Conversa com o filho de C. S. Lewis

C. S. Lewis é um daqueles nomes que dispensam apresentações. Um dos mais celebrados escritores cristãos de todos os tempos, Lewis se tornou conhecido mundialmente através de sua coleção de livros infanto-juvenis “As Crônicas de Narnia”.

C. S. Lewis, de origem irlandesa, foi um renomado professor da Universidade de Oxford que de ateu, se converteu ao cristianismo a partir de sua amizade com o igualmente famoso escritor J. R. R. Tolkien, da série “O Senhor dos Anéis”. Depois de sua conversão, Lewis se dedicou a divulgar sua fé através de livros e ensaios, e em particular os livros infanto-juvenis que tanta fama lhe trouxeram.

Lewis foi um solteirão convicto durante a maior parte de sua vida, mas quando estava com quase 60 anos casou-se com Joy Gresham, uma americana judia, que havia sido casada previamente com o escritor Americano William Gresham. O romance tardio de Lewis e Joy é uma historia belíssima e pode ser visto no filme “Shadowlands” (1993) com Anthony Hopkins e Debra Winger. Joy Gresham tinha dois filhos quando conheceu C. S. Lewis, com que se correspondeu por vários anos antes de conhecer pessoalmente. Após a morte de Joy, apenas 4 anos após o casamento por conta de um câncer, Lewis adotou os dois garotos e deixou para eles toda a sua herança e direitos autorais. Um deles, Douglas Gresham, se tornou também um escritor e produtor cinematográfico, inclusive ajudando a produzir os filmes da serie “Narnia”. Douglas esteve essa semana aqui na Liberty University e passou alguns dias falando para os alunos e fazendo palestras para os grupos de teatro da universidade. Na quarta-feira, os professores tiveram um encontro bem agradável e informal com Douglas onde ele respondeu perguntas sobre se pai adotivo, a amizade com Tolkien e os recentes filmes baseados na obra de Lewis.
Douglas, que na verdade é americano, mas foi criado na Inglaterra e depois morou vários anos na Austrália, chegou vestindo uma roupa de cavaleiro, com botas cano longo e uma cruz enorme pendurada no pescoço. Parecia quase que um dos personagens dos livros de C. S. Lewis. E na verdade até agora não entendi direito a razão de sua indumentária. Mas, após o choque inicial , notamos que a conversa iria fluir tranquila e informal. Douglas é bastante animado e divertidíssimo. Por ter morado em tantos lugares diferentes, ficava às vezes difícil para mim, entender seu sotaque; por isso acho que perdi algumas de suas “tiradas” engraçadas, mas o público em geral riu bastante o tempo todo e participou animadamente das perguntas e respostas.

Douglas falou sobre sua relação com C. S. Lewis e fez questão de deixar claro sua admiração e amor pelo pai adotivo. Lewis ao contrário da caracterização de Hopkins no filme “Shadowlands”, era bastante brincalhão e afável. Douglas lembrou com muito carinho dos mementos que passou com ele e lembrou de vários episódios engraçados, mostrando que Lewis era bem mais aberto e divertido do que se imagina. Sobre a amizade de Lewis e Tolkien, Douglas disse que os dois passavam muito tempo em conversas e debates . Por isso, ficaria difícil fazer um filme sobre o relacionamento dos dois, algo que já foi considerado no passado. Também comentou que Tolkien ficou meio decepcionado quando Lewis , depois de sua conversão, se tornou um protestante e não um católico, como Tolkien queria.

Perguntado sobre se ficou satisfeito com o resultado dos filmes da serie “As Crônicas de Narnia”, ele disse que certamente existem alguns problemas, mas que a mensagem principal se manteve preservada em sua maior parte. Douglas falou um pouco sobre a produção mais recente e disse ter ficado bastante satisfeito com o resultado, particularmente com o final. Ao ser questionado sobre produções evangélicas, Douglas disse algo bem interessante. Em suas palavras, afirmou que quem assiste a filmes evangélicos é quase que exclusivamente o próprio público evangélico; algo como chover no molhado. O que os produtores evangélicos deveriam fazer é produzir bons filmes, de qualidade elevada e sem ter necessariamente uma temática evangelística. Segundo ele, essa seria uma forma mais efetiva de influenciar tanto o meio artístico quanto o publico em geral.
Diante de uma pergunta sobre o uso de magia e mitologia nos livros de C. S. Lewis, Douglas falou que não há nada o que temer sobre magia; nunca na historia da humanidade alguma catástrofe foi associada diretamente à magia. Em contrapartida, deveriamos ter medo é da ciência, já que a mesma é responsável pelas maiores atrocidades cometidas pelo homem.

Foi certamente uma honra ter recebido alguém que conviveu tão intimamente com C. S. Lewis; Douglas ainda hoje cuida com grande carinho do legado de seu pai adotivo e acompanha de perto todas as produções envolvendo sua obra. Durante seu tempo na Liberty University, ele fez questão de interagir diretamente com os alunos e compartilhar sua experiência pessoal de forma generosa e aberta. Só não entendi mesmo aquele negócio de sair andando de botas de cavaleiro pra cima e pra baixo.
Leon Neto
Folha Gospel

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