Carlos Queiroz - Pelo poder do Espírito

Pelo poder do Espírito
A missão de Jesus é marcada pela sua capacidade de acolher pessoas e incluir elementos fora da agenda religiosa e cultural. Foi assim desde sua vinda ao mundo. Os magos do Oriente são indicados como sábios gentios que reconhecem o caráter messiânico da criança de Belém, conforme Mateus 2. Na narrativa dos evangelhos, vemos que o Egito, e não Israel, foi a terra de refúgio para o menino Jesus; a mulher siro-fenícia foi elogiada pelo seu exemplo de fé, e alguns samaritanos são mencionados como exemplo a serem seguidos, conforme Lucas 10.25-37 e João 4.
Os grandes milagres de Cristo aconteceram fora de sua terra natal, na Galileia dos gentios, entre os gadarenos. A missão do Filho de Deus era um acontecimento sempre dinâmico, peregrino; uma tarefa de beira do caminho, que podia ser realizada num beco qualquer, na casa de um publicano ou à mesa, com pecadores. Se queremos, de fato, prolongar a missão de Jesus Cristo, precisamos avaliar o conteúdo, o estilo, os propósitos e os instrumentos de nossa tarefa à luz da encarnação Jesus Cristo, e não das experiências eclesiais ou de nossas contradições culturais. Se a ênfase da missão partir da igreja, a atividade missionária consistirá em recrutar novos membros e aumentar seu prestígio e poder de influência. Mas Jesus vai em direção, principalmente, dos que estão fora, e muitas vezes reconhece nestes um testemunho e uma fé superiores à daqueles de sua própria cultura.
Entender nossa missão à luz da missão de Jesus Cristo e não da igreja, poderá fazer uma diferença significativa em nossa abordagem sobre o tema da evangelização e da responsabilidade social – especialmente, porque a igreja tornou-se um empreendimento absorto em si mesmo. Como instituição, está voltada para o prestígio e o reconhecimento público. A influência da sinagoga judaica, bem como da mentalidade grega do sagrado e do profano, possivelmente alienou a igreja do seu papel como fermento das massas.
Precisamos, portanto, visualizar Jesus como inspiração e perfil da missão e sua vivência missionária como critério de nossa prática. Em se tratando das boas novas anunciadas pelo Cristo, o que elas apresentavam? Ela desvendava a vida eterna, enquanto conhecimento de Deus e reconhecimento que ele, seu Filho, era o milagre da revelação divina história, conforme Jo 17.3. Por outro lado, anunciava esperança de vida aos pobres, saúde para os enfermos e libertação a todos os oprimidos (Lucas 4.18,19; 7). Elas proclamavam, também, o Reino de Deus como a nova sociedade de seu povo. O chamado de Jesus é um desafio ao reencontro com Deus, mas é, ao mesmo tempo, a constatação de que os perdidos, os pecadores e os doentes – aqueles que carecem de médico, conforme Marcos 2.17 – são mais ávidos ao arrependimento e ao acolhimento do amor do Senhor.
Jesus Cristo é o Messias, o Verbo que se fez carne e habitou entre nós. Lucas detalha o milagre da concepção de Jesus Cristo como uma obra do Espírito Santo na vida da jovem Maria. Em seu batismo, Jesus foi agraciado com a presença do Espírito Santo; logo em seguida, venceu as tentações no deserto, e o fez pelo poder do Espírito de Deus. Lendo no livro do profeta Isaías, Jesus falou de sua missão, dizendo: "O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para por em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor". E o Filho de Deus morreu e ressuscitou como ação transcendente do Espírito Santo (Romanos 8.9-11).
A missão das comunidades de Jesus Cristo vão se efetivando à medida em que cada discípulo segue o exemplo do Filho de Deus que se fez como um de nós – mas, igualmente, quando os discípulos se permitem ser guiados pelo poder do Espírito Santo. Em Jesus, temos o exemplo, a vida; mas o poder, as virtudes e a unção vêm quando nos enchemos do Espírito Santo. Pelo poder do Espírito, somos transformados e guiados em nossa missão como o vento, que não sabe de onde vem nem para onde vai, segundo João 3.1-16. A missão de anúncio das boas novas através da primeira comunidade dos seguidores de Jesus se inicia quando os discípulos, em Jerusalém, receberam a promessa do Pai – o Consolador. A evangelização e a responsabilidade social das comunidades de Jesus têm como diferencial o fato de serem modeladas na encarnação de Cristo e guiadas pelo poder do Espírito Santo.
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