Jénerson Alves: A Escravidão

Vieram ao Brasil os negros
Nos torpes navios tumbeiros
Massacrados pelas mãos
De burgueses fazendeiros
Num capítulo que envergonha
A todos os brasileiros.
Trabalhando nos celeiros
Pra cruéis usurpadores
Na história apelidados
De “pés e mãos dos senhores”,
Receptáculos de chagas,
De injustiças e dores.
Mesmo assim, lançaram flores
Nos lugares que estavam,
Que as mães brancas que pariam
Dos seus filhos não cuidavam
E nos seios das amas negras
Os bebês brancos mamavam.
Quando eles se revoltavam
Para os quilombos fugiam
Mas algozes capatazes
Num instante lhes seguiam
E a brisa da liberdade
Por pouco tempo sentiam.
Todo o trabalho faziam
Na mais triste exploração
Lhes eram negadas chances,
Padeciam feito cão,
E o chicote deixou marcas
No corpo e no coração.
Porém na nossa nação
Tem a data registrada
No dia 13 de Maio
Foi a Lei Áurea assinada
Libertando no papel
Essa gente escravizada.
Entretanto, não fez nada
Do que o papel propala,
Só mudaram de cenários,
De chicote para bala,
E hoje mora na favela
Quem morava na senzala.
Está o negro sem fala
Padecendo cruelmente
Quem diz que não racismo
No Brasil atualmente
Não mostra um negro que seja
Cardeal nem presidente.
 
Escravidão é presente
Não é mancha do passado
O racismo ainda impera
E é o negro explorado
A Justiça não é cega
Mas tem o olho vendado.
O negro é discriminado
Na tradição e na fé
O cristão rejeita os mitos
Da umbanda e candomblé
E diz que a crença do negro
Coisa do Diabo é.
Tem um negro igual Pelé,
Rei dos Campos, que controla.
Porque pra branco racista
O negro só desenrola
Correndo de um lado a outro
Como jogador de bola.
O negro que se atola
Nessa terra brasileira
Se é mulher, dizem que serve
Pra ser uma cozinheira,
E homem, pra ser pagodeiro
Ou pra jogar capoeira.
Padecendo na fileira
Dos menos favorecidos,
Os negros não são trocados,
Nem comprados e vendidos,
Mas sofrem do mesmo tanto
E ninguém ouve seus gemidos.
 
Muitos estão esquecidos
De não julgar pela cor,
De não tratar o seu próximo
Como ser inferior,
E de plantar no coração
Uma semente de amor.
Lá em São Paulo quem for
Recorda o caso da Zara
Uma empresa escravocrata
Que a mídia não escancara
Pois onde sobra jabá
Falta vergonha na cara.
No Maranhão se depara
Gilson Freire de Santana,
(De Açailândia foi prefeito),
Criatura desumana,
Tinha quase vinte escravos
Na sua terra tirana.
A nossa nação se irmana
Na lembrança tristemente
Na Fazenda Caraiba
Em um passado recente
Foi denunciado um caso
De escravidão cruelmente.
Ali naquele ambiente
Não praticavam ações boas,
No Estado Maranhão
Com maltratos e achoas
Foi mostrada a exploração
De 53 pessoas.
Ameaças e achoas,
Existiam no ambiente,
O MP bateu forte
O juiz tomou a frente
E Inocêncio Oliveira
Nada possui de inocente.
 
No Pernambuco da gente
Houve um fato nada bom
Trabalho escravo inconteste
(Ficou abafado o som),
Cabo de Santo Agostinho,
Metalúrgica Tecalmon.
 
Precisa mudar o tom
Dessa inércia que ainda há
Mobilizar as pessoas
Pra não ficar como está,
Gritemos, pois, em uníssono,
“Fim da Escravidão já!”
Jénerson Alves
Atendendo a pedido de minha amiga Ennek

Comentários