Copa: final hollywoodiano ou tragédia grega


Futebol não é o meu esporte preferido, nem pra assitir, nem pra jogar; mas em época de Copa Do Mundo, isso não importa. Ainda mais sendo a Copa no Brasil! É mais do que justificável parar tudo e acompanhar cada segundo desse evento que torna o Brasil o centro do mundo por algumas semanas.

Para quem está vendo a copa fora do Brasil, tudo parece perfeito. Os estádios ficaram lindos e sem aquela grade horrorosa separando a torcida, que mais lembra uma jaula, gramados de ótima qualidade, arquibancadas cheias, torcidas dando show de simpatia e de quebra, jogos excelentes, recheados de emoção. Vocês que estão mais perto e indo aos estádios, é bem possível que tenham uma percepção diferente da minha, mas acho que posso dizer que a imagem geral que os estrangeiros tem da Copa do Brasil é extremamente positiva. Bom seria se os jogos do Campeonato Brasileiro fossem desse jeito…

Já houve quem dissesse que jogo de futebol tem componentes de drama operístico. E nessa copa certamente drama não tem faltado. Com a contusão de Neymar, o cenário que estava se desenhando para um final Hollywoodiano de redenção do mocinho na última cena, parece que se encaminha mais para um final de tragédia grega. Afinal, que diretor de cinema iria tirar de cena nos minutos finais seu principal astro, o mais bem pago, o que mais atrai público para o cinema? O público quer ter emoções tipo montanha-russa; alguns friozinhos na barriga, mas sabendo que no final vai dar tudo certo. Mas e agora sem Neymar? Como passar pelos poderosos alemães sem nosso jogador mais criativo? Como garantir um final feliz, melodramático, piegas, como dos filmes bobos de James Cameron? 

A brutal e inesperada fratura cervical do nosso craque-mor, o “garoto Neymar”, como diria Galvão Bueno, acrescentou elementos ainda mais dramáticos à tumultuada e cambaleante trajetória da seleção brasileira, nesse espetáculo todo. E quem pensa que somente no Brasil existe um endeusamento de jogadores de futebol, vai ficar surpreso ao saber que mesmo aqui nos Estados Unidos, onde o futebol está longe do posto de esporte nacional número 1, o goleiro do time Americano Tim Howard foi catapultado à posição de celebridade, após sua brilhante atuação nas oitavas de final contra a Bélgica. Surgiram posts pedindo Tim Howard para presidente e alguns até fazendo trocadilho com o nome do pais: “Unites States of Tim Howard”. Tudo na base da brincadeira é claro, só pra mostrar que Copa do Mundo é diferente; mesmo quem não é fã de futebol, termina curtindo o evento que acontece só a cada quatro anos.

Futebol é uma grande curtição, um ótimo divertimento. E não deveria passar disso. Me irrito com quem ainda insiste nessa bobagem de associar patriotismo à torcida pelo Brasil em Copa do Mundo. São coisas totalmente distintas. Que adianta estufar o peito e dizer “sou pentacampeão”? isso não acrescenta nada ao seu currículo profissional e nem lhe faz uma pessoa melhor. Ganhar uma copa é merito dos que jogaram, dos técnicos e dirigentes e não do povo brasileiro! A mídia em geral e a Globo mais diretamente tem muita culpa no cartório. Geralmente fazem uma cobertura prá lá de ufanista e melodramática. Basta assistir a alguma materia do insuportável Tino Marcos para perceber o que estou falando. Raramente vejo análises técnicas, isentas. Na maioria das vezes não passam de informações supérfluas recheadas de emocionalismo barato. Nesse sentido, a transmissão dos jogos e os programas de debate esportivo nos canais internacionais são bem mais interessantes. Tenho assistido todos os jogos pela ESPN (TODOS mesmo!) e debates por outros canais internacionais e tenho gostado muito da narração e dos comentaristas. Eles colocaram gente que entende de futebol, como Christian Vieri, Ruud Gullit, Gilberto Silva para comentar e narradores que nos deixam ouvir a torcida e sentir o clima do jogo sem manipulação “Galvaneana”, do tipo de quem quer viver a emoção por você. 

Também não aguento essa bobagem de dizer que essa é “a Copa das copas”. É tão ridículo e sem sentido quanto usar a expressão “maior de todos os tempos”; ora, só se pode afirmar algo assim depois da última e derradeira ocorrência de qualquer evento ou fenômeno. A menos que se possa prever o futuro… 

Não importa se essa vai ser a maior ou melhor copa de todos os tempos; o que importa é que tem sido um evento de sucesso e extremamente divertido, com resultados inesperados e sem um franco favorito ao título, o que certamente acrescenta muito em termos de emoção e competitividade. Resta saber se para a torcida brasileira o final da copa será Hollywoodiano, daqueles em que o mocinho que sofre e apanha o filme inteiro volta na última cena para salvar a atriz principal ou se vai ser uma tragédia grega; daquelas em que o herói morre ou é condenado à danação eterna. E será mesmo, caso a Argentina seja campeã em nosso quintal…

Um abraço,

Leon Neto
folhagospel

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