Entrevista com Pedro Braconot
Pedro Braconnot é cantor, compositor,
multi-instrumentista, produtor musical e pastor. Atravessou várias décadas
influenciando a história da música cristã nacional como integrante e
posteriormente líder da banda Rebanhão. Já produziu grandes nomes da música
cristã nacional, como Cristina Mel, Ozéias de Paula, Denise Cerqueira, João
Alexandre e outros. Confira nossa entrevista com o músico.
O PROPAGADOR – Seu encontro com Jesus Cristo foi na
juventude. Em sua conversão e, logo após amizade com Janires, quais foram os
maiores desafios nos quais você vivenciou em sua caminhada de neófito?
Tive uma experiência com Jesus aos meus 19 anos.
Exatamente no final de uma adolescência intensa como geralmente é com todo
mundo né? Nesta época conheci o Janires que foi o meu primeiro discipulador.
Andamos juntos e comecei a tocar com ele ainda novo na fé. Minha experiência
com Deus foi muito forte e percebi que havia acontecido algo que seria para a
minha vida toda. Eu passei por vários desafios, tendo sido exposto ao palco
ainda muito novo na fé. Isto trouxe também desafios no meu amadurecimento
espiritual, mas no final das contas o que havia acontecido comigo era para
sempre e em meio às lutas de um jovem cristão eu sempre optei em lutar por
minha fé. Hoje fazem 33 anos de caminhada, a vida com Deus é maravilhosa porque
quanto mais perto dele mais nos conhecemos a nós mesmos e o realce nos ajuda a
vencer tanto os obstáculos pessoais quanto os externos. Sem dúvida os maiores
desafios são os que rolam dentro de nós mesmos. A maturidade é ganha pela luta
consigo mesmo, ou seja, a reação que aprendemos a ter diante de cada passo que
damos frente aos desafios da vida.
OP – Como lhe surgiu o
interesse pelo teclado e o piano? Quais os músicos nos quais mais se inspirou?
Minha mãe estudou piano por anos e sempre tinha um
piano em casa. Quando a ouvia tocar me dava vontade de aprender. Com 13 anos
entrei finalmente numa aula particular de piano clássico no Rio de Janeiro, mas
foi o Rebanhão que me ligou para sempre com a música me dando asas para
continuar fazendo música a minha vida toda.
O PROPAGADOR – Sua
primeira composição gravada foi “Refúgio”, um rock progressivo que permaneceu
um bom tempo no repertório dos shows do Rebanhão. Como essa canção surgiu?
Foi realmente a primeira música que fiz.
Simplesmente brotou falando um pouco da minha realidade de andar distante de
Deus e ter recebido o brilho de sua luz sobre a minha vida que me fez mudar a
direção radicalmente. Quando descobri o amor de Deus, mesmo que ainda jovem e
sem um entendimento tão profundo, pois o amor de Deus é como um oceano
insondável de tão profundo e imenso, pude ver que era isso que eu queria para
sempre em minha vida. Essa música marcou o início da minha experiência com
Deus.
OP – O senhor,
conciliando a carreira no Rebanhão, também trabalhou como produtor musical,
arranjador e músico convidado, tendo gravado com grandes nomes da música
cristã, como Cristina Mel, Ozéias de Paula, Denise Cerqueira, Sinal de Alerta,
Carlinhos Felix, João Alexandre, Altos Louvores e muitos outros. Emerson
Pinheiro também já lhe indicou como grande influência. Qual a importância dessa
multi utilidade musical na construção de sua carreira musical? Como é ser parte
viva da história da música cristã nacional e referência para quem segue nos
caminhos musicais que o senhor ajudou a abrir?
Me sinto muito feliz pelo trabalho que tive a
oportunidade de realizar junto a tantos nomes da música cristã brasileira. Tudo
começou porque eu era o tecladista do Rebanhão e começaram a me chamar para
gravar. Eu sempre tive uma atração pela tecnologia e meu pai me deu um
computador Apple em 1987, antes mesmo de a internet ser febre no Brasil eu me
dedicava à gravação em computadores o que veio a ser o caminho nos estúdios do
mundo inteiro. Cada vez que eu entrava em um estúdio de gravação queria
aprender tudo e então parti para esta profissão como um meio de apoiar o
ministério do Rebanhão financeiramente. Conheci muita gente boa neste tempo e
fiz muitos amigos, mas também pude ver o lado frio e comercial que invadiu a
música cristã que a meu ver em muitos casos deixou de ter uma mensagem forte e
profética para se contentar com letras que agradassem a maioria. Uma mensagem
mais lugar comum em prol do sucesso comercial.
OP – A importância do
Rebanhão para a música cristã é inegável e inquestionável. Mas qual a
importância da banda e dos integrantes na sua vida? Em algum momento, naquela
época, o senhor seria capaz de supor a importância que o que faziam teria para
o futuro da nossa música?
Quando comecei no Rebanhão não tinha ideia do que
iria acontecer. Para mim como novo convertido era muito normal cantar músicas
em uma linguagem textual e musical jovem e divertida, mas para muitos se
tratava de algo inaceitável para os padrões religiosos da época. No entanto com
certeza o Rebanhão foi e continua sendo um fato marcante em minha vida. Tanto o
trabalho do grupo quanto as amizades que fizemos. Além disso, hoje posso ver
tantos testemunhos de pessoas que foram tocadas através deste trabalho que não
tenho dúvida que foi um instrumento de benção, um vaso de honra. Sou muito
feliz pelo que Deus fez com o Rebanhão durante todos estes anos.
O PROPAGADOR – Após o
fim do Rebanhão, o senhor decidiu dedicar-se ao ministério pastoral, sendo
consagrado pastor. Hoje está à frente da IHOP (International House of Prayer)
em Caratinga. Fale-nos um pouco deste projeto, sua experiência com o movimento
das casas de oração e sua visão a respeito da igreja brasileira.
Quando parei de viajar com o Rebanhão no ano 2000,
senti que precisava de um tempo maior para a família e me preparar para uma
nova fase que estaria por vir. Eu e minha amada esposa Anya Braconnot fomos
ordenados pastores em 2002 e hoje temos cinco filhos e nossa família é
simplesmente a maior benção de todas que Deus já nos deu! Depois que nasceu
nossa última filha chamada Victoria em 2006 nos Estados unidos, nos alistamos
de corpo alma e espírito neste mover de oração que o Espírito está promovendo
ao redor do mundo. Deus tem levado centenas de milhares de pessoas ao redor do
mundo a orar e adorar coletivamente em uma onda de avivamento que tem se
espalhado cada vez mais. Como no modelo do tabernáculo de Davi a música era de
vital importância, eu me sinto em casa quando passamos horas adorando e
intercedendo no que chamamos de harpa e Taça (Ap 5:8). Voltamos para o Brasil e
estamos liderando uma casa de oração em Caratinga, Minas Gerais. Durante a copa
do mundo 2014 estaremos apoiando um ministério do IHOP-KC que vai levantar
salas de oração nas doze capitais onde haverá jogos da copa. 32 dias de oração:
24 horas contra o tráfico humano, turismo sexual, pedofilia e tudo que tenha a
ver com a injustiça social sobre o Brasil. Vai ser um tempo intenso, eu sou
apaixonado pela oração da igreja, a noiva de Cristo precisa saber mais de sua
autoridade como intercessora.
O PROPAGADOR – Janires,
em suas canções apresentava um cristianismo que transcendia as clássicas quatro
paredes que muitas vezes são impostas. Como compositor, várias de suas canções
mantiveram essa característica, como as canções “Palácios” e “Elo Perdido”. Em
sua opinião, qual é a importância da música cristã na abordagem social e de
questões do cotidiano?
Às vezes o cristão é taxado de ignorante e alheio à
sociedade porque evita tratar temas que transcendem o linguajar bíblico. É
muito fácil não “errar” quando se canta os salmos de Davi e por assim em
diante. Mais creio que como Davi falava do Egito e de seus cavaleiros nos seus
salmos, porque não falar de realidades atuais em nossas músicas? Creio que
precisamos manter nosso foco na Palavra, mas não podemos nos esquecer de fazer
músicas que possam se comunicar com o mundo em uma linguagem mais atual. O
trabalho do Rebanhão ficou conhecido por causa desta visão e isso é um objetivo
que não pode ser esquecido. Fazíamos uma música para alcançar almas que não
tinham nem coragem de entrar em uma igreja, mas conseguiam ouvir um “Baião”,
por exemplo.
O PROPAGADOR – Uma de suas
mais recentes composições de destaque no cenário nacional é “Ame mesmo Assim”,
gravada por Cristina Mel e escrita em parceria com Anderson Freire. Em um dos
trechos da canção, a letra diz: “Se você marcar uma geração com o seu canto /
Com o passar do tempo esquecerão a sua voz / Então, tente lembrar que o mundo
não te dará honras”. A canção, e principalmente este trecho tem algo
autobiográfico? Considerando a vida, na qual passamos por várias fases, qual é
a sua visão a respeito do sucesso já vivenciado?
Na verdade tudo passa nesta vida, mas podemos fazer
coisas que tenham valor eterno. Essas coisas são as mais importantes. O sucesso
dos homens é passageiro, por isso ser conhecido no céu é o que mais quero na
minha vida. A única coisa que sobe com a gente depois desta vida são as almas
que apresentamos diante do Senhor. Não por mérito nosso, mas por causa dEle.
Precisamos fazer amigos eternos.
(http://momentoprofetico.com.br/amigos-eternos/)
O PROPAGADOR – No final
de 2013, foi lançado no iTunes a canção “Mais que Palavras” com a participação
de sua filha Lídia nos vocais. Em março, foi divulgada no Soundcloud “Nada
Mais”, dedicada a sua esposa Ayna Braconnot e mais recentemente “Amado da Minh’alma”.
Essas canções podem se tornar um álbum solo?
Podem e devem rsrs. Tem muito mais para ser gravado
se Deus quiser.
O PROPAGADOR – No
aniversário de Carlinhos Felix em janeiro de 2013, o senhor cantou ao lado dele
canções do Rebanhão. O guitarrista Pablo Chies também estava presente. Como é a
sua relação com os demais ex-integrantes do Rebanhão, especialmente Paulo
Marotta e Carlinhos Felix?
Graças a Deus somos amigos e contamos com a
presença dos dois em uma reunião para gravar um DVD Rebanhão 35 anos.
O PROPAGADOR – Em
dezembro, completam 30 anos da gravação de Janires e Amigos, o primeiro álbum
da música cristã nacional gravado ao vivo. O senhor possui alguma lembrança em
especial desta gravação? Como foi encarar a saída de Janires, visto que além de
“mentor” e líder, era grande amigo da banda?
O Janires foi um cara único, ele saiu talvez porque
nós não conseguíamos seguir no ritmo dele. Deus o usou de maneira especial e o
levou. No entanto tinha outros planos para o resto de nós. Foi um desafio
quando ele disse que ia sair, mas conseguimos seguir em frente com a graça e
misericórdia de Deus.
O PROPAGADOR – Agradecemos
pela entrevista. Gostaria de deixar alguma mensagem para nossos leitores?
Agradeço a oportunidade e quero convidar os
leitores a participar deste movimento Rebanhão 35 anos na nossa página do
Facebook e em breve no site www.rebanhao.com
http://www.opropagador.com/
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