ALEX DIAS RIBEIRO - Senna foi para o Céu?

Ayrton Senna procurou ajuda espiritual quando quis afastar sua maré de insucessos no ano em que conquistou seu primeiro título, mas logo deixou a vida cristã para se satisfazer nas coisas do mundo. Foi sem entender que o mito, um dia, há de morrer, mas o homem fica. Sorte dele que Deus tem amor por pecadores perdoados


Segunda, depois da tragédia de Ímola em 1994, o telefone de Atletas de Cristo não parou de tocar o dia inteiro. Todo mundo queria saber se Ayrton foi para o Céu ou não. 

Intrépido, impetuoso, corajoso, decidido, valente. Um dicionário só era pouco para definir ou descrever Senna atrás de um volante. Rápido como um raio, é mais fácil de entendê-lo. Andava sempre no limite do carro, da pista, dele mesmo e até acima de tudo, como se não houvesse limite algum. Assumia riscos que faziam Alain Prost arrepiar de medo de andar ao seu lado a 300 km/h. Nigel Mansell, o único maluco de peitar Ayrton em sete duelos roda a roda, empatou um e perdeu seis. Quando não pulverizava seus adversários no cronômetro e na pista, resolvia a parada na marra ou no tapa. 

Técnico, habilidoso, preciso, rápido, autoconfiante, calculista, consistente, superdotado. Também não há dicionário que o qualifique. O Pelé das 4 rodas, é mais fácil de entender. Obcecado pela vitória, pela pole-position e pela quebra de todos os recordes, Ayrton era um mau perdedor. Segundo lugar, para ele, sempre foi um péssimo resultado. Quando metia o bico de seu carro por dentro de alguém numa curva, Ayrton passava pelo lado ou por cima, se fosse preciso. Abusar da sorte não era problema nenhum para ele. 

Ao contrário do super-herói ao volante, Ayrton era um homem tímido, introvertido, calado e triste no olhar. Muito sensível, era extremamente vulnerável às criticas, aos desapontamentos e amarguras que a vida impõe aos simples mortais. Para ele, Prost, Piquet e Mansell eram mais que adversários: eram inimigos odiosos. A enorme diferença entre a estatura do mito e do homem levava Ayrton e sua família a construírem muros de proteção para sua vida íntima. Mas o muro funcionava para os dois lados, e o homem vivia muito solitário porque todos queriam saber apenas do mito. Seu encontro com Cristo foi o grande plus de sua vida. Mas a experiência com os cristãos que viviam atrás dele pedindo coisas que iam de um autógrafo até dinheiro, passando por algumas propostas de casamento, o deixavam confuso e aborrecido. Generoso por natureza, Senna era um homem caridoso que ajudava muita gente, entidades assistenciais e até igrejas.

A corrida da fé


Em 1988, Senna já era reconhecidamente o melhor piloto do mundo, mas as coisas não andavam dando muito certo para ele na F1. Incomodada com a maré de azar, sua irmã levou a missionária Neuza Itioka para orar por ele. Neuza diagnosticou a presença de uma grande força maligna atuando na vida de Ayrton e orou por libertação em nome de Jesus. Impressionado com o milagre da série de vitórias que seguiram essa oração, ele voltou querendo saber mais sobre este Deus tão poderoso. Neuza apresentou-lhe Jesus como único caminho para se chegar a Deus. Falou do plano da salvação e fez o convite para que Ayrton Senna da Silva recebesse a Cristo como seu único e suficiente salvador. 

Senna topou na hora. Foi uma decisão muito consciente e sincera. Durante um ano, procuramos manter sigilo absoluto, tentando dar a Senna a chance de crescer espiritualmente antes de ser confrontado pelo mundo da F1. Mas ele mesmo começou a sentir dentro de si um desejo enorme de falar das coisas lindas que sentia em seu coração em lua-de-mel espiritual. No GP de Portugal de 1989, ele abriu a boca na coletiva de imprensa e falou quase meia hora sobre seu relacionamento com Deus. Foi uma bomba que repercutiu no mundo inteiro. Daí em diante, ele nunca mais teve sossego sobre o assunto: imprensa, adversários, dirigentes, torcedores, cristãos, ateus e agnósticos passaram a cobrar de Ayrton o estilo de vida de um santo. Mas ele era apenas um bebê espiritual. 

Uma reportagem infeliz e a pressão do pai afastaram Neuza e outros irmãos que poderiam ter tido uma influência positiva no seu crescimento espiritual. Sem ser discipulado e disciplina, ele teve uma vida cristã errática entregue à sua própria percepção do Altíssimo. Ninguém se atrevia a confrontá-lo honestamente quando pisava na bola por medo de perder o freguês. Sem uma boa orientação bíblica, Ayrton continuou levando a vida centrada em si mesmo, ao invés de centrá-la em Deus. Decepcionado com a religião, saiu em busca da autossatisfação nas coisas do mundo. Mas o que ele buscava, o mundo não podia oferecer. E assim foi tornando-se insatisfeito ao ponto de subir ao pódio depois de grandes vitórias e não expressar um mínimo sorriso no rosto. 


Brincando com a morte


Ayrton nunca escondeu que tinha medo da morte e da dor. Mas sabia conviver muito bem com o perigo e o medo. Como um menino travesso que se diverte cutucando a onça com vara curta, ele adorava viver perigosamente. Na verdade, a ideia do perigo o fascinava ao ponto de levar a vida no fio da navalha. Até que a morte o ceifou na curva mais veloz do mundo. Morreu em grande estilo. Morreu fazendo o que gostava. Morreu no primeiro lugar, andando na frente de todo mundo. Daqui pra frente, nem Schumacher que viesse logo atrás, nem ninguém mais neste planeta, conseguirá ultrapassá-lo nas pistas. 

Foi o maior funeral da história do Brasil. O mito vira herói nacional e internacional. Seu nome vai para o livro dos recordes. O mito entra para a história. Morre o mito, fica o homem. Daqui a cem anos, o mito já era. E o homem? 

Cristo entregou Sua vida na cruz para salvar pecadores. A eternidade não tem lugar para mitos. Ayrton foi para o Céu?, todos se perguntam. 
Mesmo não vivendo como manda o figurino cristão, Ayrton tomou em vida a decisão de receber a Cristo como seu salvador. 
Depois da morte, segue-se o juízo (Hb.9:27). 
O juiz é Deus, e sua justiça é Cristo morrendo por nossos pecados. 
Juntando essas premissas ao incondicional amor de Deus por pecadores perdoados, eu creio que Ayrton Senna da Silva vai pro Céu.

Alex Dias Ribeiro
de Hockenheim, especial para a REVISTA WARM UP

http://revista.warmup.com.br/

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