Calvino - “EU NÃO MEREÇO SER ESTUPRADA”


Talvez alguns julguem este tema inadequado para encabeçar a capa do boletim dominical de uma igreja evangélica. Talvez alguns entendam que deveríamos estampar aqui um tema mais bíblico, mas não um tema tão “mundano” quanto o que dá título a este texto. Antes que você deixe o boletim de lado recusando-se a lê-lo, quero convidá-lo a refletir sobre uma questão urgente que levou milhares de mulheres a postarem fotos e cartazes com esta declaração: “Eu não mereço ser estuprada!”

Nos últimos dias, mais um assunto se tornou polêmico e ganhou espaço em todas as mídias, país a fora. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) realizou, entre maio e junho do ano passado, uma pesquisa que trouxe resultados alarmantes. Um número absurdo de homens, e pasmemos, de mulheres, entrevistados concorda parcial ou totalmente com a afirmação: “Mulher que mostra o corpo merece ser atacada”, ou seja, para cerca de *65% dos entrevistados, a vítima é culpada pelo estupro se usar short, decote ou saia curta.

Conquanto concorde que o uso de roupas curtas e insinuantes é inadequado, pois entendo que a mulher deve se comportar com decoro, ainda assim preciso discordar do resultado da pesquisa. Roupas curtas não podem servir de justificativa para qualquer ato indecente ou violento contra as mulheres. Enquanto alguns imaginam que o problema está nas roupas das mulheres, preciso lembrar que o problema está no coração tanto do homem quanto da mulher que foi corrompido pelo pecado.

Lendo Gênesis 2, aprendo que a mulher foi criada para ser companheira idônea. Idônea significa de “mesmo valor” ou “adequada”. Ao ver a mulher pela primeira vez, Adão fez uma declaração que revela a compatibilidade e a igualdade de valor entre homens e mulheres: “Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne.” Nas palavras de Matthew Henry “A mulher não foi feita da cabeça para governar sobre ele, nem dos pés para ser pisada por ele, mas da sua costela para ser igual a ele, sob seu braço para ser protegida por ele, perto de seu coração para ser amada por ele.”

O problema está no coração humano que, por causa do pecado, se envolveu em grandes confusões. O apóstolo Paulo, no capítulo 1 da carta aos Romanos fala, com absoluta clareza, sobre a depravação do gênero humano e explica porque nós agimos como agimos, ou seja, o ser humano age com violência, promove atos libidinosos e se torna imoral por causa das “concupiscências de seu próprio coração”.

Somente uma sociedade corrompida pelo pecado pode tentar justificar seus erros transferindo a responsabilidade para a vítima. Somente uma sociedade corrompida pela maldade do seu coração consegue justificar a violência contra o seu próximo culpando a vítima pelo abuso.

Observando as coisas como estão, fica claro que precisamos urgentemente de uma intervenção de Deus que promova conversões genuínas e mudança de corações. Mais do que nunca, precisamos que a igreja se coloque na brecha, em oração, suplicando que o Senhor transforme este mundo para que digamos como João Calvino: “Post Tenebras Lux”, ou seja, “Depois da escuridão, luz”.


Pr. Calvino Rocha

*Depois do tumulto que o resultado da pesquisa provocou, o IPEA fez uma revisão dos números e descobriu erros grotescos na apresentação dos mesmos, tanto que o percentual passou de 65% para menos de 30%, mas como o boletim já estava pronto, mantive os números apresentados inicialmente pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

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