Bancada Evangélica: E a corrupção?
Conforme já noticiou o Gospel Mais e boa parte da imprensa secular, mais da metade dos deputados da bancada evangélica enfrentava processos na Justiça em 2012.
A lista de deputados evangélicos suspeitos de crimes que vão desde formação de quadrilha até sonegação fiscal precisa ser atualizada. Ao invés de menor, essa lista parece maior…
É claro que casos individuais – por mais numerosos que sejam – não servem para reduzir toda a Bancada Evangélica a um antro de corruptos. Mesmo porque os processos ainda estão em andamento e possíveis condenações não verão a luz do dia tão cedo.
Mas o fato é que a corrupção jamais recebeu oposição séria da Bancada.
Por curiosidade, acompanho o que fazem alguns parlamentares que vivem com a Bíblia debaixo do braço. Eles costumam esbravejar e chorar contra a corrupção nas tribunas da Câmara Federal e do Senado em surtos emocionais de indignação ética.
Ora, talvez eles não saibam que os caciques de seus próprios partidos sejam suspeitos de comandar esquemas de corrupção em ministérios e estatais.
E alguns deles talvez não tenham descoberto que seus próprios nomes aparecem nos jornais de Brasília como suspeitos de participação no “escândalo do Cotão” do Congresso Nacional.
Apesar dos discursos emocionais, é sintomática a postura frouxa dos deputados evangélicos diante do sistemático assalto aos cofres públicos que é empreendido por quadrilhas de diferentes colorações partidárias. Eles raramente apoiam investigações ou CPI’s sérias.
Isso deve, é verdade, ao compromisso que os deputados evangélicos têm com seus respectivos partidos e estes, óbvio, com o governo de ocasião.
Mas se são obrigados a tolerar toda a sorte de corrupção porque seus partidos integram a base aliada, eles não deveriam peregrinar nas igrejas evangélicas prometendo o que não podem fazer.
Ou melhor, o que seus partidos não permitem que eles façam.
É forte a impressão de que os parlamentares evangélicos não se mobilizam contra a corrupção que se consolidou como hobby interpartidário em Brasília.
A omissão da Bancada Evangélica diante da selvagem corrupção que condena o Brasil a patamares ridículos na educação, saúde, transporte e infra-estrutura, chamou a atenção do jornalista e colunista da VEJA, Augusto Nunes.
Em artigo intitulado “A Bancada dos evangélicos governistas decidiu que ladroagem não é pecado”, ele denunciou:
O assalto aos cofres públicos, a corrupção institucionalizada e impune, a gula das quadrilhas federais, a compra e venda de votos, os contratos de aluguel, as coalizões cafajestes e outras delinqüências de que até Deus duvida são contemplados pelos evangélicos governistas com a tolerância dos cúmplices por ação ou omissão. Não é por falta de tempo que jamais combateram a ladroagem. O que falta é vergonha.
É importante lembrar que a primeira tentativa de cassação do deputado Natan Donadon foi frustrada por uma articulação profana entre as bancadas evangélicas, do PT e do PMDB. Dos 513 deputados, 108 não compareceram e cassação foi evitada por 24 votos.
Não adianta que os deputados evangélicos gritem contra a corrupção ou que apresentem projetos de lei (demagógicos) contra ela se, no cotidiano institucional da Câmara e do Senado, toleram como cúmplices leais os crimes cometidos por seus pares.
Ou, em certos casos, se tornem eles mesmos suspeitos de corrupção.
Thiago Cortês
Formado em sociologia pela Fundação Escola de Sociologia e Política (FESP) de São Paulo, trabalha como jornalista há mais de dez anos e atualmente trabalha como assessor. Escreve periodicamente no blog: http://soudescortes.blogspot.com.br/
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