávio

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